domingo, 13 de agosto de 2023

ÁFRICA EM MIM




 ÁFRICA EM MIM


Tenho dentro de mim a agonia do mundo.

À noite, quando me deito e penso na liberdade,

Sou o mais prisioneiro dos mortais.

Sou, particularmente, triste.

É tudo cinza.

Não sinto a cor da mudança.

Não ouço o ofuscante brilho da esperança.

Está tudo morto, tudo parado.

Parado na parada do não fazer, do não querer mudar.

Esse conformismo burro, essa submissão cega, são partes de um monstro devorador de almas.

Agora passa das três e não consigo dormir.

O sono não vem.

Ainda estou a pensar num problema insolúvel: a desigualdade social.

Estou a pensar nas crianças mortas na África.

Não sei quantas crianças africanas devem morrer para nos sentirmos desumanos.

Talvez seja esse o problema.

Não é possível sentir África, viver África daqui desse quarto confortável e com a barriga cheia.

Teorizar a pobreza, a desigualdade, é o primeiro passo para não fazermos nada.

Só entende o que é a fome aquele que sente fome.

Só entende os horrores da guerra quem sobreviveu a uma guerra.

Devo dormir? 

Todos dormem.

Eu, não. Minha fome é de justiça.


Nelson Almeida. Natal, 13/08/23. 01:44.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”