segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Não suavizei Tem muita coisa escrita - Luzia Pessoa


Em menos de dois anos as pessoas mais importantes da minha família morreram. Sem eufemismos. A morte andou viva lá por casa. Levou meu pai,  a minha mãe e de forma impiedosa, em menos de sessenta dias da orfandade,  levou a minha querida irmã.  uma irmã que era uma irmãe. 

Fiquei devastada. Com o passar dos dias veio um lampejo de coragem para a  travessia do deserto sem  oásis. Achei, por muitas vezes, ter ido a nocaute, que estava desprovida de toda e qualquer espiritualidade que me desse coragem ou mitigasse a luta.

Os remédios sintéticos só empurravam tudo para trás das cortinas da casa dos meus pais. Qualquer brisa fraquinha empurrava essas cortinas e lá estava a via crucis com todas as estações, incluindo o calvário.

A minha cidade natal, Currais Novos, perdeu grande parte do encanto para mim. 

Precisei perder  aquilo que era “tudo” para perceber como o “nada” é importante. Chamam isso de resiliência. Eu digo que escapei fedendo...aliás, escapei não, vivo na peleja para  escapar. Hoje acho a trivialidade da vida  encantadora. Por isso agradeço a Deus pelos mínimos presentes do meu simples cotidiano. Agradeço por abrir os olhos de manhã ( e sobre olhos quem me conhece sabe da cruz que carrego com a minha visão), agradeço por mais uma noite e por ter perdido o medo da morte que mesmo com as vivências "hospitalentas", essa realidade era algo que me causava um certo medo...

Sei da importância de cuidar da saúde, mas tenho a consciência  da ciência que não há garantias em nada. Por mais cuidado que se tenha,  somos instantes. Daí a importância de sermos bons sem pensar em recompensas. Como diz a canção: 

"Na vida é preciso aprender
 Se colhe o bem que plantar
 É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar"

Estou realmente focada nisso, no aqui, no agora. Estou onde estou. Solta no mundo, sem o controle de nada. Mantendo minha mente atenta ao hoje,  ao instante. Esforçando-me para fazer este instante valer a pena e não perder mais tanto tempo e energia com o que insiste em martelar na minha caixa pensante. É um enorme desafio! Mas decidi me dar esse presente. Portanto se você me encontrar por aí...onde eu estiver , estarei inteira. Se corro ou se fico,  se falo ou calo, se como ou fecho a boca, se tenho  a mente aperreada, se leio três livros de uma vez, se tenho mil inquietações, eu me aceito como eu sou. 

Reconheço que não tenho saúde mental para discutir política partidária. Isso não significa que sou uma omissa. Digo isso porque não posto em redes sociais nada além de pequenas reflexões, poesias, alguma utilidade pública, músicas,  uma ou outra fotografia , principalmente de paisagens , dos meus bichinhos de estimação, minhas rosas do deserto e banalidades. Nada contra quem ergue bandeiras, gosta de posts ideológicos ou com muitos registros da vida pessoal. Entendo que não  tenho estrutura para o  tribunal inquisidor da internet. Sabendo usá-la  ( difícil é saber)  é uma excelente ferramenta de interação, trabalho, informação, diversão e aprendizagens múltiplas. Sobre essa minha postura informo que  é porque não tenho paciência para quem se sente Deus ou don@ de Deus, chei@s de verdades absolutas, daquel@s  que têm a religião mais certa e sabem as  formas corretas  de viver a vida d@s outr@s.

Fernando Pessoa em 1966 escreveu:
"Onde nada está tu habitas" 

E eu me esforço para ter os meus  vazios preenchidos. 

Ainda, parafraseando Pessoa, peço com todas as forças do meu coração:
Protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta tua e  livra-me das armadilhas de mim.

Miudinha, vou preferindo fazer (mostrando que é possível mudar sem imposições) a falas,  que, nesses tempos de hoje,  incitam dissabores. 

Há ódios, preconceitos, intolerâncias , invejas e outro monte de sentimentos ruins  dentro de algumas pessoas que aproveitam a efervescência política para tirar essas coisas  Dali, das suas Vénus de Milo com gavetas.

Graças eu dou a Deus ( gosto de falar nEle mesmo sem lugar de fala porque sou de pouca fé). Graças eu dou a Deus por ter discernimento e sensatez de não julgar meus amigos que pensam diferente de mim.

Nenhuma posição política tirou véus nem desvelou faces  dos meus verdadeiros  amigos e parentes. Os meus amigos e parentes seguem humanos que erram, que são  bons, autênticos, honestos, solícitos e com as mesmas qualidades que me fizeram considerá-los e elegê-los para habitarem o meu coração. 

Acompanho com tristeza as contendas , as paixões e ódios por políticos acabando com vínculos afetivos e o pior de tudo : eles  , os políticos,  não sabem quem somos e o valor que temos uns para os outros.

Eles seguirão atravancando os nossos caminhos e nós não poderemos Quintanear... não seremos passarinhos , não faremos e nem habitaremos ninhos.  

Dediquei quase 33  dos meus 54 anos de vida  ao serviço público hospitalar. 
Trabalhar em serviços de saúde só sabe quem tem esse labor. Como a dor do outro ensina, meu Deus...como a consciência de que não somos NADA é sentida por nós profissionais dessa área...como é grande a luta para não fazer transferências da dor do outro em nós sem nos desumanizar.  

Hoje sou professora. Sim, sou professora. Amo o que faço, chega a ser terapêutico esse ofício. Entendo demais o cansaço  e a "desacreditaçao" dos meus pares no tocante ao declínio da Educação e a desvalorização dos professores.

Realmente é desanimador. Há momentos que eu tenho a nítida impressão que o mundo virou mesmo uma realidade distópica.

Ser professor ou professora não é sempre divino e maravilhoso.  Às vezes acho que devia deixar para outros o meu lugar. Outras vezes não me vejo noutro canto a não ser naquele espaço mágico, cheio de possibilidades de transformações que é a sala de aula e os meus sempre queridos estudantes. Eu e eles , eles e eu e as nossas vidas sendo tocadas ora por conhecimentos curriculares, ora por saberes sobre a vida além dos muros da escola. Eu sou muito apaixonada por todos os estudantes que cruzaram ou cruzam o meu caminho. É amor mesmo o que sinto. Mesmo quando é ruim eu gosto e sou  consciente que a docência é sinônimo de coragem, fadiga "fisicomental".  Mesmo assim eu gosto e gosto muito. 


O estandarte da alegria segue, a duras penas , sendo meu cartão de apresentação. Ademais deixo saudações aos que têm coragem de ser uma pessoa de verdade e ser de verdade inclui defeitos e aqui e ali uma virtudezinha que Deus dá. 

Não há nada que eu tenha dito até aqui que vogue para outrem. Não sou exemplo nem para mim.  

Sempre fui de poucas ambições. Urge dentro do meu espírito a busca Graal pelo prumo, o nível do pedreiro para me equilibrar nessa corda bamba que é viver um dia de cada vez, RESISTINDO com ALEGRIA e isso me basta.

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