TESTEMUNHA
OCULAR DA HISTÓRIA
Procuro tirar as teias de aranha para encontrar algo
de valor. Um sótão cheio de baús com uma cobra dormindo atrás. Era ela que
estava fazendo desaparecer as galinhas poedeiras. Encontro um pedaço de madeira
e com ele esmago a cabeça da salamandra. Dentro do baú roxo estão fotos feitas
há décadas. São imagens de pessoas desconhecidas. Nada importante. Fecho o baú.
Esperava encontrar muitas joias. Apenas papéis amarelados encontro no baú
vermelho. Passo para o seguinte. Marrom, também com o pó em cima. Abro-o.
Encontro um espelho. A inscrição me diz que era da idade média. Passo o punho
da camisa em cima e ele emite um som de quem está acordando. Uma voz vem de
dentro perguntando o que quero saber. Perguntei-lhe como transformar pedra em
ouro. Com facilidade disse-me, pacientemente, o passo a passo para produzir o
metal em alta escala. Os números do próximo sorteio da loteria, digitei no
celular. Quando fui saindo a voz ressoou: é sua vez de ficar no espelho. Tentei
negociar, mas, automaticamente, fui transferido para dentro do espelho. Deparei-me
com todas as memórias lá, inclusive, as minhas esquecidas. Chorei ao ver meus
primeiros passos. Ri com minhas travessuras. O mundo das memórias era como um
salão de piso preto. Nas paredes brancas passavam imagens do vivenciado. A
memória dos estressados passava rápida. A dos calmos, vagarosamente. Dos
pessimistas escuras. A dos otimistas, em tons azulados. Imagens do mundo todo
em todos os tempos. Senti-me milionário. Conhecer tudo sem os acertos
históricos, sem os acordos bilaterais, era meu sonho. Ali estava Cleópatra
enrolada no tapete. Júlio César sendo assassinado. Joana D’arc com seus famosos
seios a descoberto. Eu parecia como uma criança de brinquedo novo. Que
maravilha saber como haviam sido construídas as pirâmides. Acessei a memória do faraó Quéops e vi os construtores enchendo a fôrma de
madeira com o barro que, ao secar, seria transformado em pedra. Muito parecido
com o concreto que conhecemos hoje. Fiquei curioso para descobrir a fórmula do
barro/pedra, mas alguém estava limpando o espelho e tive que trocar de lugar
com ele. Que pena!
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 05/01/2021 – 17:46
84-99973-4114
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