O UBERNISTA
Ontem viajei de Uber. Durante o percurso ouvi a vida resumida do condutor. Contou-me que sua mulher estava com câncer e que ele, mesmo na terceira idade, precisava continuar trabalhando.
Aparentemente, quando jovem, era fanfarrão e mulherengo. Essa avaliação faço escondido dele, nem sei se era. Ele continuou dizendo que estava pagando dois mil reais de juros a um agiota para usar vinte mil no tratamento daquela que o suportou bêbado. Essa avaliação de que ele era um cachaceiro, também é da minha doentia mente.
Ele continuou dizendo que havia sido caminhoneiro... pensei: deve ter sido o caminhoneiro que tirou dez cópias do registro de nascimento para casar-se com mulheres diferentes. Estelionatário, isso é o que é. Pensa que não conheço sua história?
Eu disse que só não lhe ajudaria porque não era da sua família, e que a dele era muito ruim por não querer contribuir. Ele sorriu e passou a me elogiar dizendo que ainda bem que existem pessoas como eu que entende o sofrimento alheio.
Meu discurso foi acalentador. Falei que o seu sofrimento não era nem uma infinitésima parte do que Jó havia sofrido. Que ele era um abençoado por estar com saúde e disposição para amparar sua querida esposa. Disse-lhe ainda que aproveitasse esse momento para se purificar, assim, jamais iria se queimar no fogo do inferno.
Depois que saí do veículo, pensei: ainda bem que não gosto de julgar as pessoas.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 15/06/2021 – 09:45
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