PINTURA
ESCRITA
O vício de letrar a parede da tela me chama. O
infinito dos pensamentos abre a porteira do sono e fico sem ele no curral. Vou
campeá-lo com um laço de fumaça montado em meu dissimulado desejo de permanecer
aceso. O deserto à frente me aguarda. Só areia avisto com o alcance de olho
humano. Mas há, um porém. Posso colocar um oásis logo em seguida, com isso
torna-se o vento suave e a temperatura aceitável. É o poder de criação atuando
nas águas límpidas da lagoa. Pássaros pousam com minha permissão. Uma águia voa
alto, mas essa eu não convidei. Apago sem cerimônia. Prefiro deixar as aves sem
preocupação com o predador. Para não borrar o céu azul, construo uma nuvem onde
a águia estava. No meu quadro literário, há também uma vegetação rasteira além
de um coqueiral. Prefiro coqueiral, a palmeiras sem frutos. Precisamos ter
alimento. A horta ao lado é vigiada pelos cães domesticados na pastora do
rebanho. Sim, há um rebanho encurralado ao lado da casa com dois andares.
Prefiro, mesmo no deserto, morar no alto. Como é bom construir sem depender de
pedreiros, carpinteiros e outros mais. Vou com mais calma. A construção precisa
maturar para criar um vínculo cultural comigo. Não posso morar sozinho. Coloco pessoas,
dez, com os nomes e tamanho diferente. Preciso fazer o harém, afinal elas
precisam ter seus aposentos. Quartos ornamentados com safiras e portas de ouro
maciço. Não existem trabalhadores. Apenas máquinas comandadas por controle
remoto executam as tarefas. O alimento vem através de drones. Chamo-os do
celular. As mesas por elas mesmas se desmontam e quando não estão sendo usadas,
transformam-se em lastro de camas. Minha casa totalmente automatizada foi
naturalmente também construída em minutos. As próprias máquinas constroem e, ao
se quebrarem, autoconsertam-se. Não sou rico, apenas mais um morador comum do
planeta ideal. Todos vivemos assim. A tecnologia é pequena comparada com as
mulheres que chegam. Foram robotizadas para obedecer. Algumas partes
conservadas e outras eletronicamente incorporadas. Até eu preciso agora me
desligar um pouco. Minha bateria está precisando recarregar. Bip bip bip...
Heraldo Lins
Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 06/01/2021
– 01:03
84-99973-4114
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