Um filósofo, professor da UFRN, falou pra mim certa vez que Sodoma e Gomorra,
cidades que aparecem no relato bíblico, não deveriam ter sido destruídas por Deus,
pois seus habitantes, com algumas exceções, eram felizes da maneira como viviam.
Entendo que muitos aqui já buscam instintivamente argumentos bíblicos e até
razoáveis para rebater, mas vamos dispensar este embate. Sei também que muitos
já atentaram para o peso da fala do professor, considerando parte do seu currículo
já descrito acima: foi um filósofo quem disse. Então, ainda que respeitosamente, há
muito a considerar. Mas, insisto, baixemos as armas, ao menos por enquanto. Usei
este exemplo apenas para abrir caminho em direção a um objetivo que começo a
traçar a partir daqui.
O que quero é discutir algumas questões com este tipo de citação. Começo citando
quando da confiança inquestionável quanto ao que foi dito, considerando apenas por
quem foi dito, ou a nossa intransigência, quando nos dispomos a questionar tudo,
enquanto que fechados em nosso mundo de conhecimento intocável. Eis o primeiro
ponto.
Outro aspecto sobre que quero tratar é o menosprezo ao diferente, ao menos é um
tipo de testemunho de que posso seguramente falar aqui: vejo no dia-a-dia muitos
artigos de opinião, teses de mestrado, estudos de pesquisadores na área da educação
sendo ignorados ou refutados por desinformação de colegas com uma razão bem
recorrente: isto foi escrito entre quatro paredes, inspirado sob a refrigeração de
um bom ar condicionado, por que não vem sentir na prática o contexto de uma sala
de aula? E por este e outros tipos de postura, “E à mente apavora o que ainda não
é mesmo velho”, Caetano Veloso foi quem disse, embora sem ter aqui dados que
indiquem a fração de educadores a que me refiro, é que as ciências da educação,
exceto às vésperas de concurso público recebem certa consideração. É assim que
não se alinham aos que podem se juntar em pensar a educação e consequentemente
se limitam ao convencional, pensado para uma educação aos moldes do final do
século XIX, em muitos casos, e ao conhecimento do senso comum, enquanto que
se subentende que são formados e pagos para lidar de maneira reflexiva com o
conhecimento científico e para conduzi-lo até o aluno de maneira eficaz. Reside aqui
uma boa justificativa para a banalização da educação.
Por último, e muito tem me incomodado, é que passam despercebidas certas
citações, comentários, pensamentos e conclusões a que chegaram pessoas sem tanto
reconhecimento social. Foi depois de tanto ver na internet gente se apropriando de
citações isoladas de escritores e pensadores “notáveis”, que outro dia estampei no
meu MSN: Quero ver também minhas citações publicadas no perfil de vocês. Não é
verdade? Por que não?
Há muita sublimação, exaltação e busca concentrada somente naquele que está
em evidência: dão-lhe nome e o submetem à badalação numa naturalidade tal que
qualquer dia desses veremos profundidade até em frases do tipo: "Minha mãe é
uma senhora que já nasceu analfabeta". Quem disse isso? O ex-presidente Lula
foi quem disse. Ok! Então quero pra mim e ai daquele que colar do meu perfil no
Orkut! Contudo, imagine agora a professora desesperada com a resposta do aluno,
questionado sobre os acertos de sua atividade de matemática: Tudo certo, professora,
como dois e dois são cinco. É que certamente a poesia da frase passa despercebida se
pronunciada por um aluno, pobre mortal, mas que ganhou dimensão nacional, pois
novamente, Caetano Veloso foi quem disse.
Falta-nos, ao que parece, identidade, gosto próprio, capacidade de discernimento,
sensibilidade, disposição para refletir, para pensar e fazer justiça intelectual. Somos
assim, facilmente influenciados pelo outro, pela mídia e por isso mesmo ficamos à
deriva numa sociedade consumista que com a inclusão digital eu posso me expor,
mas preciso parecer culto. E assim manipulamos e somos manipulados, criamos
deuses, somos endeusados, criamos ídolos, somos idolatrados e em alguns casos,
tudo fajutamente. É por essas e outras que há espaço para todos e por isso eu resolvi
também sair em busca de alguns seguidores: Siga-me! E até de certa veneração:
Maciel foi quem disse.
Prof. Maciel – Japi/RN
Para quem gosta de um bom debate e busca ser um "livre pensador", que não aceita uma ideia pela autoridade de quem a propõe e sim pelos méritos de sua argumentação, a falácia da autoridade é das mais ridículas e desonestas, coisa de gente preguiçosa.
ResponderExcluirConstruir uma argumentação sólida para sustentar as nossas opiniões, crenças, é um dever de quem está compromissado com a busca pela verdade e isso demanda muito esforço, estudo, reflexão, senso crítico; coisas escassas em tempos de anti-inteletualismo.
Parabéns pelo texto, ele propõe uma reflexão muito necessária.
Quanta gente boa tem na nossa região, parabens amigo maciem pelo texto.
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