sexta-feira, 23 de setembro de 2011

festival da canção - Hélio Crisanto


FESTIVAL DA CANÇÃO
Mais uma vez o poeta Hélio Crisanto e Camilo Henrique irão representar a cidade de Santa Cruz no 3º FESTCAP – Festival da Canção e da Cultura potiguar, na categoria geral, o evento tem a organização da Assembléia legislativa do RN.Três cidades sediarão as fases eliminatórias: João Câmara, Assú, e Macaiba, e a grande final será realizada na capital do estado no dia 11 de Novembro de 2011. A Canção “Estradeiro” que tem letra de Hélio, e que foi musicada por Zeca Brasil e Camilo Henrique irá concorrer na etapa de Macaiba no dia 21 de outubro  no largo da prefeitura a partir das  20:00h.
Confira a premiação:
1º Colocado: R$ 4.000,00
2º colocado: R$ 3.000,00
3º Colocado: R$ 2.000,00
Melhor Intérprete: R$ 2.000,00


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A CAIPORA - Aldenir Dantas



Cumade Fulôzinha:
Naqueles tempos idos
naquelas noites calmas
no sítio do meu avô
sempre a ouvia assobiar.

Pensava nos seus cabelos longos
na sua pele morena
estatura mediana
dentes de marfim.

Pensava na sua solidão naquelas noites frias.
Pensava na nossa solidão naquele agreste ermo.

Se não tivesse, ela, o mau hábito de fumar cigarro de palha
e não surrasse frequentemente o meu cachorro,
teria sido a minha primeira paixão.

Aldenir Dantas

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DE VOLTA AO DIREITO NATURAL - Marcelo Pinheiro




O homem ainda andava errante, como nômade, pelas
cavernas do mundo quando teve o primeiro vislumbre do direito
natural, um direito regido por leis não escritas que transcendem
o espaço e o tempo. Foi ele, por milênios a fio, que ensinou aos
primeiros humanos a noção de preservação da vida, da liberdade, da
honra, da dignidade da pessoa humana e de tantos outros valores
que a contemporaneidade parece estar se esquecendo.

É paradoxal perceber que quanto mais a sociedade evoluiu
ao longo dos séculos, passando pela codificação desse direito
instintivo, mais ele foi sistematicamente desrespeitado. Parece que
o racionalismo jurídico desenvolvido por mentes privilegiadas como
Tomás de Aquino, Thomas Hobbes, Samuel von Pufendorf, John
Locke e Jean-Jacques Rousseau não teve o poder de alcançar o
fim sublime por eles arquitetados. É que cada vez mais a coerção
imposta pelo direito dos códigos se torna inócua e ineficiente em
face da falta de moral e ética que domina o mundo hodierno. Pudera!
Como obedecer com satisfação a uma lei forjada e interpreta por um
grupo que não faz uso próprio dela? Essas leis são semelhantes a
teias de aranha que servem para enlaçar a todos, menos às aranhas
que as criaram. Elas, as aranhas, possuem o grande segredo da
fórmula da teia e jamais poderiam ser vítimas de seu invento. A
que nome se daria a isto senão imunidade? Às palavras do apóstolo
Paulo “a letra (da lei) mata...” eu acrescentaria: “...os que não têm
imunidade.”

É certo que as relações humanas na sociedade cresceram
e se tornaram muito complexas para serem regidas apenas pelo
direito natural. Porém, uma coisa não se pode ignorar: as virtudes do
caráter é algo que não se pode conseguir somente com a imposição
do castigo como pena à transgressão. Será necessário um retorno às
origens, ao senso natural de justiça colocado em cada ser humano
pela própria natureza. O direito natural, para quem ainda não o
compreendeu, é algo que se aproxima daquilo que todas as grandes
religiões ensinam de mais sagrado e puro. No cristianismo, por
exemplo, “amar o próximo como a si mesmo” é uma expressão ímpar
do direito natural. O problema é que até lá se esquecem dele.

Marcelo Pinheiro.

MIRAGEM (Edgar Santos)




O mesmo pólen
O mesmo néctar
A mesma flor.

O mesmo sonho
A mesma bruma
A mesma dor

Aquele mesmo tempo,
Aquele mesmo vento,
Lamentos e sentimentos,
Foi o que restou...

O mesmo limbo,
O mesmo ápice,
Aquela mesma folha que te cobriu
E te encantou...

Tu'alma insana...
Feito folíolos,
Faminta de amor.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

ANSIEDADE (José Letácio Pereira)




Anseio ver-te musa querida e desnuda,
Anseio ver-te para mim sorrindo,
Anseio que nunca seja para mim muda,
Anseio ver este teu corpo sempre lindo

Anseio que ao poeta triste não iluda,
Anseio que não estejas de mim partindo,
Anseio que o dilema do poeta acuda,
Anseio que este dilema seja infindo!

Oh! guarda minh'alma em tua glória sã
Livra-me ainda do tremendo afã,
No pantheon, em tua celeste plaga!

És sim a musa santa de todos os poetas
És a inspiração de todos os profetas,
Essa grande ansiedade que ainda vaga!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ENTREVISTA SOBRE EDUCAÇÃO

GILBERTO: Professor Ivanilson, inicialmente fale-nos sobre sua formação e pensamentos gerais sobre a educação.

IVANILSON: Sou pedagogo, pós graduando em Psicopedagogia, tecnologias e Educação a Distância. Trabalho como professor contratado da Prefeitura Municipal de Santa Cruz e professor do Núcleo de Ensino à Criança – NEC. Em ambas as escolas atuo como educador alfabetizador do 1º ano. Sou extremamente apaixonado pelo que acredito e faço no campo educacional.

GILBERTO: Ah, legal. Difícil tarefa.

IVANILSON: Realmente é muito difícil, mas sou idealista nato e acredito que a realidade brasileira só poderá mudar através da Educação.

GILBERTO: Ensino a partir do 7º ano e me espanto com alunos que chegam mal alfabetizados. Desconhecem o básico.

IVANILSON: É verdade, infelizmente isso é muito recorrente em escolas de todo o nosso país.

GILBERTO: Há algum segredo na alfabetização? Alguma regra infalível?

IVANILSON: Não existe uma receita infalível, tampouco segredo. Existem caminhos que podem ser seguidos. Até porque, ninguém aprende igual ao outro, nos somos seres únicos, ímpares. Para ser um bom alfabetizador o educador precisa, além de se identificar e gostar do que faz, ser capacitado continuamente.

GILBERTO: Interessante... então a qualidade do trabalho oferecido é que deixa a desejar?

IVANILSON: Nem sempre. São muitos os aspectos que podem interferir na aprendizagem da criança, desde problemas de organização familiar a distúrbios e transtornos de aprendizagem, estes de origem orgânica. O que contribui para o sucesso do aluno na escola dentre outras coisas, segundo pesquisas já realizadas: participação da família na escola, regras claras e professores capacitados e formados continuamente.

