quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Sobre Telhados e Pessoas - Cecília Nascimento


Sobre Telhados e Pessoas

Por Cecília Nascimento

Gosto de olhar a vida de cima dos telhados, sobretudo nos dias em que a minha não faz o menor sentido. Nesses momentos, vou para a academia e no lugar de músculos, malho minha consciência, exercito minhas reflexões e fico ali, no andar de cima, observando não as pessoas, mas os telhados das casas e dos prédios comerciais.
Os telhados podem nos ensinar muito sobre a nossa própria existência. De cima é possível ver como são diferentes entre si as telhas. Umas parecem tão gastas, cheias de musgo, lodo, como quem já suportou muitos invernos e apesar dos desgastes continuam ali, dando o melhor de si, dando cobertura para a existência alheia.
Outras telhas, no entanto, apesar de estarem no mesmo telhado, mostram-se tão limpas, como se tivessem a seu serviço um mordomo que lhes lava e lustra diariamente. Como isso é possível? Como, estando em uma mesma cobertura, estejam em estados tão diferentes? Indagando-me a respeito disso, lembrei que também são assim as pessoas... Apesar de estarem todas sobre o mesmo pavimento da Terra, todas debaixo do mesmo sol, algumas parecem tão plenas como se nenhum inverno as atingisse, já outras, cheias de lodo e nódoa, como se na vida não faltassem os ais e nunca viessem os dias de glória.
A despeito da condição dos telhados, continuei meu momento deprê e voltei meu olhar para o que poderia se passar debaixo daquelas coberturas. Estariam as pessoas ali como o teto que as abrigava? Todos na mesma casa, na mesma família, mas em estados tão distintos entre si? Ou todos cantariam no mesmo tom? Será que elas estariam naquele momento filosofando sobre a vida como eu, talvez em suas calçadas, voltando o olhar para os transeuntes e procurando um sentido para a vida?
Ao longe, observei outros telhados. São coberturas de instituições comerciais e religiosas. Da altura, destoam das demais casinhas. Por que tão altos e “imponentes” para uma existência tão pequena como a nossa? Por que construir tanto, arrecadar tanto, guardar tanto para uma passagem tão breve? Será que também possuem teto de vidro ou a fraqueza fica apenas para gente de carne e osso como eu?

Voltei para minha casa sem exercitar músculo algum, apenas a alma. Casa a dentro, dirigi-me para a janela da cozinha, a contemplar meu próprio telhado de outra perspectiva... Ali, entre as grades da janela e o crepúsculo daquele dia que só podia terminar em poesia, eu desfrutei de um novo olhar sobre a vida. Os telhados daqui de baixo parecem mais limpos do que quando vistos lá de cima... Talvez eu precise enxergar o melhor das pessoas, afinal de contas, esse Céu, no fim de tarde, faz todo Devaneio valer a pena no Final.

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