quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

TINO EMPRESARIAL - Heraldo Lins

 


TINO EMPRESARIAL


Aos domingos a turma ia à praia espiar as garotas chamativas. Ficavam jogando bola para disfarçar, e se um deles avistasse uma daquelas bem oleosas dava o sinal para análise de acordo com a vez na sequência entre eles combinada. As beldades se inquietavam com os olhares em sua direção e muitas adentravam ao mar, indiretamente, chamando-os para conversarem entre um mergulho e outro.

─ Olhe os navios, moça, ─ começava um deles. Se ela simpatizasse, dizia: ─ ah! Sim, que lindo. ─ Se não fosse com a cara...: ─ estou vendo, não sou cega! ─ Outro entrava no circuito de forma que no final quase todos descolavam uma “mina” para passar o domingo festivo. Alguns iam deixando a turma para se casarem com as conquistas dos domingos. Com o coração não se brinca, diziam os mais experientes. Quando escurecia, voltavam para casa olhando a cidade que se tornava um mistério para os amantes dos banquinhos giratórios dos bares. 

A moça do interior quis saber como era a vida do seu parceiro. Gostava de beber. A tímida escutava-o atenta. Para ela, tudo era desanimador. Veio do interior ser explorada na casa da prima, e naquele dia de folga, saíra para a praia sem muita perspectiva. 

Conheceu o barzinho, levada por aquele que jurava amor eterno. Nunca havia estado em um local com tanta gente bonita e atenciosa, deixando-a totalmente integrada à vida social da grande metrópole. Esse mundo ela nem sonhava que existia. O luxo nos copos de cristais, trouxeram-lhe outra visão da cidade. Seu dia a dia era lavar copos de plásticos desgastados pelo uso. Ali sim, valia a pena trabalhar. Tornou-se um sonho a ser conquistado.  

Lutou desde o princípio pelo seu ideal. Soube que era necessário cursos de gastronomia, garçonete, etiqueta, para se integrar à equipe de trabalho. Ao ser admitida para servir depois da meia noite, quase desiste ao saber que o seu traje noturno era apenas uma saia, e os seios deveriam ficar à mostra enquanto servia aos clientes embriagados. Ficou um pouco constrangida, mas diante das outras moças indiferentes aquele requisito, adaptou-se com rapidez. Logo na primeira noite conseguiu gorjetas referentes ao salário que receberia por mês.  

Seu namorado a deixou depois que soube da nova profissão, mas ela não se importou com aquele que queria lhe dominar. Sua ascensão de fato foi comprovada quando o proprietário expôs à venda e foi ela quem comprou o barzinho. Hoje, depois de ter transformado seu negócio em uma franquia, olha para o passado lembrando que tudo começou com a quase desistência de mostrar os seios por cima da bandeja. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 11.01.2022 – 21:03



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