DESCOBERTAS INTRIGANTES
Em busca de um novo passatempo, comecei a pensar que velhas lembranças, escondidas nos medos, pudessem servir para impulsionar uma vida serena. Até que, uma certa noite, comecei a revirar o que acreditava ser o baú das recordações. Logo despertou da escuridão algo que me dominou de pavor. Em certa ocasião, comecei a ouvir fortes gritos que vinham de um lugar ainda desconhecido do meu ser. Mesmo com receio, deixei-me levar pela curiosidade até que cheguei à fronteira do desespero e aí tentei voltar para a normalidade, só que não tive mais como. Clamores iam se intensificando de forma que meu coração acelerou e os olhos permaneceram fechados parecendo que as pálpebras me apertavam como se fosse uma grade de ferro me empurrando para os confins do cérebro em uma viagem sem volta.
Na noite seguinte, vozes se intensificaram conduzindo-me para o caminho das incertezas fazendo-me ficar desconfortável dentro de um turbilhão de pensamentos contraditórios.
Sete dias depois, aquela experiência tinha se enraizado junto com as memórias que eu nem sabia mais o que era velho e o que havia sido infiltrado recentemente.
Um fugidio pensamento levou-me a observar, com mais cuidado, as peças que compunham a parte mais elevada da alma, então, conduzi toda as lembranças para um vão antes ignorado com o propósito de esmiuçar o que teria a autenticidade da razão. A voz elevou-se transformando-se em um novo despertar; pupilas dilataram-se tentando me levar para bem distante. Fortalecido pela imagens bruscas que se alternavam, fui caminhando acima do pôr do sol quando um terremoto sacudiu a noite que começou sem que eu pudesse impedir novas aberrações.
Meus passos, involuntariamente, saíram seguindo o escuro caminho que regressava do futuro. Aquela perturbadora imagem acompanhou-me durante dias, maltratando-me.
Anos depois, veio-me uma iluminação feita por um disco que parecia ser uma única e distante constelação branca. Após caminhar por uma trilha difícil, cheguei diante de uma caveira. Ao invés de me afastar, fui para onde estava acontecendo uma sangria de experiências. Lembrei-me, imediatamente, da infância, e isso me fez ver que a caveira era a minha e que eu estava no limiar entre a velhice e a gestação como se fosse uma roda gigante terminando um ciclo e iniciando-se o outro.
Abri a gaveta do tempo e me deparei com um livro preenchido com símbolos feitos por mim em outros espaços. De repente, notei que algo havia sugado toda a história contida no livro, principalmente, a parte dedicada aos momentos solitários. Descartei-o, e logo o futuro se desenhou numa claridade em contraponto com o passado de trevas.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 10.01.2023 - 11h23min
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