Seguir... para
onde?
Mordendo os lábios...
não é prazer, é pesar. Por que ficamos presos a um corpo, uma era, uma idade e
uma vida que não é a nossa e não é à toa que com tantas impressões equivocadas,
a gente se sinta tão imprecisa nesse estágio da vida.
Algumas vezes, sou tão
mais velha, me vejo tão além de tudo que já vivi e vi, que me surpreendo
aconselhando sexagenários como se fossem filhos. Outra vezes, me sinto tão mais
jovem, esqueço de quem “eu” sou e trago sensações, sentimentos, angústias e
medos como se meus anos tivessem sido cortados pela metade, embora como se
sobre mim não pesasse tanto o peso dos encargos recolhidos por minhas mãos cansadas ao longo da
travessia. Como posso não pertencer a lugar algum? Disse bem o “Galegão”: “Não
tenho pra onde ir, mas não quero ficar”.
Como Pablo, eu também
poderia escrever os versos mais tristes essa noite, mas nem traduzir mais eu
consigo... Aquele velho nó na garganta já voltou para casa depois de ter
cortejado e degustado outras bocas goela abaixo, arruinando consciências
devastadas pelo vento das incertezas... Quando ele me visita no fim da noite,
nem sei mais se é sobejo alheio, se é gosto de novidade, uma dor diferente a
cada dia... só sei que em meu peito o que pulsa sempre é a ânsia pelo que
não...
Nossa maldição está
sempre ao alcance das mãos... às vezes é gilete, faca, veneno... às vezes a
tecla, a tela, a palavra. Uma só palavra pode salvar uma vida ou destruí-la.
Algumas condenam tentando salvar, outras salvam promovendo o mal. Algumas
acalantam como a voz de uma mãe, outras suscitam apenas aquele sentimento
presente em todo maldito solitário com seus segredos...
Nenhum papel poderia
absorver hoje o vômito desse peito contaminado há meses... É inútil prosseguir.
Seguir? Para onde?
Cecília Nascimento
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