domingo, 12 de junho de 2011

Gilberto Entrevista Roberto Gabriel - Expert em MPB



Gilberto: Trace de si um perfil e faça uma minibiografia.

ROBERTO: Nasci em Natal 13/02/1969. Filho de: Roberto Gabriel de Lima e Francisca Ivaita Guilherme de Lima. Sou professor de Língua Portuguesa da rede estadual de ensino. Tenho mestrado em Literatura Comparada,e especialização em Língua Portuguesa, sou graduado em Letras pela UFRN.

Gilberto: Desde quando sugiu seu interesse pela MPB? Fale-nos do histórico de sua coleção de cds e discos.

ROBERTO: Desde cedo, fui criado num ambiente musical, sempre ouvíamos canções diariamente. Minha mãe foi quem comprou os primeiros Lps que tinha em minha casa. Ouvi muito Martinho da Vila, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Waldick Soriano, Núbia lafayete, Ângela Maria, Roberto Carlos, entre outros. A partir daí fui dando continuidade a minha coleção de vinil. Sempre gostei de receber de presente um disco.

Gilberto: O que você classificaria como genuína MPB? Há algo que leva tal nome e que, de fato não o merece?

ROBERTO: Nada nesse mundo é definido como puramente genuíno. Nossa música é altamente mesclada de ritmos e estilos, rotulá-los não é meu papel. Sou apenas uma pessoa que admira essa tão vasta e respeitosa MPB. A MPB compreende um campo muito vasto de estilos musicais.

Gilberto: Não acha impróprio o termo “popular” para esse tipo de música? Por quê?

ROBERTO: Acho mais impróprio o termo música do que o termo popular. Porque música está ligado aquilo que é musical, tipo uma partitura, e não àquilo que é cantado. Eu trocaria o termo música por canção. Porque canção é uma letra escrita para ser cantada dentro de uma melodia. O termo popular surgiu para diferenciar as músicas clássicas (Beethoven, Ravel) das músicas (letras melodiosas) cantadas pelo povo.

Gilberto: Que pensa das ideias de Caetano Veloso a esse respeito?

ROBERTO: O que eu sempre compreendi sobre a Tropicália, movimento musical liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, é que eles queriam juntar unindo todos os estilos musicais brasileiro. Era este o papel principal da Tropicália.

Gilberto: Caetano gravou sucessos bregas, Maria Bethânia fez o mesmo. Que pensa a respeito?

ROBERTO: Meu caro não existe nada brega na música brasileira, o que existe é um preconceito exarcebado de certas pessoas que não tem conhecimento de causa. Porque a própria palavra já diz: preconceito é um conceito prévio que certas pessoas tiram a respeito de algo que não conhece.

Gilberto: Quem você classificaria como verdadeiros ícones da MPB?

ROBERTO: Fica difícil porque o Brasil é o país dos grandes compositores, dos grandes cantores e das grandes cantoras. Todos tiveram uma grande contribuição na constituição da nossa música. Falar de alguns e deixar outros de lado, é melhor incluir todos.

Gilberto: Quais seus cantores e compositores preferidos?

ROBERTO: Se eu fosse nomeá-los passariam dos 250, portanto vou falar aqueles pelos quais sou mais apaixonado. Homens: Alceu Valença, Moraes Moreira, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Djavan e Milton

Nascimento. Mulheres: Elba Ramalho, Baby do Brasil, Rita Lee, Gal Costa, Maria Bethânia, Simone, Clara Nunes, Marisa Monte, Elis Regina, Beth Carvalho e Tereza Cristina.

Gilberto: Que voz você classificaria como a melhor e que compositor mais o encanta?

ROBERTO: Melhor voz: Milton Nascimento Melhor compositor: Noel Rosa

Gilberto: Comente a seguinte frase, dita por Reginaldo Rossi : "A diferença entre o brega e o chique só começou a existir depois da década de 60. Quem falasse mal do regime militar era chique".

ROBERTO: O Regime Militar foi um período cruel da nossa história, isso deu margens à muitas canções, mas é claro que todas as canções feitas no Brasil,nessa época, obrigatoriamente, não deveriam ter que se referir a esse período, isso é ilógico. E nem por isso as canções que não se referissem a esse período deveriam ser taxadas de bregas.

