sexta-feira, 2 de outubro de 2020

DOSTOIÉVISKI: HUMANO PERTURBADORAMENTE HUMANO - por Teixeirinha Alves

 


DOSTOIÉVISKI: HUMANO PERTURBADORAMENTE HUMANO

            Após a leitura de uma das muitas obras de Dostoiévski, é necessário ler algo mais leve, mais “água com açúcar”, para se “desintoxicar”. Acompanhar seus fortes personagens é como ter, metaforicamente falando, a garganta pressionada por grandes mãos de ferro ou ser repetidamente socado na barriga por essas mesmas mãos. É sufocante; é doloroso.

            Raskolnikov (Crime e Castigo), Stavroguine (Os Possessos) e Dmitri (Irmãos Karamazov), para citar somente três do “panteão” criado pelo gênio, são personagens que nos perturbam devido às maneiras como agem e veem o mundo. É violência, é hipocrisia, é desfaçatez, é paixão, é sonho, é amor, é interesse, é fúria,... é humano!

            Além da força perturbadora dos personagens, o autor sempre discute, em cada livro, uma questão relevante. Em “Crime e Castigo”, por exemplo, analisa a autojustificativa do protagonista por assassinar duas pessoas inocentes; comparando seu ato aos assassinatos em massa promovidos por celebridades bélicas do passado (como Napoleão Bonaparte), os quais recebiam louros e elogios (e não a prisão), após cada massacre nos campos de batalha. Em “Irmãos Karamazov”, uma envolvente discussão, entre outras, sobre como o mundo reagiria à volta de Cristo (a poderosa Igreja o aceitaria?!). Em “O Idiota”, o convívio social com alguém considerado limitado psíquica e intelectualmente, mas elevado moralmente. Entre tantas outras questões.

            Ler Dostoiévski dói, no entanto, vicia. Tem-se alívio ao concluir cada livro; mas, ao mesmo tempo, uma forte vontade de voltar e reler cada página. Um escritor que mexe com nossas entranhas, vira nosso cérebro de ponta-cabeça, agride, afaga, morde e assopra. Um IMORTAL!

Todavia, repito, é sempre bom sair para tomar fortes haustos de ar puro depois de acompanhar suas narrações.

Teixeirinha Alves


 

2 comentários:

  1. Concordo nos mesmos termos com o que você escreveu! Dostoiévsky é seminal, assemelha-se a um bom vinho. parabéns pelo seu texto, tão preciso e inspirador!

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  2. Gilberto, mais uma vez, obrigado pela publicação!

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