GOLPE VIRTUAL
A vida aqui é dura! disse a mulher ao ser entrevistada. A repórter, deslumbrada com as montanhas cobertas de neve, não deixou a mulher falar da dureza da vida. Estava interessada em mostrar o quanto era maravilhoso fazer turismo naquele lugar. A mulher também ria, não por viver naquela linda paisagem, mas por estar embriagada. Ela usava bebida alcoólica para suportar a dureza de cuidar do gado no estábulo, fazer queijo diariamente e driblar a saudade do marido falecido.
Enquanto a repórter estava ganhando dinheiro para fazer aquela entrevista, a mulher perdia ao deixar os afazeres, para conversar. O sol estava prestes a sumir novamente e ela teria que gastar óleo iluminando as tetas das vacas, caso demorasse mais falando com aquela pessoa. Eram duas visões totalmente distintas para o mesmo objeto, no caso, os Alpes suíços.
Dubai também desperta essas contradições de olhares. Enquanto o luxo é mostrado à exaustão, os caminhões limpa fossas trafegam na calada da noite; indianos choram por terem sido transformados em escravos; mulheres lamentam por viverem presas num batalhão de seguranças.
A boa sensação de possuirmos smartphone de última geração, nem é diminuída quando sabemos que os mesmos produtos foram molhados pelas lágrimas das pessoas que vivem trabalhando em troca de comida, de pais que colocam menores para montarem peças.
Ontem uma mãe descia o morro gritando que não deixaria mais ninguém mexer na sua filha menor. Ela sabia e nada fez para impedir que seu namorado abusasse da filha. Os juízes do morro filmaram ela sendo obrigada a gritar palavras de juramento. No letreiro, lia-se que o estuprador havia sido assassinado.
O mundo pode estar perto do colapso, mas isso sempre existiu. A diferença é que agora temos acesso às imagens quase em tempo real. Os grandes canais estão perdendo o poder de vigiar a sociedade. Antes, podiam negociar o que iria ao ar. Agora, todos somos donos dos conteúdos.
O mercado ganha com isso, e nem se preocupa com quem perde. Em alguns países há filtros sobre o uso da internet, exatamente para que os governantes não percam o controle do gado.
O golpe militar, se tiver de ocorrer no Brasil, primeiro as forças do mal terão que ocupar as estações transmissoras de sinais da internet, para só depois ocupar o congresso e prender os opositores. Será praticamente um golpe virtual, mas a tortura continuará sendo utilizada para fazer trabalhar, em prol dos golpistas, quem é altamente capacitado no uso das ferramentas do Google play. Quem se recusar a aderir aos golpistas, será suicidado. Acho que só me resta comprar a corda.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 11.02.2022 - 07:37
Muito bem, Heraldo. Inovando e progredindo sempre em suas produções. Agora com versão audiovisual, o público agradece. Gilberto Cardoso dos Santos
ResponderExcluirIsso mesmo Gilberto...Neste mundo virtual quem não inovar ficará se lamentando. Acredito que virá mais inovações nesses vídeos crônicas. Estou estudando mais formas de incrementá-los.
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