domingo, 13 de fevereiro de 2022

SITUAÇÃO CONFORTÁVEL - Heraldo Lins

 


SITUAÇÃO CONFORTÁVEL


Ainda bem que não vou falar mal de ninguém. Poderia, mas receberia ameaças dos que tivessem suas condutas aqui expostas, e mesmo que a pessoa não fosse violenta, não ficaria satisfeita. Não só o que falo, mas minha conduta, também, está sendo observada na grande vitrine da vida comunitária.

Ontem, muitos não gostaram porque postei uma foto minha ao lado de uma pessoa importante, para uns, e cafajeste, para outros. Nunca pensei que minha conduta fosse causar frenesi em muitos. Percebi, depois de vários ataques, que sou uma pessoa admirada pelo que faço, contudo, não me deixam admirar quem eu gostaria.

O sistema democrático, que muitos que me atacaram defendem, pelo que pude perceber, não acolhe opiniões díspares. É democrático para fazer valer uma só opinião, no caso, torna-se ditatorial. 

Recentemente, um homem perdeu o emprego por defender o Nazismo. Não teve jeito. Mesmo se explicando que defendeu seu ponto de vista por estar bêbado, levou um tremendo "chute na bunda". No meu caso, jogaram-me pedra por eu estar ao lado de um negacionista, defensor do discurso de ódio e apoiador do Nazismo. Na verdade, gostaria que dissessem o que eu deveria fazer para não levar o meu chute. Acho que ficar calado seria a melhor opção, todavia, não posso deixar que os seguidores de Lutero tomem posse, sozinhos, daquele “rapazinho” que vive fugindo da Polícia Federal. 

Vou passar o resto da minha vida somente dizendo amém. Meu trabalho de formador de opinião não me permite ter opinião. A tolerância anda longe de quem se diz democrático, e, mais longe ainda, dos ditadores. Nessa mistura toda, encontro-me esperneando.

Não gostaria de viver sem me intrometer na política, até porque tudo é política, ou seja, em tudo há uma relação de poder: na feira, a dona de casa está usando a política em seu favor, ao escolher um feirante em detrimento do outro; a jovem linda usa a sua beleza, transformada em poder, para escolher um noivo. No caso, se essa jovem for linda e prostituta, o poder se transfere para quem tem mais dinheiro, e a jovem, politicamente falando, fica à mercê. 

O único poder que tenho é o de convencimento, e esse precisa ser testado a cada ritual que estou à frente. Minha oratória, meus exemplos de vida e de parábolas, fazem de mim um dos centros de atenção. Percebi que para não desgastar meu potencial argumentativo, preciso me tornar neutro em relação à política partidária. Fingir que não tenho poder algum, para, só então, o conceito de humildade seja assimilado pelos seguidores da instituição que represento. Quero todos contentes, democráticos ou ditadores, desde que depositem o dízimo. Chega de fotos!  

 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 12.02.2022   ─  10:43



Veja a crônica no Youtube, no canal Heraldo Lins:







3 comentários:

  1. Eu-lírico controverso, representativo de boa parte da elite religiosa. Fins justificando meios escusos. Parabéns! - Gilberto Cardoso dos Santos

    ResponderExcluir
  2. Muito bom. Acerca do ocorrido, acho desproporcional a repercussão do fato recente que acredito ter inspirado o texto.

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”