sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Crônica em Homenagem à Profª Drª Maria Angélica Furtado da Cunha

 


ANGÉLICA, UMA MULHER PROPAROXÍTONA

 

De forma explícita, a retórica do dizer comum não me favorece neste ínterim para expressar os atributos desta mulher superlativa, humana e intelectualmente.

Por isso, atrevidamente, fiz opção por estratégias lúdicas para elaborar uma imaginável crônica (quase) poética, como texto possível de enaltecer esta dama da ciência, ícone dos estudos linguísticos na UFRN.

Para tanto, também esclareço que não faço uso das lições do Manual do cara de pau, de Carlos Queiroz Telles, que ironicamente preconiza que “É fácil falar difícil”.

A princípio, lembro aos interlocutores presentes a mística composição do nome de batismo, Maria Angélica, pois já atiça a nossa imaginação a ponto de evocar modelos sacros e heroicos da cultura universal.

No entanto, entre tantos predicados evidentes, vou tentar construir um frame biográfico, utilizando a metáfora como ferramenta metalinguística e tendo como moldura o cenário acadêmico.

Carioca do bairro do Catete, já faz tempo que trocou os mares do Sudeste pelos mares e ares do Nordeste, principalmente os da ensolarada capital potiguar, tendo como habitat urbano uma aconchegante casa com vista para a enseada de Ponta Negra. Privilégio indescritível, abrir a janela, todas as manhãs, e receber a brisa suave e fresca regida pelas águas tépidas do Atlântico.

A nossa homenageada, portanto, é uma pessoa cidadã plena de tonicidade pela vida. Uma persona, sem máscara, no teatro da ciência. Uma mente elevada por propósitos límpidos na abertura de caminhos científicos e pacíficos nas pairagens linguísticas. Tem capacidade multivalencial que lhe permite se locomover na transitividade funcional de todas as estruturas argumentais das práticas sociocomunicativas. Ensina. Pesquisa. Orienta. Escreve. Traduz.

No itinerário de suas pesquisas, já percorreu a passos largos as trilhas do estruturalismo e as veredas do gerativismo. Adentrou os caminhos do funcionalismo clássico norte-americano, e avançou o roteiro, chegando ao funcionalismo contemporâneo, que se deixa avizinhar-se das fronteiras cognitivistas, especificamente das teorias que abordam a construção, o contexto, a variação e mudança dos elementos linguísticos. Faz parte do grupo seleto que projetou a nova arquitetura epistemológica do funcionalismo em terras brasileiras, a já promissora Linguística funcional centrada no uso. E, sem esquecer nenhum desses idealizadores, cito, em nome dos demais, o nome de outra mulher culturalmente proparoxítona: Mariângela Rios. Outra parceira sua, cuja interlocução vai além dos diálogos acadêmicos.


Aqui invoco, ainda, a memória saudosa do seu amicíssimo parceiro de pesquisas, prof. Mário Martelotta, que costumava sentenciar que “O tempo é uma passarela”. E essa passarela do tempo proporcionou à grande mestra, ao longo de quatro décadas, com sua vivência e didática, poder transformar a vida de muitos jovens nos níveis da graduação e pós-graduação.

Sempre ética em suas atitudes e profilática em seus textos, sabe dosar a orientação técnica com a solicitação rígida, “sem perder a ternura jamais”.

Hoje, aposentada, no ápice da carreira docente, chega ao pedestal máximo do reconhecimento público e institucional, quando será homenageada com o título de Professora Emérita, ato magnífico que me incentiva a declinar a concordância gramatical para o feminino.

Não há dúvida, sua estatura pequena projeta uma silhueta de dimensão proparoxítona. Um espírito de visão absolutamente pancrônica.

Facilmente podemos descrevê-la com os adjetivos mais raros e caros nestes tempos de valores mediocráticos.

Íntegra. Lúcida. Pragmática. Solícita. Esplêndida.

Por fim, em gesto unânime e uníssono, vamos aplaudir com júbilo a Profa. Dra. Maria Angélica, confirmando as palavras do prof. Sebastião nesta cláusula intransitiva:

- “A moça merece”.




P.S.: O livro em homenagem  a Angélica "Pesquisas funcionalistas: da versão clássica à perspectiva centrada no uso" está disponível no repositório institucional da UFRN. Favor acessar e compartilhar o link: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/32775. Boa leitura!

 



José da Luz Costa

UFRN

Natal, 25-06-2021

3 comentários:

  1. Excelente crônica e magnífica homenagem a quem tanto serviço prestou à educação, às ciências. Homenagem muito oportuna num dia como hoje: Dia dos profissionais da educação.
    Parabéns aos dois.

    João Maria de Medeiros Dantas

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    Respostas
    1. Obrigado, João.
      Essa mulher carioca realmente tem toda uma vida de estudos, ensino e pesquisa dedicada à educação universitária do RN.

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  2. Muito bem Zé da Luz... Parabéns... lembrei-me de Rui Barbosa.

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