GILBERTO: Certo. E quanto à metodologia de ensino? Pergunto, assim, porque vejo muitas vezes, que para muitos críticos do sistema tudo parece reduzir-se à questão metodológica.

IVANILSON: Eu acredito que os métodos de ensino na alfabetização são importantes, o professor pode aproveitar o melhor de cada um, atentando para a real necessidade de seus educandos, tentando várias estratégias para que, efetivamente, haja a alfabetização completa da criança. Atualmente nós, alfabetizadores, trabalhamos na perspectiva da alfabetização interligada com o processo de letramento. O método, por si só, não garante a alfabetização da criança, mas as estratégias de ação que o educador utiliza para esse fim.

GILBERTO: Seu método de ensino tem algo a ver com o método silábico?

IVANILSON: Sim, nós alfabetizadores utilizamos muito esse método. Eu já trabalhei com vários métodos e posso garantir: o que faz a diferença é a forma como estes são trabalhados. Muita gente confunde o método silábico com o construtivismo, mas na verdade o construtivismo é uma forma de trabalho. Não existe método construtivista, existe a ideologia trabalhada desse conceito.

GILBERTO: Há algo do método Paulo Freire utilizável no ensino a crianças?

IVANILSON: Sim, em certas ocasiões utilizo o método global, até mesmo para que haja uma compreensão maior por parte dos meus alunos. Mas, não o utilizo como regra, como linha. "Quem anda em linha é trem". As metodologias devem ser variadas, principalmente
no período de alfabetização da criança. Jogos educativos, vídeos, slides, livros, dentre outros são fundamentais. Sempre associando o processo de aprender ao lúdico, ao divertido. O aprender brincando. Atualmente a escola pública possui muito mais recursos, didáticos, pedagógicos e financeiros, do que muitas escolas particulares. Trabalho com as duas realidades, tanto pública quanto particular e conheço as realidades de cada uma. Nas escolas municipais os professores têm uma gama de recursos pedagógicos disponíveis, mas muitas vezes não os utilizam, sem contar nos diversos cursos e formações que são oferecidas pelas secretarias. Acredito que o comprometimento profissional é essencial. As  mudanças na Educaçãobrasileira só acontecerão, efetivamente, se os professores se dispuseram a mudar. E claro, com a valorização desse profissional, fundamental e imprescindível para a formação da sociedade.

GILBERTO: Parece-lhe normal, para um determinado percentual de alunos, o chegar a séries subsequentes sem o devido aprendizado da leitura e da escrita? É favorável à progressão continuada?

IVANILSON: Não é normal, de forma alguma. É fundamental que essas dificuldades sejam sanadas o quanto antes, para não haver prejuizo para esse aluno. Sou favorável a progressão continuada sim. Não há razão em punir a criança porque ela não aprendeu. O período de alfabetização está também relacionado ao período de desenvolvimento da criança. Umas desenvolvem as habilidades de leitura e escrita muito cedo, enquanto outras demoram mais. Mas, a criança não deve ser punida com reprovação, isso até o 3º ano do fundamental I. Se a criança não foi alfabetizada nesse período, podemos elencar duas causas: incompetência da escola ou algum problema orgânico, que, infelizmente, são muito frequentes nas nossas crianças. Se a criança chegar aos 10 anos e não estiver alfabetizada é fundamental que a família procure um especialista, urgentemente.

GILBERTO: Pergunto isso porque parece haver uma crença, supostamente embasada em descobertas científicas, de que o despertar para a leitura e a escrita varie de indivíduo para indivíduo, podendo, alguns, carecerem de vários anos para o devido amadurecimento. Que pensa sobre isso?

IVANILSON: Como já enfatizei, o normal é que a criança seja alfabetizada, no máximo, até os 10 anos de idade, até porque, intelecto e psicologicamente esse é o período “normal” de desenvolvimento. Se isso não ocorrer é fundamental a ajuda de um especialista, seja psicopedagogo ou psicólogo, pois essa dificuldade pode ser acarretada por algum problema de origem orgânica.

GILBERTO: Durante um tempo, Emília Ferreiro foi muito requisitada no que concerne a métodos de aprendizagem. Atualmente, ela permanece sendo bem vista no meio acadêmico?

IVANILSON: Sim, Emilía Ferreiro é um dos ícones da Educação, não só na América Latina, como também em todo mundo. Ela é uma referência no nosso meio. Eu, particularmente, gosto muito das ideias dela, pois ela revolucionou a compreensão que se tinha sobre a alfabetização, especialmente quando disse que a criança pode ser alfabetizada sozinha.

GILBERTO: Que sabe e pensa sobre a filosofia que rege a Escola da Ponte, do educador José Pacheco?

IVANILSON: A Escola da Ponte é um referencial no mundo inteiro, isso porque desenvolve uma metodologia totalmente distinta das nossas escolas brasileiras. Como enfatiza Rubem Alves, a Escola da Ponte é totalmente diferente do conceito que temos sobre escola. Primeiro porque não há divisão de séries, anos, ciclos, todos os alunos estão pesquisando, aprendendo, se divertindo juntos. Não existe a sala de aula convencional, como a que temos atualmente, o espaço parece mais uma grande oficina, onde os alunos escolhem o que querem estudar. Na Escola da Ponte não existem horários, não existe o sinal para terminar e iniciar outra aula. Tenho um grande desejo de conhecer a Escola da Ponte, e acredito que conhecerei um dia, pois como escutei Rubem Alves dizer: só podemos entender o que é a Escola da Ponte quando a vemos. Quem quiser conhecer mais de perto essa escola, eu indico um livro maravilhoso do Rubem chamado: A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir.

CAPA DO LIVRO DO PROFESSOR IVANILSON

GILBERTO: Fale-nos de seu livro e o que pretende com ele.

IVANILSON: Meu livro, “Novas Tecnologias: desafios e perspectivas na Educação”, é uma produção destinada a professores, mas a pais também, pois trata de diversas questões relacionadas à educação dos filhos. É uma obra que pretende oferecer subsídios para a inserção das novas tecnologias na escola, especificamente na sala de aula. Pretende-se mudar a concepção errônea que alguns, a maioria, dos professores têm sobre as novas tecnologias. O objetivo maior do livro é contribuir para a mudança da Educação, mesmo que de forma indireta, no nosso Município, Estado e País.

GILBERTO: A maior parte dos educadores com quem convivo mostra- se extremamente desmotivada. Os baixos salários, o descumprimento de direitos básicos e a própria atitude dos alunos em sala de aula os fazem descrentes quanto a mudanças radicais. Que pensa a respeito e que conselhos daria a tais educadores? O que alimenta o seu idealismo?