Gilberto: A perda da militância política não empobrece a qualidade da Mpb? Não há um excesso de romantismo que poderia ser classificado como fator alienante?

ROBERTO: Não, porque a mesma elite que ouve, digamos as tais canções de protesto, é a mesma que não cumpre o seu papel quando está no poder.Na minha opinião a sociedade brasileira é mais hipócrita do mundo, porque para o brasileiro se eu estou bem não me importa o resto. Acredito que as canções de amor deveriam alertar essa sociedade hipócrita para amar mais o seu próximo.

Gilberto: Porque a MPB não cai no gosto do povo brasileiro ? Teria a ver com a música em si ou com o descaso dos meios de comunicação?

ROBERTO: Tudo tem seu tempo, tudo acontce no seu tempo.

Gilberto: Há algo a lamentar em relação a MPB?

ROBERTO: Só tenho a agradecer aos grandes mestres, interpretes e músicos do Brasil, pois é a única coisa levada a sério nesse país.

Gilberto: Nos dias atuais, como está a MPB? Pensa que ela já teve seus dias áureos?

ROBERTO: Sempre está surgindo um grande nome, um exemplo disso é a Escola de Samba PORTELA que tem lançado além dos seus grandes smbistas, uma nova safra de sambistas como Diogo Nogueira, Tereza Cristina, Dorina, Juliana Diniz e Nilze Carvalho que são sambistas Portelenses da nova geração.

Gilberto: Que discos e cds faltam em sua vasta coleção da MPB? Cite algo raro que você possui?

ROBERTO: o primeiro cd dos Secos e Molhados e um cd do cantor/compositor cubano Pablo Milanês. Faltam muitos cds para minha coleção, se eu pudesse eu teria todos os cds lançados no Brasil sem restrição.

Gilberto: Fale um pouco sobre sua tese de mestrado e diga-nos suas palavras finais.

ROBERTO: Minha tese é a respeito das canções de cunho feminino de Chico Buarque porque eu trabalho com essa fronteira do gênero entre o masculino e o feminino.

O que me faz viver ainda, nessa sociedade hipócrita brasileira, é saber que eu tenho muita gente boa para ouvir em casa. Tudo isso me dar um enorme prazer em viver.

18 comentários:

  1. Riquissima entrevista com o nosso amigo Roberto Gabriel,ainda iremos explorá-lo muito mais pode ter certeza.

    ResponderExcluir
  2. Francisca Joseni dos Santos12 de junho de 2011 às 14:00

    Excelente Robertinho! Mas o seu amor cancioneiro por Noel Rosa e por Elba Ramalho é bem maior do que o explicitado nesta entrevista ou estou enganada?

    ResponderExcluir
  3. Excelente entrevista!
    Nada melhor do que ler quem realmente entende de música.
    Foi através dele e da nossa mãe, que eu e meus filhos gostamos tanto de música de boa qualidade.
    Parabéns meu irmão, isso só nos enche mais de orgulho.

    ResponderExcluir
  4. Robertinho você realmente vivencia a música com muita intensidade. Vi esse entusiasmo ao vivo no show de Neguinho da Beija-Flor. Um show maravilhoso dentre os vários que o projeto 6 e meia pode nos oferecer. Parabéns também pelas observações críticas à sociedade brasileira.

    ResponderExcluir
  5. Entrevista que interessou-me muito!
    Robertinho, gostei muito das tuas explicações e a tua maneira de exprimi-lo com franquia.
    Concordo com Helio , precise de explora-lo muito mais !!!
    Obrigada o meu amigo, de aperfeiçoar, cada ano com paciência, a minha cultura musical.Cedo teremos de novo o prazer de cantar juntos estas bonitas canções do repertorio da MPB.
    Um abraço bem apertado meu amigo !!!

    ResponderExcluir
  6. Magnífico Robertinho!Parabéns,por ser grande conhecedor e apreciador desse gênero musical em vários estilos.
    Concordo.Essa sociedade é hipócrita mesmo e uma boa música faz a diferença...é terapia.

