Sobre
Telhados e Pessoas
Por
Cecília Nascimento
Gosto de olhar a vida
de cima dos telhados, sobretudo nos dias em que a minha não faz o menor
sentido. Nesses momentos, vou para a academia e no lugar de músculos, malho
minha consciência, exercito minhas reflexões e fico ali, no andar de cima,
observando não as pessoas, mas os telhados das casas e dos prédios comerciais.
Os telhados podem nos
ensinar muito sobre a nossa própria existência. De cima é possível ver como são
diferentes entre si as telhas. Umas parecem tão gastas, cheias de musgo, lodo,
como quem já suportou muitos invernos e apesar dos desgastes continuam ali,
dando o melhor de si, dando cobertura para a existência alheia.
Outras telhas, no
entanto, apesar de estarem no mesmo telhado, mostram-se tão limpas, como se
tivessem a seu serviço um mordomo que lhes lava e lustra diariamente. Como isso
é possível? Como, estando em uma mesma cobertura, estejam em estados tão
diferentes? Indagando-me a respeito disso, lembrei que também são assim as
pessoas... Apesar de estarem todas sobre o mesmo pavimento da Terra, todas
debaixo do mesmo sol, algumas parecem tão plenas como se nenhum inverno as
atingisse, já outras, cheias de lodo e nódoa, como se na vida não faltassem os
ais e nunca viessem os dias de glória.
A despeito da condição
dos telhados, continuei meu momento deprê e voltei meu olhar para o que poderia
se passar debaixo daquelas coberturas. Estariam as pessoas ali como o teto que
as abrigava? Todos na mesma casa, na mesma família, mas em estados tão
distintos entre si? Ou todos cantariam no mesmo tom? Será que elas estariam
naquele momento filosofando sobre a vida como eu, talvez em suas calçadas,
voltando o olhar para os transeuntes e procurando um sentido para a vida?
Ao longe, observei
outros telhados. São coberturas de instituições comerciais e religiosas. Da
altura, destoam das demais casinhas. Por que tão altos e “imponentes” para uma
existência tão pequena como a nossa? Por que construir tanto, arrecadar tanto,
guardar tanto para uma passagem tão breve? Será que também possuem teto de
vidro ou a fraqueza fica apenas para gente de carne e osso como eu?
Voltei para minha casa
sem exercitar músculo algum, apenas a alma. Casa a dentro, dirigi-me para a janela
da cozinha, a contemplar meu próprio telhado de outra perspectiva... Ali, entre
as grades da janela e o crepúsculo daquele dia que só podia terminar em poesia,
eu desfrutei de um novo olhar sobre a vida. Os telhados daqui de baixo parecem
mais limpos do que quando vistos lá de cima... Talvez eu precise enxergar o
melhor das pessoas, afinal de contas, esse Céu,
no fim de tarde, faz todo Devaneio
valer a pena no Final.
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