IVANILSON: Primeiramente enfatizo que mudanças radicais não acontecem na Educação, tudo é a médio ou longo prazo. Eu, particularmente, acredito na mudança da Educação, isso já está acontecendo é só se fazer uma análise, por exemplo, da Educação de dez anos atrás e a Educação de hoje. Claro que está acontecendo uma transformação paulatina, mas devemos acreditar na mudança, caso contrário, nosso trabalho ficará muito difícil. Infelizmente ainda existem muitas “pragas” na Educação, professores, e não educadores, que estão numa sala de aula apenas para ganhar dinheiro e passar o tempo, nessas pessoas não existe amor pela profissão, apenas o desejo de levar vantagem em tudo. Essas “pragas” chamam seus alunos de palavras incabíveis a um verdadeiro educador. Claro que ainda existe muita desvalorização da profissão, salários indignos e muitas vezes condições físicas muito precárias de escolas, mas nem isso tudo pode ser pretexto para um professor não dá sua melhor aula. Ora, a pesar de tudo, precisamos ter amor pelo que nós fazemos. Nós não estamos domesticando, como já ouvi professor falar, estamos formando pessoas. O que alimenta meu idealismo, caro Gilberto, é a consciência de estar fazendo a minha parte para a mudança da nossa Educação, claro que os idealistas são chamados de loucos, tolos e outros adjetivos, mas estou certo, convicto de minha missão. Compartilho com vocês uma
analogia, que muitos já devem conhecer, sobre o idealismo que nutro: um dia, numa grande floresta, começou um incêndio catastrófico. Os animais corriam, voavam, nadavam, tentando escapar daquele terrível incêndio. Enquanto os animais fugiam, percebeu-se que um beija-flor fazia, repetidamente, um caminho inverso, ele enchia o seu pequeno bico de água, num lago próximo e despejava sobre as chamas. Os animais caçoando do beija-flor disseram-no:

- deixas de ser tolo, não estás vendo que não apagarás esse enorme incêndio?

O beija-flor disse:

Eu sei que não conseguirei apagá-lo sozinho, mas estou fazendo a minha parte.


GILBERTO: Muitos "educadores" olham com saudosismo para o tempo da palmatória e dizem que hoje não se aprende nada. Acham que a internet, devido o copy paste, atrapalha, que o uso dessas tecnologias são dispensáveis. Quadro, giz e disciplina seriam suficientes. Acha você que o internetês atrapalha a escrita? É a favor de censura na escola para determinados espaços virtuais (Facebook, Orkut, MSN)? Não poderiam estes ser poderosos aliados?

IVANILSON: Infelizmente ainda existem muitos professores (e não educadores) que têm essa mentalidade ultrapassada, parece que pararam, congelaram no tempo. São os velhos, na forma de pensar, da Educação. Eles realmente salientam que o tempo da palmatória era melhor, pois naquele tempo os professores eram os donos absolutos da verdade, não aceitavam serem contrariados, era o que Paulo Freire denominou de “educação bancária”, os alunos eram verdadeiros zumbis, passivos na aprendizagem.
Atualmente esse método seria inconcebível, isso porque os tempos mudaram, as pessoas mudaram, evoluiram, a Sociedade da Informação está aí, sedenta por inovação. É uma tolice pensar que os alunos vão ficar quietos, passivos, apenas recebendo informações prontas do professor na sala de aula. Atualmente nossos alunos não querem obter informações, porque isso ele tem acesso no computador, celular, televisão, etc. o que o aluno quer é esse conhecimento sistematizado, de forma que essa informação se transforme em aprendizagem. E se hoje eles acham que os alunos não aprendem NADA a culpa não é do aluno, a culpa é do próprio professor, que não procura uma forma nova de dar a sua aula, é a monotonia cotidiana da lousa e do lápis (não vou nem citar o giz).
A geração Y e Z são ecléticas, não se contentam com atividades desestimulantes e desprovidas de desafios. O professor do século XXI é um ser dotado de inovação e “antenado” com a realidade do aluno. Se esses professores retrógrados não mudarem, correrão o risco de ficarem sozinhos nas suas salas de aulas, dando aulas para as paredes. A internet não atrapalha o aprender, é uma bobagem pensar assim, pelo contrário, a internet é uma ferramenta poderosíssima que pode ampliar as visões que os educandos têm do mundo. Agora, é claro que ela precisa ser utilizada de forma crítica, pois algumas coisas são descartáveis e inúteis. Esse recurso pode ser muito rico, quanto ao copiar e colar isso é apenas um detalhe de metodologia, o professor precisa ser criativo e propor atividades que exijam, por exemplo, a opinião do aluno. A linguagem é dinâmica, sempre está se modificando, é bobagem pensar numa forma correta de se comunicar. Acredito que o internetês não atrapalha na escrita, desde que isso seja trabalhado com o aluno. É fundamental que a escola ensine a norma padrão da língua e saliente que o uso do internetês é válido em conversas informais, como nos bate-papos, por exemplo. Até porque nós mesmos, educadores, utilizamos esse tipo de linguagem, por assim dizer, no nosso dia-a-dia, seja nas redes sociais, bate-papos e SMS, todavia isso não interfere na nossa escrita formal. A utilização das redes sociais, blogs, chats e tanto outros recursos podem e devem ser utilizados na escola, desde que estas possuam um trabalho planejado e sistematizado com esses recursos. Em suma, alguns professores rejeitam as novas tecnologias apenas por medo do novo, são acomodados e não procuram inovar nas suas aulas, tais pessoas estão fadadas ao fracasso profissional, por isso que vemos tantas pessoas doentes na Educação, os alunos ficam inquietos, não porque não querem aprender, mas porque as aulas são incompatíveis com as realidades que eles vivem. Se os jesuítas pudessem visitar algumas escolas brasileiras, não se assustariam com as mudanças metodológicas, se sentiriam nas suas salas de aula do século XVII. Corroboro com as opiniões dos mais importantes educadores do nosso país e com as pesquisas científicas mais recentes, os alunos da atualidade são totalmente distintos dos alunos de outrora, pois houve uma evolução na mentalidade e no comportamento destes e da sociedade em que estão inseridos. Segundo pesquisas realizadas, uma criança de 3 anos de idade hoje tem o mesmo aprendizado de uma criança de 7 anos à 50 anos atrás. Então, é estupidez querer comparar nossas crianças às de outrora.

GILBERTO: Para que haja um efetivo aprendizado da língua, o que se deve priorizar: leitura ou estudo da gramática?

IVANILSON: A prioridade dever ser sempre a leitura. O estudo da gramática é muito importante, mas sem a prática da leitura torna-se vã. Quando se lê nosso cérebro cria padrões de leituras, que se acomodam e, com a prática, detecta automaticamente o que é correto aos padrões da nossa língua. Eu acredito que os dois se complementam, entretanto, a leitura é mais importante que o estudo exacerbado da gramática.