    Lindonete Câmara

    ResponderExcluir
  7. rapaz, tenho o privilégio de ser amigo/irmão de Gabru e posso dizer que em matéria de MPB ele deve ser um dos que a conhecem melhor no Brasil, sem medo nenhum de errar. e o conhecimento dele nessa área vai desde os estilos musicais até a equipe técnica/artística envolvida na realização de cada obra. é algo realmente impressionante. meus parabas a Hélio e Gilberto pela maravilhosa iniciativa: do site e da entrevista

    ResponderExcluir
  8. Olá!
    Sempre adimirei a inteligência nata e o talento brilhante do nosso amigo Roberto Gabriel. Tenho conhecimento de poucas pessoas que entendem de MPB, acho que não é apenas pelo fato de ouvir que se entende, é preciso saber ouvir, saber apreciar, saber desenvolver esse prazer e entendimento e saber como transmitir todo esse coquetel de alegria. De fato, o amigo Roberto Gabriel reune todos esses atos.
    Em Santa Cruz-RN, acredito que ele seja uma raridade em nosso meio, ele deveria ser mais procurado e explorado pelas instituições locais, posso citar: as escolas, músicos, poetas e etc.
    Subscrevo-me: AGNALDO FREIRE - SANTA CRUZ/RN

    ResponderExcluir
  9. Parabéns Gilberto pela entrevista. Santa Cruz precisa conhecer o talento de Robertinho. Acredito que o único que tem esse conhecimento sobre MPB. As pessoas precisam saber, e poder descobrir muito mais. Na verdade não existe nada brega, apenas as pessoas não param para ouvir o que uma boa música passa. Nós também estamos de parabéns por ter o privilégio de tantas pessoas capacitadas para ENTREVISTAR e SEREM ENTREVISTADAS em nossa Santa Cruz. Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  10. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  11. "...As canções de amor deveriam alertar essa sociedade hipócrita para amar mais o seu próximo".
    Em Janeiro deste ano,eu sonhei com o pai de Roberto.Para meu espanto,sem que eu nunca o tivesse visto um dia,esse senhor me revelara um vasto material de cunho artístico.Dessa experiência surrealista brotara não somente uma força maior em minhas atividades criativas,mas também me fora revelado numa outra dimensão,que alguns mentores desse movimento pela humanização,esses guerreiros que lutam cotidianamente contra à indústria cultural brasileira, na sua histórica missão de alienar as massas...sim,essas figuras estão ainda no meio de nós,materializadas em acervos culturais de extrema grandeza como Roberto Gabriel.

    ResponderExcluir
  12. Parabens mesmo, esse cara manja do assunto, aproveitei para me informar um pouco sobre a MPB

    Josinaldo - c. c. monte

    ResponderExcluir
  13. Parabéns Robertinho, vc é um senhor mestre da MPB. Me orgulho de um Portelense como vc!!!!!

    Franciana Silva

    ResponderExcluir
  14. Parabéns, grande Robertinho. Você é, de fato, um mestre no tema música. Acho que deveria escrever um livro tipo: "Memórias da MPB"..

    ResponderExcluir
  15. Claro que parabenizo o nosso amg Robertinho, pela grandeza de seu comentário musical do popular brasileiro, não pelos dossiês de Clássicos e popular do Sergio Cabral, grande analista musical, mais pelo vasto tema onde relembra a subversão, época de grandes compositores que marcaram o alavancar de revelações, entre eles nomes "ditos por Ele", também lembrar que, a boa música só é ouvida por quem a conhece. Debora Raquiel tem razão ao dizer que canções de alertas a sociedade Hipócrita de uma analise feita por R. Gabriel, não deixa de ser realmente um acervo vivo da memória - MPB

    Josildo Digital Music Escola

    ResponderExcluir
  16. Robertinho é o maior conhecedor de música do mundo.

    Francisco (Bonitinho)

    ResponderExcluir
  17. Parabéns ao Blog pela excelente entrevista com essa figura ilustre o grande Robertinho.
    Joacildo- Santa cruz-RN

    ResponderExcluir
  18. ótima entrevista. Conversar com pessoas que entende do tema é muito bom e a APOESC acertou em convidar o Robertinho para este bate papo. Parabéns, Robertinho e ao Gilberto.

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”