quarta-feira, 29 de março de 2017

O BOM CONSELHEIRO E O CRENTE RAPARIGUEIRO (Zé Ferreira e Hélio Crisanto)

Mais um trabalho engraçado feito com inteligência por Hélio e José Ferreira escrito com  competência que o real não alcança porque qualquer semelhança é mera coincidência. 
- Gilberto Cardoso dos Santos

Hélio Crisanto

Fundada em fatos reais
E de teor verdadeiro
Trazemos para o leitor
Do nosso Brasil inteiro
Uma história bem recente:
"O conselheiro e o crente
Que virou raparigueiro."

O crente, que era obreiro,
Nunca fugia da raia
Lutava contra a fraqueza
Tida por rabo de saia
Um dia se descuidou
O sapirico o tentou
E ele caiu na gandaia

Certo dia ele desmaia
De tanta fornicação
O encontraram caído
De calça ainda na mão
Foi salvo por um amigo
Que depois desse castigo
Fez nele um grande sermão:

BC

Você que era evangélico
Nas terras de Santa Cruz
Diz que virou agnóstico
Perdendo da vida a luz
Vi que deixou sua crença
Se metendo em desavença
Qualquer mulher te seduz

CR

Seu comedor de cuscuz
Saiba você me chateia
Olhar a vida dos outros
Isso é coisa muito feia
Virei sim raparigueiro
Vou gastar o meu dinheiro
Quem brincar entra na peia


BC

Não entre nessa cadeia
Não destrua a sua fama
Fica se degenerando
Levando puta pra cama
Hoje virou homem sujo
Parecendo um caramujo
Gozando dentro da lama

CR

Esqueça que vivo um drama
Não se incomode jamais
Pois sou um homem feliz
Gozando nos bacanais
Não me provoque fadiga
Namorar com rapariga
É prazeroso demais

BC

Tenho pena dos seus ais
Dessa sua vida astuta
O cabra só fala em quenga
Se esquece até da labuta
Não estuda e nem trabalha
Comete essa grande falha
Pra correr atrás de puta

CR

O diabo é quem lhe escuta
Pare de falar besteira
Saio de casa na sexta
Com uma “nêga” faceira
Passo um óleo na banana
Bebo, gozo, e torro a grana
Volto na segunda-feira








BC

Percorrendo a rua inteira
A conversa é uma só:
Você não olha os amigos
Nem abraça a sua avó
Não pisa mais na escola
Botou até meia sola
Na cabeça do cipó

CR

Meu amigo, tenha dó
Deixe de tagarelar
Eu sinto uma certa inveja
No seu modo de falar
Gozar nunca foi pecado
E como não sou capado
Eu vou é aproveitar

BC

Nunca mais te vi orar
Naquela casa sagrada
Você só passa zombando
Cuspindo o pé da calçada
Excomungando o cristão
Gritando alto pro irmão
Não caia nessa cilada

CR

Grito pois só tem fachada
Nessas casas de oração
É um magote de besta
Sustentando um charlatão
Por isso vou pro puteiro
Extraviar meu dinheiro
Pro pastor? Nenhum tostão.

BC

Fuja dessa tentação
Esqueça essa vadiagem
Cuide da sua família
Seja homem de coragem
Amigo volte a ser crente
O cão dorme no batente
De quem ama a sacanagem

CR

Homem deixe de bobagem
E de conversa comprida
Qualquer dia lhe apresento
Rosa, Dália e Margarida
É só dizer que aceita
Com as três você se deita
O resto é curtir a vida

BC

Caminho que só tem ida
Esse mundo de desgraça
Satanás anda contigo
Bebendo na mesma taça
Em troca de cafunés
Você deve aos cabarés
Sujando o nome da praça

CR

Me diga qual é a graça
Querer da vida o espinho
Preferir beber o fel
Ao invés de tomar vinho?
Nessa vida de labuta
Encontro na prostituta
Cafuné, gozo e carinho








BC

Esse seu pensar mesquinho
É algo que me apavora
Você esnoba da bíblia
Nem um capítulo decora
Quando cai num atoleiro
Procura um catimbozeiro
Pra ter alguma melhora

CR

Já viu como o crente ora?
É a maior gritaria.
Eles confundem oração
Com crises de histeria
Ter a Bíblia decorada
E dela não viver nada
Não passa de hipocrisia.

BC

Vamos deixar de ingrizia
Nesse papo renitente
Você não adora a Deus
Nem de Jesus é temente
Vamos deixar de pendenga
Nunca dei cartaz a quenga
Nem você gosta de crente

CR


Você é homem decente
E firme na sua fé
Mostrou-se ser um amigo
Com bons conselhos até
Pra essa arenga acabar
Você volta pro seu lar
E eu sigo pro cabaré.


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