sexta-feira, 18 de novembro de 2022

MISTURANDO TUDO, DÁ NO MESMO - Heraldo Lins



MISTURANDO TUDO, DÁ NO MESMO

Uma pessoa enviou-me uma mensagem apontando que ontem eu utilizei a palavra “ultimamente” por duas vezes, e pior, para iniciar o segundo e terceiro parágrafos. Se fosse, disse-me ela, pelo menos no meio do texto, seria até aceitável, mas logo no início demonstrou pobreza quanto ao repertório de sinônimos. É, realmente, à noite quando fui reler a publicação, vi que havia cometido esse deslize, porém, no mesmo instante, articulei uma resposta para caso acontecesse, o que de fato aconteceu, de alguém querer crescer em cima da minha “ignorância vocabular,” eu pudesse dizer que deixei assim para que ela se sentisse genial.

Na verdade, vou assumindo este espaço sem muita autoridade para o cargo, tendo em vista que antigamente só quem podia escrever era de Rui Barbosa para cima. Machado de Assis morreu, Drummond também, e por haver necessidade de expressar-me, aceitei de bom grado o convite. 

Minha falta de conhecimento continua tão dramática que ontem me admirei com a palavra “pala” e fui atrás para tirar a dúvida. Pois não é que se trata da frente do boné e que pode ser chamada de aba! Santa ignorância! Nem posso confessar isso em um debate acadêmico senão presenciarei pessoas rindo baixinho com a mão na boca.   

Certa vez, eu estava num bar e chegou um professor. Conversa vai conversa vem, eu disse que não gostava de tal vinho porque depois do segundo copo “arripunava.” Ele logo ficou zombando que “arripunar” era uma palavra para ser usada no meio da semana. No domingo seria melhor usar o verbo enjoar e seus derivados. Eu nem sabia que existiam palavras de feira e palavras de congressos, mas parece que sim.

Tem gente que usa termos pouco comuns apenas para “tirar onda” com a cara dos analfabetos funcionais. Aqueles que leem e não entendem são a grande maioria. Eu mesmo estou entre eles, e até vou mais longe, tem coisa que escuto ou vejo que me deixa tipo astronauta. Vi, essa semana, uma jovem usando uma camiseta escrita assim: o que é ôxê? Ôxe é ôxe, ôxe! Nós nordestinos sabemos que é uma expressão de espanto, tanto quanto o “Ué!” tão comum na região Sul, só que quem não nasceu no nordeste, às vezes expressa um sorriso amarelo e a vida segue sem maiores problemas.

Acredito que é uma das características de querer sempre aprender que me deixa em situações desprotegidas. Não me importei nem um pouco em perguntar, à minha amiga recém-abraçada, qual o significado da palavra “serelepe” que seus pais diziam sobre ela na infância. Ah! Lá em Caxias do sul, é muito comum dizer que uma criança ativa, esperta, viva, buliçosa é serelepe. Viajando aqui no dicionário, realmente existe a palavra, só que aqui utilizamos, com mais frequência, o termo danada para pessoas serelepes. 

Nossa língua é tão dinâmica que cada dia deixo de me lembrar de mais vocábulos, entretanto há um novo termo incluído no jargão popular que me remete à última campanha eleitoral: “tá na hora de já ir, já ir embora,” esse não tem como esquecer.        

Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 18.11.2022 – 09h23min



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