Domingo
de Sol
Hoje, nem o mar está na vibe... Acordou cinza, sem vontade de domingar. Clamou ao Sol que por
misericórdia não o viesse visitar... Convidou a chuva para compactuar com sua
tristeza e afugentar os indesejados...
A despeito de sua dor, o Sol apareceu.
Contou, no entanto, com a companhia da chuva e do forte vento... Estava
composto o cenário para minha inquietante manhã de domingo.
Sento na areia como quem busca
inspiração para continuar respirando... Poucas crianças ensaiam a ternura das
brincadeiras de castelos de areia... Ao longe, uma grávida oferece seu ventre
para o Mar beijar o bendito fruto que, breve, iluminará ou embaçará ainda mais
o mundo dos mortais. Mas, o Mar, a meu exemplo, também não está para beijos.
Ele sacode, irritadíssimo, alguns surfistas que não entenderam ainda seu
momento deprê... não interessa se
hoje é domingo e se o Sol, esse insensível, não atendeu ao seu apelo... que se
dane!
Sentada, já decidida a me escrever, o
mar invoca à praia e recebo uma rajada de areia na face entorpecida... uma
tentativa frustrada de me impedir... Mas não há força capaz de parar uma
crônica quando ela já nasceu dentro de nós...
Como quem finalmente despertou após
semanas de marasmo, pego minha caneta rosa e meu bloquinho artesanal de papel, que,
diga-se de passagem, na saída para esse passeio foi dissuadido de ir à praia,
com quem ouve que ali não era lugar para compromissos ou notas, só
esquecimento... e comecei a escrever.
Bom seria mesmo, para o Mar e para mim,
que nesse lugar só reinasse o esquecimento... Mas, lamentavelmente para ambos,
é impossível contemplá-lo sem trazer a lume um mar de recordações, rajadas de
sensações, nem sempre doces, e fincar os pés na mais pura nostalgia... Isso
porque para gente que já nasceu dolorida nem todo domingo é dia de Sol... mesmo
que ele apareça no final.
Cecília
Nascimento
24/07/2016
Excelente, Cecília! Um belo poema disfarçado de crônica.
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