domingo, 18 de setembro de 2011

UM POETA ULTRA-ROMÂNTICO - por Nailson Costa

Os anos 70 testemunharam ainda poetas, como Márcio Marques, filho de Cosme
Marques, que nada devia a seu pai, quando se tratava de poesias, músicas e crônicas. Dele,
diz-se que, quando exagerava na bebida, pegava o seu violão e dirigia-se ao cemitério local,
onde, na cova de seu inesquecível pai, dedicava-lhe suas mais belas canções, versos e
crônicas. Segundo sua irmã, Maria do Rosário, Lalo, “o show juntava algumas dezenas de
curiosos e só terminava quando, tarde da noite, o coveiro nos comunicava o fato. Com muita
luta, nós o rebocávamos para casa”.
José Márcio Marques, que nascera no dia 2 de janeiro de 1950, era um poeta ao estilo
de Álvares de Azevedo. Sua angústia, seu pessimismo em função da realidade de injustiças
sociais, bem como o vazio que sentia de um amor verdadeiro aproximam esse poeta dos ultra-românticos da segunda geração do Romantismo. Lord Byron, Alfred Musset e Álvares de
Azevedo exerceram, sem dúvida nenhuma, influência não só no eu-lírico deste jovem poeta,
como também em suas atitudes. Marques cantou o silêncio, a noite, a indiferença, a
melancolia, a morte. A evasão, a egótica, o spleen, o erótico caracterizam sua obra. Aliás,
Marques, assim como Álvares de Azevedo morreu muito jovem. Ele, como muitos poetas
ultra-românticos, evadiram-se, não só nas suas obras, como também no seu tempo e espaço
reais. Suicidara-se o poeta, no dia 23 de agosto de 1980, fazendo da morte a saída para as
crises de depressão de que muito constantemente era acometido. Os poetas ultra-românticos
vêem nessa atitude radical o único momento de paz. É de Márcio Marques:

Silêncio, espera

Noite tristonha dos beirais do rio.
Rio meu pranto-descanto. Alheia
Alma penada mística se enleia
Noutros fantasmas comungando o frio.
Mágoa teórica, trêmula vagueia
Teia sensível em que me contrario.
Pio gemido temeroso e esguio
Do meu desgosto, fina-se na areia
Palavras que se vão nas reticências
Marcadas, ressentidas das ausências.
Desesperanças que maltratam mais;
Incertezas da espera, a estrela apagada
Só silêncio, só eu à procura de nada
Na estrada infinita da noite em que vais.


Encontro
Foi seu olhar sereno
Que abriu o meu espírito
E o meu corpo
Para outros anseios;
Foi seu primeiro beijo,
O mais ameno,
Que fez luzir na noite dos meus olhos
A primeira,
A maior,
A grande esperança.
Querida,
Minha doce querida,
Ao enlevo do seu abraço de fada
Eu quero sentir
Todas as sensações desejadas
E reprimidas no meu medo.
Ah! Mas você for somente
Um momento breve,
Um sonho fugidio,
Perdure em minha emoção
Criança
Tempo e vida e amor
Sentidos
Antes do nada
Antes do desencontro

Pégaso

Pégaso do meu ocaso
Leva-me
Por entre as estrelas da noite
Do infinito,
Onde o amor não seja
Uma mentira,
Onde os sorrisos sejam abertos
E sinceros,
Onde as mãos se apertem
Sem nojo,
Onde a caridade existe
Sem egoísmo;
Lá onde os homens são realmente
Humanos
Leva-me ao cair da tarde
No aconchego das tuas asas


Muitos outros artistas literários com suas emoções, que só a arte das palavras sabe
traduzir, perderam-se no tempo, foram sepultados no túmulo do esquecimento. Só nos resta
dizer que eles existiram, e, mesmo que nesta pesquisa não constem, escreveram o seu
passado, viveram o seu presente, inspiraram o seu futuro e tornaram-se, como os aqui citados,
em UM PRESENTE DO PASSADO.


Extraído do livro LITERATURA SANTACRUZENSE, da autoria de Nailson Costa.


6 comentários:

  1. Gilberto, você é 10! Divulgar os poetas da nossa terra é um ato de grandeza. Pelo bem do balanço rítimico e da boa rima, no 6º verso do poema "Silêncio, espera", coloquei um acento na palavra "contrario", ficou "contrário", e Márcio Marques não merece essa minha falha. É, portanto, CONTRARIO, para ficar de bem com RIO, FRIO e ESGUIO. E nós agradecemos. Grande Gilberto!

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  2. EITA COMO O BLOG ESTÁ CHIK COM ESSAS COLUNAS AÍ DO LADO. ARRAZOUUUUU!

    LINDAS POESIAS!

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  3. Graças à ajuda do professor Ivanilson, Nailson, pusemos as colunas ao lado e esperamos que outros, à sua semelhança, opinem a respeito. Obg.

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  4. Nailson, você tem resgatado como ninguém nossa história literária. Continue assim, nós precisamos do passado para construir a vida presente e o futuro.

    Parabéns pela narrativa e pelos poemas!

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  5. Dizem os grandes filósofos contemporâneos que em time que está ganhando não se mexe. Mas, confesso, ficou muito bom! Obrigado Marcelo pela força. Um dia veremos nossos artistas na mídia nacional.

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  6. Nailson, devo admitir que estou cada vez mais encantada por este bela poesia Nordestina que me toca profundamente .Obrigada por este belo presente !

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