ESTÓRIA DA MÃE-DA-LUA.
Grassava o ano de 1958, primavera cadente, seca em todos os pastos do Nordeste. Às noites, o rancho das estrelas, era de uma limpidez a ver tudo a olho nu. O leito do Rio Piranhas era um deserto de areal, com distantes e permeadas cacimbas, escavadas para suprir a necessidades do homem e matar a sede do pequeno rebanho.
As pessoas daqueles sertões, durante o dia, cuidavam de assar cactos para alimentar o gado que ainda sobrevivia. À noite, no copiar, as conversas, o momento do paleio, a estação onde os mais velhos, com as crianças da família e da vizinhança, contavam histórias.
Nesses relatos, as lendas, os contos de fada, os feitos heroicos dos personagens da antiguidade, as travessuras do Saci Pererê, da Caipora, do Lobisomem, eram dissertados para aquela trupe de meninos. Uns se agradavam mais do Pavão Misterioso, da proezas dos Doze Pares de França, da cegonha que vivia de transportar crianças que estavam a nascer.
O clímax era um tanto sinistro, supersticioso, pois, aquelas estórias eram contadas em horas de trevas, véspera de todos se agasalharem para dormir, era um cenário que, de certa forma, trazia lembrança das lendas que no imaginário popular já existia. Passados os relatos, vinham as perguntas.
Naquela noite, meu avô Eloi de Souza havia me levado a uma comunidade muita conhecida na "Cidade", de nome, “Assembleia”. O Caminho passava por baixo de umas oiticicas centenárias, e nelas ouviu-se uma espécie de choro, como se fora de criança. Esse choro repetia-se até não ouvirmos mais, na medida que se distanciava.
Então, naquela noite, eu menino já “taludo”, assombrado com as histórias ou estórias, perguntara ao meu avô, de quem era aquele choro, lá na oiticica por onde passamos. Nesse instante, “salta” uma das beatas, que não eram poucas da “terra dos rosários”, e disse: "Ora, menino, é choro de criança que morreu pagã, e não consegue entrar no céu, e o seu sofrimento só passa, se mandar rezar missa com intenção de sua alma".
Meu avô, não ofertou qualquer reproche àquela versão da beata sobre o choro que nós escutamos; mas, retornando ao nosso convívio, que ficava do outro lado do rio, a “estrela já estava alta”*, começou a desvendar o mistério: “Meu filho, esse choro é da mãe-da-lua, é também conhecida como ave fantasma, chora de melancolia e quase sempre à noite, pois, de dia assume uma posição na ponta de uma estaca seca, sem casca, para não ser reconhecida.
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