sábado, 8 de agosto de 2015

GENI, O ZEPELIN, AS PEDRAS E O MEU PANELAÇO! - Naílson Costa



“Joga pedra na Geni, joga bosta na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni” A letra da música de Chico Buarque, Geni e o Zepelin, é, na minha singela análise, uma grande metáfora do cotidiano brasileiro dos tempos da ditadura militar e, sobretudo, dos governos elitistas que a sucederam. Chico não me disse, mas eu o digo agora que Geni é a minha nação brasileira, sofrida, sedenta, faminta e prostituída pelos 70% de inflação ao mês, pelos índices de desemprego estratosféricos, pelos cálices das amarguras a transbordar o “cale-se!” da repressão daqueles anos de pedra. Geni são os muitos mendigos a pedir esmolas nas portas de nossas casas, sem saúde, escolas e comida, sem teto, sem chão, com seu corpo explorado social e economicamente pelos cegos usineiros, pelos errantes banqueiros e pelos gafanhotos retirantes do FMI, esse Zepelin Gigante, forasteiro, grande guerreiro, tão vistoso, quão temido e poderoso e que ordena a pedir . E “foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos: ‘Joga pedra na Geni, Joga pedra na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni’ ”! Eu não jogo pedra na Geni!. Não sou e nem pretendo ser Jesus, mas faço minhas aquelas sábias palavras “ Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher”. Nunca adjetivarei uma mulher com as injúrias de vadia, de cachorra ou de cadela, muito menos a expulsarei a ponta pé de seu precioso lar. Deus me livre! A Lei Maria da Penha fora criada em 2006 para proteger as mulheres da violência doméstica e familiar. Não quero ficar distante da minha brasileira Geni, que a elegi para rainha de minha pátria. Não! Eu não atiro pedra nessa mulher! Não a culpo pelos tropeços nas muitas pedras de seu caminho, até porque as pedras que atravancam esse caminho, são também de Drummond, Quintana e agora minhas, e elas passarão, e eu passarinho, e aqueles que as USAm são uns paspalhões, são combustíveis do grande Zepelin gigante. Não vou às ruas atirar pedra na Geni. Não ouvirei “tal heresia, essa cidade em romaria, o prefeito de joelho, o bispo de olhos vermelhos e o banqueiro com um milhão” . Não!!!! Isso nunca faço! Nem pedra, nem bosta, muito menos panelaço”! Não vá embora não, Geni! Não vai com ele não, Geni! Você pode nos salvar! Você vai nos redimir! Você faz por qualquer, bendita Geni!


(Nailson Costa, 08.08.2015)

5 comentários:

  1. Texto bem construído, Nailson. Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Vi , recentemente, a remontagem do texto citado. Emocionante, por sinal. E o momento alto da peça foi a interpretação dessa música. A noção de nação é um construto histórico. Sou humano e meu mundo é todo mundo. A Geni atual tem nome, mas jamais se prostituiu, pelo contrário, tentou ajudar aos mais necessitados. Vivemos um momento a mais de luta de classes e é preciso ter lado. Ao menos para mim. Estamos chocando o ovo da serpente. O mesmo que gerou Hitler, Berlusconi, Collor e Mussolini. A desigualdade social aumenta. O futuro é hoje.

    ResponderExcluir
  3. Obg, Gil! Sempre dando apoio aos simplesortais! Vc é dez!

    ResponderExcluir
  4. Parabéns, Nailson! Além de bem construído, como bem disse o poeta Gilberto, o que você defende no seu belo texto é a realidade brasileira nua e crua! Realmente é preciso ter lado!

    ResponderExcluir
  5. Todo amor a nossas companheiras e cadeia ou fogo aos paspalões.

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”