GILBERTO: Fale-nos mais um pouco sobre seu livro e dirija-nos suas palavras finais, deixando um texto para nossa reflexão.

IVANILSON: Bem, primeiramente quero agradecer o espaço que o amigo Gilberto me cedeu. Quero dizer que foi uma honra explanar um pouco do meu pensamento sobre a Educação, assunto que eu tanto amo e admiro. Sinto-me honrado em ser membro da APOESC e poder compartilhar um pouco com os leitores sobre a minha vida e as minhas aspirações. Retomando ao assunto do meu livro, o mesmo constitui-se de experiências, vivências e estudos durante os quase 4 anos da minha graduação. É uma obra que reuni os mais importantes teóricos da Educação, no que se refere a inserção das novas tecnologias no campo educacional. Tive o prazer de ter meu sumário escrito por um dos maiores especialistas do Brasil na área das novas tecnologias aplicadas aos processos educacionais, o João Mattar. A obra é muito rica, trata de várias questões relacionadas ao uso de tecnologias na prática pedagógica do professor, dentre outros assuntos. O pré-lançamento, só para convidados, está previsto para o dia 30 de setembro. Logo após estão previstos diversos lançamentos para o público em geral.

Concluo essa singela entrevista, pedindo desculpas se não corroborei com o pensamento de alguém, mas essa é a minha visão sobre a Educação. Não fiz uso de uma linguagem complicada, pois acredito que a objetividade é mais interessante do que os vocábulos difíceis. Nós educadores temos o poder de mudar o mundo, de torná-lo melhor. Ser idealista não é viver num mundo de fantasia, é tornar essa fantasia realidade. Ser educador não é tarefa fácil, nos angustiamos, sofremos, choramos, mas o que nos torna vivos é a certeza de estar colaborando para um mundo melhor, uma sociedade mais justa. Nossa função, como pedagogos e educadores, é desenvolver a melhor forma de ensino-aprendizagem. Uma nova forma de ensinar e de aprender, onde se valoriza o ser humano, sua relação com o mundo na sua integralidade. Nós, nesse novo papel, somos facilitadores, mediadores e colaboradores nesse processo. Como enfatiza Paulo Freire “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Não dispomos de todo o conhecimento terrestre, mas instigamos nossos educandos a obtê-lo. Nossa relação com os nossos aprendizes é semelhante ao lapidador: somos lapidadores de pedras preciosas, outrora adormecidas, à espera de toques mágicos e providos de saberes distintos, mas uma vez lapidadas, renascem em pedras preciosíssimas e de estimado valor.

Agradeço mais uma vez pelo espaço cedido e convido a todos os leitores, que quiserem conhecer mais o meu trabalho, a acessarem meu blog: www.ivanilson.com.


SAUDADE (José Antonio de Melo)



Na saudade se vê mais de um valor
No carinho, na dor, no sofrimento,
A saudade no jardim é uma flor
No coração de quem ama é um tormento

A saudade é a planta do amor
Seu perfume é jogado pelo vento
Pra quem ama a saudade é uma dor
De ciúme, tristeza e desalento

A saudade é uma flor tão excelente
No amor a saudade esta presente
Na palavra sincera da verdade

Que até deixa um coração doente
Tenha amor, queira bem e viva ausente
Pra saber quanto dói uma saudade

domingo, 18 de setembro de 2011

MUDANÇAS NO BLOG DA APOESC

As mudanças promovidas no visual do blog devem-se à ajuda de Ivanilson. Queríamos tais colunas ao lado mas não sabíamos como fazê-lo. Ele dispôs-se a ajudar-nos.
Queremos, pois, que os  leitores - razão de ser desse blog - opinem a respeito das transformações feitas no visual e na disposição dos itens.

UM POETA ULTRA-ROMÂNTICO - por Nailson Costa

Os anos 70 testemunharam ainda poetas, como Márcio Marques, filho de Cosme
Marques, que nada devia a seu pai, quando se tratava de poesias, músicas e crônicas. Dele,
diz-se que, quando exagerava na bebida, pegava o seu violão e dirigia-se ao cemitério local,
onde, na cova de seu inesquecível pai, dedicava-lhe suas mais belas canções, versos e
crônicas. Segundo sua irmã, Maria do Rosário, Lalo, “o show juntava algumas dezenas de
curiosos e só terminava quando, tarde da noite, o coveiro nos comunicava o fato. Com muita
luta, nós o rebocávamos para casa”.
José Márcio Marques, que nascera no dia 2 de janeiro de 1950, era um poeta ao estilo
de Álvares de Azevedo. Sua angústia, seu pessimismo em função da realidade de injustiças
sociais, bem como o vazio que sentia de um amor verdadeiro aproximam esse poeta dos ultra-românticos da segunda geração do Romantismo. Lord Byron, Alfred Musset e Álvares de
Azevedo exerceram, sem dúvida nenhuma, influência não só no eu-lírico deste jovem poeta,
como também em suas atitudes. Marques cantou o silêncio, a noite, a indiferença, a
melancolia, a morte. A evasão, a egótica, o spleen, o erótico caracterizam sua obra. Aliás,
Marques, assim como Álvares de Azevedo morreu muito jovem. Ele, como muitos poetas
ultra-românticos, evadiram-se, não só nas suas obras, como também no seu tempo e espaço
reais. Suicidara-se o poeta, no dia 23 de agosto de 1980, fazendo da morte a saída para as
crises de depressão de que muito constantemente era acometido. Os poetas ultra-românticos
vêem nessa atitude radical o único momento de paz. É de Márcio Marques:

Silêncio, espera

Noite tristonha dos beirais do rio.
Rio meu pranto-descanto. Alheia
Alma penada mística se enleia
Noutros fantasmas comungando o frio.
Mágoa teórica, trêmula vagueia
Teia sensível em que me contrario.
Pio gemido temeroso e esguio
Do meu desgosto, fina-se na areia
Palavras que se vão nas reticências
Marcadas, ressentidas das ausências.
Desesperanças que maltratam mais;
Incertezas da espera, a estrela apagada
Só silêncio, só eu à procura de nada
Na estrada infinita da noite em que vais.


Encontro
Foi seu olhar sereno
Que abriu o meu espírito
E o meu corpo
Para outros anseios;
Foi seu primeiro beijo,
O mais ameno,
Que fez luzir na noite dos meus olhos
A primeira,
A maior,
A grande esperança.
Querida,
Minha doce querida,
Ao enlevo do seu abraço de fada
Eu quero sentir
Todas as sensações desejadas
E reprimidas no meu medo.
Ah! Mas você for somente
Um momento breve,
Um sonho fugidio,
Perdure em minha emoção
Criança
Tempo e vida e amor
Sentidos
Antes do nada
Antes do desencontro

Pégaso

Pégaso do meu ocaso
Leva-me
Por entre as estrelas da noite
Do infinito,
Onde o amor não seja
Uma mentira,
Onde os sorrisos sejam abertos
E sinceros,
Onde as mãos se apertem
Sem nojo,
Onde a caridade existe
Sem egoísmo;
Lá onde os homens são realmente
Humanos
Leva-me ao cair da tarde
No aconchego das tuas asas


Muitos outros artistas literários com suas emoções, que só a arte das palavras sabe
traduzir, perderam-se no tempo, foram sepultados no túmulo do esquecimento. Só nos resta
dizer que eles existiram, e, mesmo que nesta pesquisa não constem, escreveram o seu
passado, viveram o seu presente, inspiraram o seu futuro e tornaram-se, como os aqui citados,
em UM PRESENTE DO PASSADO.


