domingo, 22 de novembro de 2020

A DOR DA ELEGÂNCIA - Heraldo Lins

 


A DOR DA ELEGÂNCIA


Sapato apertado, fechadura emperrando e fogão entupido.

Pense em três "maravilhas". No primeiro caso a cadeira da festa tem grande serventia. Prefere-se ficar sentada em detrimento da conquista do par. Uma cena nada agradável é ver bêbadas voltando para casa com sapatos na mão. É tão humilhante que precisam encher a cara para protagonizarem tal cena. Os de salto agulha,  sonho de consumo de quase todas, passam a ser indesejáveis. Presenteia-se  a irmã mais nova. E quando há outras na família, o objeto de tortura vai passando de pé em pé até chegar aos da empregada. Esta, contente com o presente, pensa logo em  esnobar a vizinha. A imagem que ela criou de ser uma mulher elegante, desaparece quando aproxima-se de casa. Ao caminhar no calçamento com os de salto agulha, assemelha-se a uma corrida de saco entre rodas-gigantes. A outra grita: engoliu uma bicicleta, mulher!? Ela finge que não ouve. Tira a chave da bolsa e tenta abrir a porta. A maldita fechadura emperra. A inconveniente vem para mais perto. Sapato novo, hein! Foi quem que deu? A coitada, depois de um dia de serviço, precisa, urgentemente, entrar em casa. Mas a fechadura não ajuda. A outra continua: quem passou aqui foi Arnaldo perguntando por tu. Uma chuva fina começa a cair. Estava com fome, mas o jantar  não pode ser preparado. Assim como esqueceu de colocar óleo na fechadura, também o fogão sem funcionar fará parte desta estória. Faltava só a alça do soutien se partir e o botão da blusa cair. Eu disse a Arnaldo que você estava noiva.  Ele foi embora zangado. Um murro na porta a fez abrir. Ela entrou. A chuva parou.  A vizinha foi embora antes de ver um par de sapatos ser queimado.


Autor: Heraldo Lins Marinho Dantas

Santa Cruz/RN, 21/11/2020


Heraldo Lins é arte-educador 

Zap:  84-99973-4114

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Um comentário:

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