MEU ENCONTRO COM JOÃO MARIA
Prezado João Maria:
Você não faz ideia do quão significativo foi para mim o breve encontro que tivemos, à primeira vista com objetivos puramente comerciais.
No decorrer de semanas você havia manifestado interesse em adquirir nosso livros. 3 obras cujo valor final, para o tempo de vacas magras em que estamos metidos, não deixou de ser significativo. Para piorar o desfalque financeiro, eu passei o tempo inteiro insistindo com você, apelando para que fechássemos a nota e eliminássemos a necessidade de troco.
Temendo a possibilidade de levarmos ou trazermos para a casa um do outro o maldito vírus, marcamos um lugar neutro, a Praça Tequinha Farias.
Foi um momento mágico, tocante para mim que o conheço a décadas. Foi o reencontro com um amigo com quem trabalhei em duas instituições, com quem insisti para que participássemos do curso de Literatura de Cordel ministrado pelo poeta José Acaci; alguém com quem dei boas risadas em intervalos de aula, com quem refleti seriamente sobre problemas da vida, com quem me identifico em tantas coisas. Alguém com quem engatinhei literariamente quando produzi meu cordel sobre a morte de Seu Quinado, de Dick e você sobre a história de Santa Cruz e tantos outros. Alguém que sempre me incentivou a continuar escrevendo e a quem sempre estimulei para que produzisse crônicas e poemas. Bem mais que um colega de trabalho, alguém que se preocupou comigo e com quem igualmente me preocupei em momentos chave de nossa vida.
Não. Nosso breve encontro representou para mim muito mais que um momento de transação comercial. Senti, desde o começo, que seu interesse pelo livro de Marcos Cavalcanti, pelo meu e pelo de Nailson transcendia os de um simples leitor. Tinha a ver com amizade, com valorização da literatura local e atitude respeitosa. Sei, por sua própria boca, o quanto gosta de Marcos e de Nailson, quanto os admira.
De minha parte e da sua, houve toda uma atenciosa preparação para aquele breve momento em que fugimos um pouco de nossas prisões voluntárias. Com você, estava sua amada filhinha, seu insubstituível poema de carne e osso, sua melhor crônica. Ela, conforme falou-me, tinha admiração por mim e, por isso, vivenciou intensamente a expectativa daquele encontro. Por isso fiz questão de citá-la no meu oferecimento; por isso seu exemplar é o único que tem duas dedicatórias.
Amigo, pouco pudemos nos ver, pois estávamos mascarados e a praça semi-deserta estava pouco iluminada. Mas seus olhos e os de sua filha me disseram muito. Percebi seu profundo desejo de entabular uma boa conversa comigo e ao mesmo tempo o desejo de ser atencioso, enquanto os protocolos eram educada e alegremente cumpridos à risca. Faltaram abraços e apertos de mão, mas nossos olhos brilharam com eloquência, não nos faltou calor humano.
Comovi-me quando, ao dar-lhe o troco, você insistiu para que ficasse comigo; desse modo, minha proposta gananciosa (feita em tom de brincadeira) se efetivaria, o que de modo algum aceitei. Agradeci-lhe pelo gesto generoso, tão revelador de sua personalidade.
O ambiente era lúgubre; estávamos diante de um cemitério e do lado oposto havia uma cruz, e isso em um momento de muitos temores e grandes perdas. A literatura era, naquele momento, nosso ponto de intersecção e de fuga, o cubo que motivou o encontro e fez girar a roda da conversa.
Ao tirar as fotos, uns 3 fatores contribuíram para que não saíssem a contento: minha técnica precária, a baixa luminosidade e o fato de estarmos mascarados. Mas tenha certeza de uma coisa: seus olhos e atitudes, - seus e de sua filha - deixaram belas imagens gravadas em meu coração.
Jamais esqueça que você é dotado de uma inteligência acima da média e possuidor de talentos inquestionáveis, comprovados ao longo da vida e nos concursos a que se submeteu. Você é extremamente importante não só para os que de você dependem que o amam e que se sentem bem ao seu redor, mas também por seu legado ao município. Como educador, produziu bons frutos e seus ex-alunos hoje são seus amigos e admiradores; como escritor, produziu obras que devem ser preservadas por sua importância histórico-literária. Você mostrou ter um bom faro temático ao redigir seus cordéis, escreveu textos relevantes. Que seu nome se torne, com justiça, parte da história do Trairi!
Com gratidão, profundo carinho e respeito,
Gilberto Cardoso dos Santos, Santa Cruz, 23.06.2021
João Maria,bom amigo, bom pai, bom esposo, bom escritor! As suas palavras firmes, verdadeiras e certeiras, Gilberto, só contrastam com seu registro fotográfico. O brilho dos olhos de João e de sua filha, nos comove a nós três, seus admiradores também! João, muito obrigado pela amizade e pelo carinho de sempre! Daqui, deste bairro de Santa Cruz, chamado natal, mando o meu abraço!
ResponderExcluirObrigado, Marcos Cavalcanti, grande escritor e amigo. O que Gilberto falou da minha admiração por você e Naílson é algo muito verdadeiro.
ExcluirJusta homenagem ao ilustre professor João Maria. Sinto profunda admiração pelo grande guardador de tesouros ( a biblioteca,coração de uma escola). Tal qual João (e Maria da história que resiste à passagem do tempo), o nobre colega semeia pequenos grãos de sementes do amanhã e pedacinhos de pães que além de guiar , alimenta a alma dos leitores da nossa querida escola.
ResponderExcluirQuerido João Maria, receba um abraço carregado de amor e gratidão e saiba do meu respeito e apreço. Você é grande!
Parabéns, Gilberto, pela sensibilidade do texto.
Luzia Pessoa
Obrigado, minha amiga Luzia.
ExcluirFaltam-me palavras, meu amigo, para agradecer a homenagem, a descrição daquele momento importante!!
ResponderExcluirAo lê o texto, as lágrimas desceram
pelo neu rosto. Só sua sensibilidade consegue absolver sentimentos imperceptíveis!!
Como disse, faltam-me palavras.
Muitíssimo obrigado.
João Maria de Medeiros Dantas
Um texto lindo sobre amizade e gratidão!! Parabéns a todos os envolvidos!! E boa leitura (os livros são maravilhosos)!!
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