Extraído do livro LITERATURA SANTACRUZENSE, da autoria de Nailson Costa.


sábado, 17 de setembro de 2011

ENTREVISTA SOBRE COSME F. MARQUES com Dr José Mário

GILBERTO: Caro José Mário: Peço-lhe, por obséquio, que inicie essa entrevista com uma breve apresentação. Fale-nos de sua formação, filiação e família.
JOSÉ MÁRIO: Sou advogado, formado pelo antiga Faculdade de Direito da UFRN, onde concluí o curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais - Turma de 1971. Atualmente estou vinculado à Procuradoria Geral Federal, órgão que integra a estrutura da Advocacia Geral da União, ocupando o cargo de Procurador Federal, para o qual fui nomeado em 2001, após aprovação em concurso público prestado em Recife-PE, onde inicialmente fui lotado, encontrando-me hoje em Natal.
Sou filho de Cosme Ferreira Marques e Maria Pia Marques, casados em 1933, juntamente com mais 5 irmãos e 6 irmãs, nascidos entre agosto de 1939 e abril de 1959. Conheci e convivi com meus avós paternos (José Maria Marques, comerciário, e Isabel Oscarlina (dos Santos) Marques, professora),`ambos à época aposentados, e avós maternos (Mariano Araújo Barros e Serafina Maria da Conceição, agricultores no Sítio Riacho do Feijão, herdado de meu bisavô materno).
Meu avô paterno era natural de Bananeiras, filho de João Marques Ferreira, proprietário de antigo engenho de cana de açúcar que existia onde hoje é o campus da UFPB (antiga escola de Agronomia), naquela cidade. Ele com sua esposa e filhos, mudou-se para Santa Cruz em 1912, quando meu pai tinha 3 anos de idade, tendo em vista que minha avó aceitou vir trabalhar como primeira professora primária formada, tendo ela aqui desarnado várias gerações de santacruzenses, em sua escolinha pública que funcionou na Rua Elói de Souza, no primeiro quarteirão entre a Av. Rio Branco e a Praça Ezequiel Mergelino, em um antigo armazém que, coincidentemente pertencia ou pertencera a a meu bisavô materno, Manuel da Costa Palma, proprietário da fazenda Várzea Grande, no Vale do Trairi.
GILBERTO: Até que idade conviveu com seu pai Cosme Ferreira Marques? Vocês eram muito presentes na vida um do outro ou se mantinham meio que à distância?
JOSÉ MÁRIO: Convivi com meu pai desde meu nascimento em 1946, até seu falecimento em junho de 1959, sendo que, nesse ano, estava estudando em Caicó.
A convivência de meu pai com os filhos ocorria principalmente na primeira infância, quando ele, pela manhã, antes de se dirigir cedinho ao trabalho, se desvelava em dar toda a atenção ao pimpolho, ante os olhares curiosos dos irmãos menores, que também foram educados a tratarem os novinhos com todo o carinho e atenção.
(Criança nova em casa era período de festa. Começava com os preparativos para o "resguardo", durante o qual mamãe ficava absolutamente recolhida em seu quarto com o neném, amamentando-o e alimentando-se de comidas escolhidas, "não carregadas", no jargão da época, para não ocorrer qualquer complicação pós-parto. A essa altura, o recém-nascido passava a ocupar o leito do casal, com mais algum outro rebento nascido no ano anterior (aconteceu com frequência), enquanto outro um pouco mais velho era "instruído" a não mais escapulir para "o quarto de mamãe" - o que era também frequente -, por que havia criança nova e poderia ser machucada pelo intruso.)
Meu pai passava o dia no trabalho e somente o víamos nos horários de almoço e jantar, quando se sentava à cabeceira da mesa (imensa mesa que depois soube tinha sido "herdada" da escola da minha avó, quando ela se aposentou), e era cerimoniosamente servido por mamãe, em primeiro lugar, passando em seguida a servir os filhos mais novos, por ordem de idade, todos sentados em um antigo e comprido banco, que tomava toda a lateral da mesa e presumo também oriundo da mesma "herança".
Meu pai, a quem sempre vi servida uma refeição absolutamente frugal (uns dois ou três pedaços de carne cozida no feijão e farinha de mandioca, no almoço, e um prato de coalhada, com rapadura e pão, no jantar, seguidas ambas as refeições de uma generosa xícara de café, "forte de enrolar no dedo", como ele sempre gostava e pedia a mamãe, em voz forte, quando chegava em casa, eventualmente, durante o dia.
Suas refeições eram absolutamente frugais, e, até por isso, concluídas rapidamente, retirando-se em seguida, para o "batente" (Papai era o Agente de Estatística e tinha a seu cargo a Agência de Estatística do IBGE, em Santa Cruz, onde trabalhava o dia inteiro). Seu café da manhã sempre se restringia a uma simples xícara de café, das grandes, sempre muito forte. Não comia nada pela manhã.
Enquanto ele permanecia à mesa, todos os filhos ali reunidos permaneciam abolutamente silentes e respeitosos.
Após sua saída, da mesa e de volta ao trabalho, fumando um indefectível Astória - e quanto fumava! - começava a bagunça, principalmente com reclamações, ora contra a presença de um pedaço de cebola no prato, que alguns odiavam, ou de que a quantidade em seu prato havia ficado menor do que a do vizinho.
(Para mamãe isso representava uma tortura diária, pois nem sempre havia comida franca e eu vi, muitas vezes (e ainda hoje isso me revolta completamente) vê-la renunciar ao seu prato de comida em favor do reclamante, para não ficar ouvindo aquela litania. Mamãe preparava o último prato para si e este era só um pouco menos frugal do que o do meu pai, e sempre comia de pé, amassando bolinhos de feijão com a mão - pois assim é que sempre comia, com bastante farinha e uma pimentinha malagueta para temperar - mesmo sendo o feijão mulatinho, que era a regra, talvez com saudade do macaçar que raramente entrava lá em casa, pelo menos nas épocas das vacas gordas - houve também as das magras - pois ninguém gostava desse feijão. Em regra ela só comia dele, quando recebia um presente do tio Zué (Josué), ou outro irmão, que lhe trazia um cozinhado do sítio. A festa mesmo, para nós, era quando vinha um presente de espigas de milho verdinhos, para comê-las assadas, ou transformadas em deliciosa canjica ou para comê-las raladas e cozinhadas.)
Assim, até pelo grande número de filhos que tinha, meu pai se via forçado mesmo a manter uma certa distância dos filhos, o que acontecia mesmo também com mamãe, pois suas ocupações com cozinha e limpeza da casa, impedia-lhe de dedicar algum tempo aos filhos mais velhos, que ficavam cuidando os maiores dos menores, salvo quando tinha de intervir com umas boas chinelas para por ordem na bagunça após as discussões e brigas que facilmente ocorriam. Eu levei bastantes sovas, sem contar com os cascudos, tapas e safanões dos irmãos e irmãs mais velhas.
