O tempo todo nos vemos em novos sorrisos que mais parecem olhares, sem
terceiras intenções, o mel se desperdiça à medida em que a Vida pede, a sua
Vida, a minha. Não há quem viva só no mundo. Porque dentro da gente, lá na
subcarne da alma, sempre tem um monte de vozes gritando no silêncio de cada
pensamento, e cada pensamento habita uma ilha suspensa dentro dessa “coisa que
não tem nome, nessa coisa que é o que somos”, já disse Saramago.
Um dia desses, peguei meu tapete mágico e fui na ilha do
pensamento saber, procurar alguma coisa, mesmo não sabendo exatamente o quê.
Apenas fui, sabendo que de lá traria alguma lição pra mim ou talvez pra você
que está lendo esse texto agora, enfim. Lá chegando aprendi sobre a Vida - a
mesma que pede o mel e o desperdiça. Não só aprendi, como tive o privilégio de
conhecê-la. Se eu pudesse descrevê-la de alguma maneira lógica ou o mais
próximo disso, diria que a Vida era uma criança irritante, mimada, ao mesmo
tempo doce, mas extremamente curiosa, que corria de lá pra cá, mexia nos
móveis, nas paredes, nas pessoas, no passado, e nos demais tempos verbais. A
Vida perguntava o tempo todo: Porque? Quando? Como? Ontem? Hoje? Daqui a cinco
anos no máximo? Talvez mais? Talvez menos? Talvez agora? Posso falar? Posso calar?
Posso mudar? Posso crescer? Querer ou desquerer? Conhecer ou desconhecer?
E no fim das contas nem a Vida sabia muito sobre si
mesma, era só uma criança, que vivia sozinha entre ilhas suspensas imaginárias
e o mundo vazio de dentro das pessoas, não sabendo como tinha chegado ali,
indignada por não ter me tirado uma resposta concreta sequer, assoviou pra uma
nuvem que passava, e tão rápido como sopra o vento mudando de direção, montou
na nuvem e sumiu no infinito do céu.
Sua ausência me bateu um vazio, um incômodo amargo, meio
aguado, meio… morto… Acordei! E não havia mais ilha, nem tapete, nem vento, nem
Ela, nem nada. Mas a criança-Vida me ensinou, de um jeito estranhamente lindo,
a se viver, a desperdiçar meu mel, devagarzinho, flor em flor. Nem que eu
precise procurar por ela todo dia pra senti-la de novo, lá depois do horizonte,
na hora do sol poente, quando dá pra vê-la passando na velocidade em que o céu
muda de cor, sentada em cima de uma nuvem cinza chamada Tempo, a Vida sorri e
acena pra mim.
Jailson
Carvalho.
( 23/03/2014 )
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