HISTÓRIAS DE CANGAÇO
EPÍSÓDIO: PORQUE LAMPIÃO FICOU NO IMAGINÁRIO POPULAR.
O cangaço, uma das páginas mais cruentas, vivida nos ermos mais distantes da pancada do mar, onde o sol se faz rosa, para se pôr, tem sua grota de viço nas amarguras da vingança, no refúgio de quem cometera um crime, e por último, na sua fase mais ignóbil, desprezível que é o cangaço meio, fim, com ações de rapina, com plenitude de prática, no período lampiônico, com mais intensidade, nos tempos que medeiam entre l926 a 1938, quando ocorreu o epílogo do cangaço na gruta de Angicos, em Sergipe.
Mas o meu paleio de copiar* hoje não é esmerar o cangaço nem como conduta criminosa, hedionda, nem tão pouco, adjetivando seus praticantes como “heróis extraviados”, como dissera um dos meus gurus, Ariano Suassuna. A selvageria lampiônica, em muito supera o suplício nas ordenações manuelinas e afonsinas, que no Brasil fez-se prática nos episódios de Felipe dos Santos e do próprio Tiradentes, com cênico de esquartejamento e exposição na Cruz de Malta, uma cristianização à similaridade do que aconteceu com Jesus, na era de Tibério César.
Mas rabiscar na historicidade dos fatos e contextos o que levou os habitantes dessas terras de trópicos e de anos de magrém, a amealhar no seu imaginário, não um juízo de reproche aos hunos da caatinga, porém, mitigar uma leitura, que transformou o Estado disciplinador em réu e o desvario da violência do cangaço, numa possibilidade de ser, o que nosso Mestre Cascudo vislumbrou, serem:
“bandidos diferenciados dos criminosos comuns”, portanto, uma saga que nascia de uma vertente dotada de escudo ético, aquele que sofrera uma injustiça, um constrangimento, não reparados pelo Estado.
Saliente-se que esse juízo não é desnudado de motivações. Por necessário trazer o exemplo de como Lampião se portava no trato com o pequeno sitiante criador. Sempre vislumbrava na escolha de uma rês de gado vacum, por uma cabeça escoteira, sem prenhez ou amojo, ou na fase lactente. Escolhia um toureco, uma garrote, para fazer a carne de sol. E nessas circunstâncias, sempre ordenava que o seu estado maior, procedesse no pagamento.
Porém, quando a polícia se arranchava na casa de um criador do Sertão, proprietário de apenas uma semente da espécie, ordenava o abatimento do “boi de campinadeira”, a força motriz da roça, daquele desvalido sertanejo, saindo sem o devido pagamento.
Por ressaltar também, que no espetáculo cênico de CHUVA DE BALA NO PAÍS DE MOSSORÓ, os heróis não são os defensores da urbe potiguar, mas, a saga lampiônica, começando pelo próprio rei do cangaço e seus lugares tenentes, Sabino de Gore*, Jararaca.
Embora tal episódio seja um dos malogros da epopeia do cangaço sob a égide de Virgulino Ferreira da Silva, que há alguns meses antes, no dia 26 de novembro de 1926, na batalha de Serra Grande, PE, houvera derrotado as forças de quatro estados nordestinos, um contingente de trezentos homens, entre macacos e cachimbos, com a apenas um grupo de 68 cangaceiros.
*Sabino de Gore: Sabino era filho de uma negra cozinheira com o Cel. Marçal Diniz, meio irmão de Marcolino Diniz, coiteiro de lampião, e cunhado de José Pereira de Princesa, pois, casado com Xanduzinha, personagens da melodia "Xanduzinha", interpretada por Luiz Gonzaga, Rei do baião.
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