A distância também tinha o efeito de preservar a "aura" de autoridade, principalmente do pai, que era sempre convocado em situações mais graves para disciplinar os excessos e arroubos dos mais velhos que descobriam cedo como livrar-se das chineladas de mamãe, e esta perdia o controle da situação. Ao meio-dia a reclamação era feita e Papai algumas vezes aplicava umas boas "lamboradas" de cinturão, segurando o braço do incauto que se esforçava para fugir das lapadas, dadas sem dó nem piedade. E como doíam! :-)) A mim, lembro-me ter recebido de duas a três pisas, que nunca sairam de minha memória e me serviram bastante. Nunca tive raiva, nem de meu pai, nem de minha mãe, por essas sovas que foram bem aplicadas e realmente merecidas, e serviram para me por na linha, quando tive de enfrentar a barra que nos espera fora de casa.
Não havia diálogo entre mim e meu pai, mas tive a felicidade de conviver com ele sempre, logo que comecei a ficar crescido, por volta dos quatro anos de idade, pois ele me levava para o seu trabalho (acho que para facilitar a barra de mamãe, que à época tinha a seu cargo pelo menos 3 filhos pequenos), próximo da casa onde morávamos e "me entendi de gente", na rua, ao lado da Igreja Matriz, entre a casa de D. Carmen Andrade e de seu Zé Fonseca, pai adotivo de Terezinha Cury (ex-Diretora do Ginásio Normal), todos de saudosa memória.
A Agência de Estatística ficava na ruela que sai da frente da Igreja e leva até a Praça Ezequiel Mergelino, que à época era denominada de "Beco das Almas", pois por lá passavam todos os enterros em busca do velho cemitério e que à noite ficava às escuras e era percorrido em demanda da praça pelos meninos, às carreiras, com medo de assombrações. O maior terror era no meio do Beco das Almas, pois estas era cruzada por outro beco, escuro como breu e de onde acreditávamos vir a ser atacados pelos zumbis que por ali ficavam, quando os enterros passavam, sob o dobrar triste dos sinos da matriz. Mas isso é outra história - e não tão triste!
Mas lá na Agência de Estatística encontrei meu mundo, pois havia uma verdadeira biblioteca de livros os mais diversos que o IBGE editava e vários periódicos, entre os quais a revista "Sesinho" - editada pelo SESI, onde me deparei com as primeiras lições de Esperanto - mas então não as aproveitei! Quem diria, hein? Depois aprendi esse idioma, que tanto enriqueceu culturalmente a minha vida, saindo da mesmice do monoglotismo - sob os olhos compreensivos de meu pai, que me estimulava e me mostrava novidades, e até me deixava "brincar" na máquina de escrever "Underwood" da repartição, seu instrumento de trabalho, e em que, afinal, eu comecei a aprender a datilografar, sem precisar de fazer curso - que nunca fiz - de datilografia (como os tempos mudaram, agora é curso de digitalização!), fazendo os exercícios do "método de datilografia" que ele próprio me pôs à disposição, e lá se foi: asdfg asdfg asdfg asdfg etc.
GILBERTO: Conhecemos o Cosme Marques poeta e intelectual. Como era o pai Cosme Ferreira Marques? Ele tinha vícios?
JOSÉ MÁRIO: Era um pai preocupado com o futuro de seus filhos, sempre procurando incentivá-los ao estudo, pois não sendo rico e não tendo herança para deixar, como sempre ressaltava, via que cada um deveria procurar seu rumo, de acordo com as aptidões de cada um. Mas ele vibrava mesmo quando via um filho propenso aos estudos. Com que alegria ele me recebeu em seu leito de morte, apresentando-me aos amigos que lhe visitavam - e eram muitos! - com bastante orgulho, dizendo: está no seminário, estudando para ser padre! Seu maior orgulho não era ver seu filho padre - e claro que ficaria, pois era católico fervoroso, porém sem ser Carola. De fato, ele procurou de seu amigo Mons. Walfredo Gurgel (que celebrou seu casamento e esteve em Natal em 18 de dezembro de 1958, para celebrar a missa de Bodas de Prata do casamento de meu Pai (em clima de festa há apenas seis meses de sua morte, quem diria?) e dele obteve a promessa de uma bolsa de estudos para o Ginásio Diocesano, que eu, motivado pelo pré-Seminário mantido por Mons. Emerson Negreiros na Casa Paroquial, a que eu já estava vinculado, consegui transformar em minha ida para o Seminário Santo Cura d'Ars, onde estudei durante todo o ano seguinte, porém sem a bolsa - como só vim descobrir depois da morte de meu pai - tendo ele feito um esforço sobre-humano para pagar minha manutenção e preparar todo o - ainda que modesto enxoval - exigido por aquela instituição de ensino religioso.
O esforço ele fez porque sentia que eu era vocacionado para o estudo, porque alfabetizei-me pequenino, antes de ir à escola, e logo cedo, muito cedo, tornei-me um inveterado leitor e lia tudo o que me passava às mãos, lendo, às escondidas as fotonovelas da revista Capricho de minha irmã mais velha, e os livros da Biblioteca das Moças, que ela trazia da biblioteca paroquial.
Meu pai tinha muitos vícios... mas quem não os tem ou teve? Um deles, o pior segundo mamãe, era o de beber, mas sem nunca perder nem o tino - especialmente a verve do poeta e do intelectual, que ficava até mais apurada - nem o prumo, sem perder também sua extrema simplicidade e humanidade.
Mas também, pudera (!) ser responsável por uma família de 12 filhos menores, em uma cidadezinha do interior como era a Santa Cruz da minha infância (só 5.000 habitantes, hoje ela até parece metrópole!) , dependendo de um parco salário de funcionário público federal, que em regra atrasava e o no início de cada ano só começava a ser pago no mês de abril, se um cara desses não bebesse ficava louco. E sua situação ficou ainda mais difícil na segunda metade da década de 1950, quando a sociedade brasileira foi acometida do primeiro grande surto de inflação que conhecemos no pós-guerra, com o Governo de Juscelino e a criação de Brasília. Foram épocas difíceis, pois os salários permaneceram congelados durante todo o período! Foi triste!
