domingo, 22 de novembro de 2020

VIVI VIVE - crônica de Diogenes da Cunha Lima

 


VIVI VIVE

Diogenes da Cunha Lima

      

O centenário de nascimento de Veríssimo de Melo, em 2021, será marcado por celebrações e por projetos de pesquisadores, notadamente universitários. Afinal, as histórias que ele contou continuam na boca do povo.

Segundo Oswaldo Lamartine, ele tinha nome de passarinho: Vivi. Professor de Antropologia Cultural e de Etnografia, jornalista assíduo, exerceu funções do Direito como advogado e juiz. Legou à vida intelectual obra lúcida e variada.

O motivo condutor de sua ação cultural foi o de buscar um novo conhecimento, dar diversa interpretação, desvendar novos caminhos. Sempre de bom humor, gostava de afirmar que era superficial. Para ele, profundo era Nietzsche e Albert Einstein. Nietzsche acabou no hospício e Albert Einstein, gênio, mandava aos amigos que descriam na ciência seu retrato com a língua estirada.

Veríssimo era curioso, buliçoso. Quando se esperava o aprofundamento de suas pesquisas, ele já se dedicava a novo tema. O antropólogo cultural já se revelava desde as primeiras obras publicadas: “Adivinhas”, “Acalantos”, “Parlendas”.

Preferia dar sabor local, como “Xarias” e “Canguleiros”. É fruto do seu amor à terra. Recolhia cantos de violeiros, singulares de cordéis nordestinos. Eram glosados os acontecimentos notáveis pelos poetas populares. De Tancredo Neves à visita do Papa ao Brasil.

“Folclore Infantil” é, até hoje, o melhor estudo sobre língua portuguesa. Os ensaios sobre folclore brasileiro tiveram guarida em revistas especializadas de Portugal, Espanha e Alemanha.

“Faça-se a Luz”, livro sobre a história da energia no Rio Grande do Norte, é único e inovador, a partir do título. Nele, aborda o nosso grande potencial energético. Registra o pioneirismo da energia eólica nas salinas manuais. Prevê a expansão de novas técnicas de energia solar, especialmente no Nordeste. Adverte para o potencial energético potiguar com a utilização do mar e de plantas nativas como o aveloz.

Foi um dos mais fiéis discípulos de Câmara Cascudo. O nosso Mestre gostava de brincar sobre a magreza e sagacidade de Vivi: “Ele é capaz de passar, sem se molhar, entre dois pingos de chuva. Vivi imita a letra i”. Dava entonação especial ao nomen juris de sua função judicante: “Você é um Juiz Ordinário....”

Apaixonado por música, principalmente a Bossa Nova, Veríssimo de Melo mereceu escolha de suas melodias por grandes intérpretes nacionais. Quando criava nova música, desafiava amigos: “Se você for capaz, ponha letra hoje mesmo. Várias vezes, aceitei o desafio. Alegrei-o com “Assunto Pessoal” e “Brinco de Amor”. Sobre outras letras, comentou apenas: “É o jeito!”.

Vivi continua vivendo, enquanto houver memória do que tivemos de bom.


Diógenes da Cunha Lima (poeta, prosador e compositor) é advogado e presidente da ANL (Academia Norte-rio-grandense de Letras). Alguns de seus livros: “Câmara Cascudo - Um Brasileiro Feliz”, “Instrumento Dúctil”, “Corpo Breve”, “Os Pássaros da Memória”; “Livro das Respostas” (em face do “Libro de las preguntas”, de Pablo Neruda); “A Memória das Cores”; “Memória das Águas”; “O Magnífico”; “A Avó e o Disco Voador” (infantil). 

Foi Presidente da FJA, Secretário de Estado; Consultor Geral do Estado; Reitor da UFRN; Presidente do CRUB. Atualmente, dirige o seu Escritório de Advocacia e preside a ANL (Academia de Letras). Alguns de seus livros: “Câmara Cascudo - Um Brasileiro Feliz”, “Instrumento Dúctil”, “Corpo Breve”, “Os Pássaros da Memória”; “Livro das Respostas” (em face do “Libro de las preguntas”, de Pablo Neruda); “A Memória das Cores”; “Memória das Águas”; “O Magnífico”; “A Avó e o Disco Voador” (infantil).

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