O PODER
TEM DESSAS COISAS
Um rato
acordou e viu que sabia falar. A primeira ação foi sair à procura de emprego. Na
entrevista dizia que sabia resolver problemas na escuridão, passar por baixo de
portas e se esconder que nem a polícia o encontraria. Os outros ratos ficaram
admirados com tamanha modificação que o aposentaram por invalidez.
Mesmo
sendo um aposentado estava radiante por saber falar bonito. Para ele era uma
grandiosa novidade e por isso não parava de tagarelar. Encontrou um partido político
que lhe ofereceu uma chance de subir na escala social. O rato pediu conselho
aos atuais cassados que o apoiaram. Perguntaram seu nome e ele teve que
inventar Ernesto com sobrenome Silva. Foi eleito na primeira tentativa. Comprou
votos e prometeu uma felicidade eterna para quem nele votasse. Sua experiência em
mentir lhe dava uma vantagem extra, transformando-se em autoridade. Difícil era
ser honesto. Quase impossível para um rato. Começou vendendo o que havia de
mais sagrado: seu voto. Com isso vendeu a reboque sua consciência, se é que
rato possui consciência. O seu proceder era fazer discursos inflamados na
tribuna e ajoelhar-se nos bastidores pedindo desculpas. Continuou fazendo
sucesso a ponto de se eleger o número um. Lá era o todo poderoso ratão com trânsito
livre no submundo do crime. Naturalmente a ambição cresceu para continuar roendo
o queijo, e só pensava em dar o golpe fatal. No comando, mandou transformar
todas as ratoeiras em gatoeiras. Não poderia deixar seus rivais à solta. Agora
poderia falar o que quisesse que não seria criticado. Tornou-se um ditador, e para
se manter no poder gritava sem parar: sou Ernesto o honesto. Porra!
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN,
25/01/2021 – 16:47
84-99973-4114
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