ANGÉLICA, UMA MULHER PROPAROXÍTONA
De forma explícita, a
retórica do dizer comum não me favorece neste ínterim para expressar os
atributos desta mulher superlativa, humana e intelectualmente.
Por isso, atrevidamente,
fiz opção por estratégias lúdicas para elaborar uma imaginável crônica (quase) poética,
como texto possível de enaltecer esta dama da ciência, ícone dos estudos
linguísticos na UFRN.
Para tanto, também esclareço
que não faço uso das lições do Manual do
cara de pau, de Carlos Queiroz Telles, que ironicamente preconiza que “É
fácil falar difícil”.
A princípio, lembro aos
interlocutores presentes a mística composição do nome de batismo, Maria
Angélica, pois já atiça a nossa imaginação a ponto de evocar modelos sacros e
heroicos da cultura universal.
No entanto, entre
tantos predicados evidentes, vou tentar construir um frame biográfico, utilizando
a metáfora como ferramenta metalinguística e tendo como moldura o cenário
acadêmico.
Carioca do bairro do
Catete, já faz tempo que trocou os mares do Sudeste pelos mares e ares do Nordeste,
principalmente os da ensolarada capital potiguar, tendo como habitat urbano uma aconchegante casa com
vista para a enseada de Ponta Negra. Privilégio indescritível, abrir a janela, todas
as manhãs, e receber a brisa suave e fresca regida pelas águas tépidas do
Atlântico.
A nossa homenageada, portanto,
é uma pessoa cidadã plena de tonicidade pela vida. Uma persona, sem máscara, no
teatro da ciência. Uma mente elevada por propósitos límpidos na abertura de
caminhos científicos e pacíficos nas pairagens linguísticas. Tem capacidade
multivalencial que lhe permite se locomover na transitividade funcional de
todas as estruturas argumentais das práticas sociocomunicativas. Ensina. Pesquisa.
Orienta. Escreve. Traduz.
No itinerário de suas
pesquisas, já percorreu a passos largos as trilhas do estruturalismo e as
veredas do gerativismo. Adentrou os caminhos do funcionalismo clássico
norte-americano, e avançou o roteiro, chegando ao funcionalismo contemporâneo,
que se deixa avizinhar-se das fronteiras cognitivistas, especificamente das
teorias que abordam a construção, o contexto, a variação e mudança dos
elementos linguísticos. Faz parte do grupo seleto que projetou a nova
arquitetura epistemológica do funcionalismo em terras brasileiras, a já
promissora Linguística funcional centrada
no uso. E, sem esquecer nenhum desses idealizadores, cito, em nome dos
demais, o nome de outra mulher culturalmente proparoxítona: Mariângela Rios.
Outra parceira sua, cuja interlocução vai além dos diálogos acadêmicos.
Aqui invoco, ainda, a
memória saudosa do seu amicíssimo parceiro de pesquisas, prof. Mário
Martelotta, que costumava sentenciar que “O tempo é uma passarela”. E essa
passarela do tempo proporcionou à grande mestra, ao longo de quatro décadas, com
sua vivência e didática, poder transformar a vida de muitos jovens nos níveis
da graduação e pós-graduação.
Sempre ética em suas
atitudes e profilática em seus textos, sabe dosar a orientação técnica com a solicitação
rígida, “sem perder a ternura jamais”.
Hoje, aposentada, no
ápice da carreira docente, chega ao pedestal máximo do reconhecimento público e
institucional, quando será homenageada com o título de Professora Emérita, ato
magnífico que me incentiva a declinar a concordância gramatical para o feminino.
Não há dúvida, sua
estatura pequena projeta uma silhueta de dimensão proparoxítona. Um espírito de
visão absolutamente pancrônica.
Facilmente podemos
descrevê-la com os adjetivos mais raros e caros nestes tempos de valores
mediocráticos.
Íntegra. Lúcida.
Pragmática. Solícita. Esplêndida.
Por fim, em gesto
unânime e uníssono, vamos aplaudir com júbilo a Profa. Dra. Maria Angélica, confirmando
as palavras do prof. Sebastião nesta cláusula intransitiva:
- “A moça
merece”.
P.S.: O livro em homenagem a Angélica "Pesquisas funcionalistas: da versão clássica à perspectiva centrada no uso" está disponível no repositório institucional da UFRN. Favor acessar e compartilhar o link: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/32775. Boa leitura!
José
da Luz Costa
UFRN
Natal,
25-06-2021
Excelente crônica e magnífica homenagem a quem tanto serviço prestou à educação, às ciências. Homenagem muito oportuna num dia como hoje: Dia dos profissionais da educação.
ResponderExcluirParabéns aos dois.
João Maria de Medeiros Dantas
Obrigado, João.
ExcluirEssa mulher carioca realmente tem toda uma vida de estudos, ensino e pesquisa dedicada à educação universitária do RN.
Muito bem Zé da Luz... Parabéns... lembrei-me de Rui Barbosa.
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