(E Isso sentimos muito mais, após a morte de papai, quando mamãe teve de dar giros no corpo para alimentar uma família numerosa com uma pensão que correspondia a apenas 10% do que papai ganhava. Em alguns momentos sentimos a mão pesada da fome, coisa que nunca tinha havido enquanto nosso pai foi vivo. E isso se tornou mais dramático, à medida que o tempo passado e todos cresciam, o que terminou por nos decidir a nos transferir para Natal, para onde tinhamos já vindo uma irmã e eu, para darmos continuidade a nossos estudos, pois em Santa Cruz só havia o primário e o ginasial, e passamos a aqui trabalhar.)
Papai tinha outros vícios, sim. O de fumar, como já falei antes. Fumante inveterado de no mínimo uma carteira por dia. Fumar e beber, os piores, porque o fumo e o álcool, no mínimo, destroem a saúde.
(Minha mãe não reclamava do cigarro - até porque ela também fumava, se bem que às escondidas, talvez por ser cachimbo, herança de sua trisavó índia -. Ela reclamava, sim, da bebida, porque esta visivelmente estava acabando com a saúde de papai. Ela dizia que, no final, papai passava, a cada ano, 6 meses bebendo, e 6 meses de cama. Eu a ouvi dizer várias vezes: Eu preferia que Cocó (assim era de todos conhecido, Seu Cocó) tivesse uma rapariga, a que ele bebesse, pelo menos assim ele não se acabava, já que seu organismo nunca foi dos mais fortes.
(De fato, pode-se dizer que papai já nasceu doente, de parto de gêmeos, em que ele foi o rebento mais fraco. Nasceu pesando pouco mais de um quilo (1,8kg acho) e cabia numa caixa de sapato de tão pequeno, enquanto a irmã (Damiana, falecida aos 12 anos, e, daí, ele Cosme) nasceu robusta e taluda. Sinhá Antônia, a preta velha, filha de escravos, que o criou como mãe e cuidou dele desde pequena e a quem ele chamava de "mamãe" dizia que, no início, ele tinha de ser alimentado com colher de chá, pois seu estômago, de tão pequeno, quase nada cabia. Como vê, ele já nasceu frugal. Mas é aquilo que a música popular diz: "tão pequenino, tambor tão grande", ou o provérbio: "tamanho nunca foi documento!")
Mas papai tinha também vícios adoráveis, além de ser poeta. Seu vício maior era a música, seu violão. Tocava violão divinamente, solando e acompanhando as músicas que cantava tão bem, mesmo sua voz um pouco enrouquecida pelo fumo, mas que nos soava como se fosse cristalina. Meu pai, graças a esse seu vício, proporcionou-nos uma infância cheia de música quando realizava ensaios com seus amigos para alguma apresentação musical que frequentemente fazia na cidade e na Difusora Irapuru, de que foi Diretor durante vários anos, e escrevia diariamente uma crônica sobre os fatos mais recentes da vida da cidade e que era divulgada à noite, antes de ser transmitida "A Voz do Brasil".
Tocava, também, com igual maestria bandolim e cavaquinho, se bem que, em face das agruras financeiras - presumo - pouco tempo duravam esses outros instrumentos em nossa casa.
Fomos crianças privilegiadas, porque nesse tempo não havia televisão e radiolas eram coisas de ricos e estavam fora de cogitação. Mas em nossa havia diariamente música, principalmente à noite, após a ceia, meu pai ira para o jardim e nos levava a todos para ouvi-lo cantar as músicas de serestas, que ele tocava desde a juventude e seresta ainda havia.
Quando era noite de lua, ele levava colchões para o jardim e lá ficávamos até adormecer vendo a lua subir até o zênite, ouvindo todas as músicas do cancioneiro brasileiro, que nos embalavam o sono e ali normalmente adormecíamos. Tinha esse vício, sim! Mas quantos não gostariam de ter um pai com um vício assim! Ao cantar para nós, minha mãe com certeza sentia-se recompensada das agruras a que tinha de suportar ao vê-lo não chegar para o almoço, algum dia, porque ficara a prosear com um amigo em um bar e ela, ciumenta como só, imaginava ele a estar com mulheres. E ela dizia que preferia vê-lo com uma rapariga, vejam só!
Papai escrevia e escrevia muito bem, apesar de não ter sequer concluído o terceiro ano primário. Era orador de mão-cheia ou pelo menos assim parecia aos santacruzenses da época, pois sempre era chamado a discursar nas ocasiões mais importantes da cidade, inclusive nas festas cívicas do Sete de Setembro, antes do desfile escolar, que se encerravam, inicialmente, com os desfiles garbosos das escolas normal e comercial, quando essas passaram a funcionar. E os discursos eram feitos de improviso, mostrando domínio pleno do idioma e da retórica.
Ele não aprendeu a fazer nada disso, pois não havia como em Santa Cruz. Ele tinha o dom e se fez sozinho. Foi professor contratado pelo Estado para ensinar matemática na Escola Normal. Quem precisava de estudar algo mais profundo em matemática naquele tempo em Natal, procurava meu pai, a quem eu vi, muitas vezas, ainda pequenino, lecionar matemática a jovens que já à época buscavam a via do concurso público para obter uma colocação no Banco do Brasil e depois no Banco do Nordeste, tentando fazer entrar em suas cabeças noções de operações com frações ordinárias e decimais, valendo-se do exemplo da laranja, para introduzir os conceitos abstratos dos números menores do que a unidade.
Depois, um de seus alunos, Prof. Manoel Macedo, foi meu professor de matemática, ensinando-me a desenrolar-me com as expressões aritméticas, a álgebra e as expressões algébricas, de primeiro e segundo lugar. De certa forma, meu pai também me ensinou matemática!
Como vê tantos vícios, a maioria adoráveis e que qualquer um gostaria de ter.
GILBERTO: Além de poeta, que outras habilidades tinha seu pai?
JOSÉ MÁRIO: Além de pai amoroso, responsável, poeta e bom instrumentista musical, como já lhe demonstrei acima, meu pai foi antes de tudo professor, seguindo a vocação de sua mãe, D. Santinha, pois essa foi sua primeira profissão, ao que me consta, tendo sido professor, quando solteiro, em Coronel Ezequiel, á época chamado de Melão. Quando casou-se foi morar com mamãe, em um barracão de venda de mercadorias, no acampamento da construção do Açude Inharé e lecionava em uma localidade, ou sítio, chamado Riacho Fechado, na estrada para Campo Redondo, para onde mudou-se com mamãe após o término da construção do açude, continuando a lecionar nesse lugar.
Conheci-o professor de matemática da escola normal e sempre era conhecido e pelas pessoas mais gradas da cidade, como Professor Cosme e para os mais íntimos, como Professor Cocó, sendo por todos respeitados.
