sábado, 17 de outubro de 2020

NA BOCA DO FOGAREIRO - Miguezim de Princesa (Miguel Lucena Filho)








NA BOCA DO FOGAREIRO (Miguezim de Princesa)

I

Antes era no colchão

Que se guardava dinheiro,

Depois usaram a cueca

Como novo mealheiro

E agora escondem a grana

Na boca do fogareiro.


II

Quando bateram na porta,

O senador se tremeu,

Olhou pra achar um buraco,

Não achou e resolveu

Por três maços de 200

Na porta do camafeu.


III

Arrumou os três pacotes

Dentro do samba-canção,

Em seguida abriu a porta

Pro Delegado Sansão

E disse: "Aqui é limpeza,

Não temos corrupção!".


IV

Começou por toda a casa

A busca e apreensão:

Acharam um cofre escondido,

Lá por detrás do fogão,

Todo socado, entupido,

Com mais de meio milhão.


V

Lá pras tantas, o senador

Disse que ia urinar,

O Agente Zeferino

Resolveu o acompanhar

E achou um pouco estranho

Aquele jeito de andar.


VI

Me responda, senador:

Você tá entiriçado?

O passo está bem miúdo,

Parece um pinto piado,

Ou o senhor se assou

Ou está todo cagado.


VII

Foi então que o delegado

Resolveu o quiproquó:

- Senador, tire essa roupa,

Para um exame melhor!

Aí acharam os três maços

Na boca do fiofó.


VIII

Em Brasília, Bolsonaro

Ficou muito revoltado,

Retirou da liderança

O senador enrolado

E disse: "Além de ladrão,

Esse tá afolosado!".


IX

A Direção do BC

Ficou muito indignada:

- Uma nota tão novinha,

Bonita, recém-lançada,

Agora volta pra cá

Amarela e desbotada.


X

Fizeram o exame da goma

No nobre parlamentar:

Ele sentou numa bacia

E começou a bufar,

Mas não restou nenhuma prega

Pro perito apreciar.


XI

A coisa ficou ruim

Pra quem gosta de contar

Dinheiro passando a mão,

Indicador e polegar,

Na língua velha estirada

Com cheiro de vá lavar.


XII

Inda ontem no Senado,

O líder da oposição

Se  mostrava impressionado

Com a força do Chicão:

Ou a nota era pequena

Ou ele tem o Centrão!


Biografia de Miguel Lucena Filho

Miguezim é poeta, jornalista, advogado e delegado da Polícia Civil do Distrito Federal, redator da “Tribuna da Bahia”, repórter da “Folha de São Paulo”, de “O Norte” e “A União”, em João Pessoa, redator e editor do “Diário da Borborema”, repórter de “A Tarde”, em Campina Grande, e redator do “Correio da Bahia”, em Salvador. Foi diretor dos Sindicatos dos Jornalistas da Paraíba e da Bahia e da Federação Nacional dos Jornalistas. Lucena escreveu sua primeira poesia aos 10 anos e guardou, até a adolescência, seu acervo, numa caixa de papelão que, confundido com papel velho foi jogado no lixo. Acabrunhado, interrompeu sua produção artística e só brincava de repentista, eventualmente, com os amigos. Depois de algum tempo voltou a versejar, nas horas vagas, e, recuperando o tempo perdido, publicou o livro de poemas “Verso-Menino”. Dotado de espírito crítico e bom humor invulgar, Miguezim, encanta a todos com seu repertório.

Auto-Biografia de Miguel Lucena Filho

Como não poderia deixar de ser, o inspirado cordelista, faz sua apresentação pessoal em forma de poesia.


Meu nome é Miguel Lucena,

o Miguezim de Princesa,

saio espalhando alegria

para espantar a tristeza;

no entulho da feiúra

boto um rio de beleza.

Meu pai é Migué Fotogra,

minha mãe é dona Emília,

minha casa é de oito irmãos,

meu filho é uma maravilha,

minha mulher é meu amparo,

meu coração é família. (...)

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