quarta-feira, 21 de julho de 2021

PEQUENAS COISAS QUE FAZEM A DIFERENÇA - Heraldo Lins

 



PEQUENAS COISAS QUE FAZEM A DIFERENÇA  


De tapioca molhada eu sempre gostei. Gosto tanto que procurei aprender como fabricá-las. Meu sonho era acordar cedinho, fazer minha tapioca com a certeza de que a vida seria outra depois da descoberta desse segredo milenar. Imaginava o quanto era feliz a pessoa que sabia fazer tapioca molhadinha. 


Ao chegar em um restaurante de comidas típicas, eu logo pedia uma delas. Ficava observando-a com pena de degustá-la. Olhava ao lado para fazer inveja às outras mesas, e só depois é que saboreava. 


Minha luta para descobrir o segredo passou por várias tentativas. Deixava esfriar para só depois colocar o leite de coco. Só conseguia produzir tapioca encharcada. Comprei o leite engarrafado, extraí do próprio coco, mas a tapioca ficava parecendo um grude. 


Pedi às tiazinhas para me ensinarem. Elas faziam na minha frente e dava certo. Quando eu chegava para fazer sozinho em casa, não conseguia. Fui diretamente à fonte onde se produz as melhores tapiocas molinhas da região. Adentrei à fábrica e testemunhei as fases de produção... Aqui e acolá eu esquecia esse meu sonho, mas depois voltava com toda a força. 


Estava jogando bola e quando eu fazia um gol logo vinha o pensamento: eu faço gols, mas não faço tapioca molhada. Era um trauma. Concluí o doutorado e pensei: sou “Doutor”, mas não chego nem perto de dona Marluce que faz as melhores tapiocas molhadinhas do litoral. Ao me casar pedi ao cerimonialista que, na frase “até que a morte vos separe”, ele acrescentasse: até que uma tapioca vos separe. 


Depois que me casei fui à casa de dona Marluce lhe pedir que nos mostrasse. Dona Marluce, meu ídolo, fez a tapioca, nós saboreamos e viemos embora. 


Compramos um saco de goma, um caminhão de coco, e partimos para a fantástica lua de mel à beira do fogão. Fazíamos, comíamos e discutíamos. Depois de continuarmos no fracasso, fomos ver o vídeo de dona Marluce fazendo tapioca. Havia algo estranho na fabricação. Não era fantasma, nem catimbó e nem assombração. Era apenas um pano de prato. Ela deixava esfriar coberta com um pano de prato. Depois colocava o leite e pronto. O segredo estava no infeliz do pano de prato. Salvei minha Lua de Mel.   



Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 07/07/2021 – 08:38



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