Era membro do Partido Trabalhista Brasileiro, fã ardoroso de Getúlio Vargas, preocupado com a extensão de direitos trabalhistas para os mais humildes, que o procuravam para obter orientação, quando em dificuldades com os patrões, e atuava muitas vezes como rábula, atuando, como defensor, para as pessoas mais pobres que não podiam pagar ao único advogado existente na Cidade. Eu mesmo o vi, orientando pessoas a tirarem sua carteira profissional e exigirem sua anotação, para preservação de seus direitos e garantia de obtenção de direitos juntos aos Institutos de Aposentadoria que à existiam aos montes, um para cada grupo de categorias profissionais. E esses direitos trabalhistas foram o apanágio da carreira política de Getúlio Vargas, em seu primeiro período de governo, que culminou com a edição da Consolidação das Leis do Trabalho, a velha CLT, que continua firme e forte no pedaço apesar dos renhidos esforços dos neoliberalistas para riscá-la fora do pedaço.
GILBERTO: Diga-nos suas palavras finais. Sinta-se à vontade quanto a informações adicionais sem se preocupar com a extensão de sua resposta.
JOSÉ MÁRIO: Obrigado, Gilberto, por sua compreensão.
Tenho todo interesse em colaborar com informações sobre meu pai, porque acho importante que se faça o registro na história da Cidade, pois ele a adotou como sua terra e sempre a sentiu como tal e durante toda a sua vida lutou pelo enriquecimento cultural da terra, no iniciativa e com outras iniciativas, como fundação de jornais e tentativa de lhes soprar vida, o que infelizmente nunca se concretizou por ausência de interesse da parte instruída da população, salvo os jovens, como ele à época, que se envolviam, colaboravam, mas lhes faltavam os recursos financeiros necessários à continuidade do projeto.
Aquilo que vc. fez recentemente de levar os artistas da terra ao palco para se apresentarem à comunidade, ele o fez várias vezes, sendo que a maior parte do trabalho era realizado por ele mesmo, aparecendo um ou outro para colaborar e dar cara às tapas em cima do palco.
Normalmente ele se caracterizava como um matuto, com algum pseudônimo (Jéca Tabua, foi o utilizado quando publicou o seu livro Canasta Véia), com seu violão apresentando emboladas, com versos falando sobre os personagens mais em voga na cidade, do político ao mais humilde, e fazendo toda a assistência dar gargalhados com o humor contido nos versos que cantava.
Eu ainda chegue a assistir um deles num teatrinho que depois virou cinema, na esquina da rua onde morávamos com a rua que passa por trás da igreja. Eu devia ter a essa época uns 3 ou 4 anos de idade. Mas está lá na memória eu, inclusive, surpreendido com o desempenho de meu pai, tão calado, tão sisudo, em casa e no trabalho. Ali ele soltava toda a sua veia artística, com a verve do poeta e se tornava um artista completo, que talvez tivesse aspirado em ser, mas que as voltas da vida lhe impediram.
Dizia de meu interesse em dar o máximo de informações sobre até para que não passe em branco o centenário de sua chegada a Santa Cruz (1912), no próximo ano, pelo menos na escola que leva o seu nome.
Papai, apesar de ter nascido em 1908, teve sua data de nascimento registrada como tendo sido 06 de outubro de 1912, ano de sua chegada a Santa Cruz. Acho que fizeram o registro às vésperas da viagem, ou logo que chegaram a Santa Cruz e erraram no ano. Mas o fato é que, oficialmente, ele nasceu em 1912, portanto no próximo ano completam-se 100 anos de seu nascimento, conforme registro oficial e também de sua chegada, com seus pais, à sua terra de adoção. No registro foi indicado Bananeiras, como local do nascimento.
Interessante é que esse erro terminou por ser causa de imenso transtorno para ele, mamãe e o restante da família, pois com o estourar da guerra, em 1942, ele, oficialmente, com
30 anos, encontrava-se no rol dos convocados para o serviço militar em tempo de guerra e, não sei se por não se ter alistado, confiado talvez no fato de já ser casado, portanto, arrimo de família, dispensado por lei de prestar serviço militar, terminou sendo preso, como desertor, e trazido para Natal onde ficou recolhido algum tempo (não sei precisar exatamente quanto), levando minha avó, aos prantos, ir de autoridade a autoridade até fazer prova de sua qualidade, como arrimo de família, conseguindo sua liberdade e evitando, talvez, sua ida à Itália, após o cumprimento da pena, para lutar e, quem sabe, ali morrer, hipótese que, se tivesse acontecido, teria privado o mundo de minha insignificante presença, pois só nasci em 1946.
Há um detalhe pitoresco, pois nasci louro, alvíssimo e de olhos azúis, terminando servindo de pilhéria para Papai por seus colegas, que, brincando, sugeriam que eu poderia ser filho de um dos americanos que àquela época também apareciam por Santa Cruz em seus períodos de folga. (RISOS)
Pilhéria meio racista, pois somos todos mestiços de cor meio melada, indefinível, produto da miscigenação do branco com índias, e aqui e acolá, uma misturazinha com um preto, daí resultando, numa ninhada de 12 filhos, quase todas as cores do arco-íris de nossas origens étnicas. Minha avó paterna era branca dos olhos azúis, mas de um físico precário, como o de meu pai. Meu avô paterno era tão baixo como meu pai, porém mais forte um pouco. Porém todos franzinos, fraquinhos, sendo meu pai não tão melado quanto meu avô, puxando à cor da mãe, mas herdando dela forte estrabismo, herdado também por três irmãs minhas e uma sobrinha, mostrando ser traço genético forte em nossa família.
Do lado de minha mãe, que tinha traços de cabocla, bem amorenada, meu avô paterno era também louro, dos olhos azúis, enquanto minha avó, cujo pai era bastante escuro, quase preto, do cabelo ondulado e a mãe de tez bastante clara, nasceu completamente cabocla, quase índia, refletindo os traços de sua bisavó, que era índia (acho que tapuia), presa pelos cabelos, após ser caçada "a casco de cavalo", pelo senhor, meu pentaavô, em algum lugar nos sertões da Paraíba, pois vieram de Araruna.
Meu avô, que era mascate de rapadura, fumo, fósforos, farinha e outros produtos aqui não encontrados, trazia essas mercadorias de Brejo de Areia (PB) até aqui Santa Cruz, inclusive ao sítio do meu bisavô, então no Riacho do Feijão, onde conheceu minha avó, caiu nas graças de meu bisavô e engraçou-se de minha avó, com ela se casando também nos idos de 1910/1912, ganhando um sítio para trabalhar e depois o próprio Riacho do Feijão, quando meu bisavô adquiriu o Sítio Várzea Grande.
Sem querer, terminaram saindo mais algumas informações sobre minha família. (risos