- Cuidado cum rodete, minino!
- Isso num num é brincadêra!
Advertiam os adultos.
Escanchado no sevador
cara cheia de massa
fazia páreo com meu pai
na sevagem da mandioca.
Depois vinha a prensagem
que, também, era comigo
depois a peneiragem:
a melhor de todas as partes.
O gosto forte da manipueira
as mãos ultrafinas, a tontura, o enjôo...
Mas, em compensação, sempre havia
uma prima, uma vizinha, a filha de uma comadre...
na peneira, peneirando, peneirando...
Girando as mãos debaixo da massa
mão de dedos macios
girando-se, tocando-se
fazendo girar a cabeça e o mundo.
Girando, tocando-se
fazendo pulsar o peito, as veias...
Girando, tocando-se
frazendo incendiar o desejo do beijo,
o brilho do olhar...
- Retire a cruêra, minino!
- Coloque mais massa!
- Atenção no sirivço!
Griatavam os pais vigilantes.
- Saiu massa da prensa!
- Vamos penerar!
E penerando, mexendo, mexendo...
Põem-se a balançar:
As meninas, os cabelos, as saias, os sonhos...
faazendo girar:
as paredes, as telhas, as nuvens, o mundo...
e tudo o que há.
Dizem que o pensamento voa
mas o meu embriaga-se de manipueira
e se deixa cair numa montanha de cascas de mandioca
quando lembro das farinhadas da minha infância.
Belíssimo poema, Aldenir!
ResponderExcluirO poeta Aldenir, com sua sensibilidade poética, desta vez nos levou para dentro da casa de farinha e discretamente nos remeteu a Gozagão: "eu tava na peneira eu tava...".
ResponderExcluirUm retrato irretocável.Musicalidade sugestiva que também faz girar o leitor nas suas reminiscências. Sensações que saltam das frases aguçando todos os nossos sentidos de leitor degustador de seu poema. Parabéns Aldenir!
ResponderExcluirObrigado, Gilberto, Maciel e Marcos. Como sabemos, a poesia se constrói na recepção. Parabéns a vocês por, a partir desse conjunto de versos construírem um belo poema recheado de tantas poeticidades.
ResponderExcluirAldenir Dantas