quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

TESTEMUNHA OCULAR DA HISTÓRIA - Heraldo Lins

 


TESTEMUNHA OCULAR DA HISTÓRIA 

 


Procuro tirar as teias de aranha para encontrar algo de valor. Um sótão cheio de baús com uma cobra dormindo atrás. Era ela que estava fazendo desaparecer as galinhas poedeiras. Encontro um pedaço de madeira e com ele esmago a cabeça da salamandra. Dentro do baú roxo estão fotos feitas há décadas. São imagens de pessoas desconhecidas. Nada importante. Fecho o baú. Esperava encontrar muitas joias. Apenas papéis amarelados encontro no baú vermelho. Passo para o seguinte. Marrom, também com o pó em cima. Abro-o. Encontro um espelho. A inscrição me diz que era da idade média. Passo o punho da camisa em cima e ele emite um som de quem está acordando. Uma voz vem de dentro perguntando o que quero saber. Perguntei-lhe como transformar pedra em ouro. Com facilidade disse-me, pacientemente, o passo a passo para produzir o metal em alta escala. Os números do próximo sorteio da loteria, digitei no celular. Quando fui saindo a voz ressoou: é sua vez de ficar no espelho. Tentei negociar, mas, automaticamente, fui transferido para dentro do espelho. Deparei-me com todas as memórias lá, inclusive, as minhas esquecidas. Chorei ao ver meus primeiros passos. Ri com minhas travessuras. O mundo das memórias era como um salão de piso preto. Nas paredes brancas passavam imagens do vivenciado. A memória dos estressados passava rápida. A dos calmos, vagarosamente. Dos pessimistas escuras. A dos otimistas, em tons azulados. Imagens do mundo todo em todos os tempos. Senti-me milionário. Conhecer tudo sem os acertos históricos, sem os acordos bilaterais, era meu sonho. Ali estava Cleópatra enrolada no tapete. Júlio César sendo assassinado. Joana D’arc com seus famosos seios a descoberto. Eu parecia como uma criança de brinquedo novo. Que maravilha saber como haviam sido construídas as pirâmides. Acessei a memória dfaraó Quéops e vi os construtores enchendo a fôrma de madeira com o barro que, ao secar, seria transformado em pedra. Muito parecido com o concreto que conhecemos hoje. Fiquei curioso para descobrir a fórmula do barro/pedra, mas alguém estava limpando o espelho e tive que trocar de lugar com ele. Que pena!          

 

 


Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Natal/RN, 05/01/2021 – 17:46

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