Hoje, dia dos professores, fui
comprar 3 litros de leite. A vendedora (uma mocinha), conversava com a colega:
- Mulher, a gente tem que fazer
esse trabalho hoje. Vale pela nota da prova.
- É mesmo, né? Oh! droga!
- E a professora disse que quer
todo manuscrito.
- Eita, píula! Tudo à mão, é?
Seria tão bom se a gente pudesse só imprimir... Então a gente tem que fazer
hoje à tarde, né?
- É. É muito ruim fazer trabalho à mão. Ela faz isso só pra dar trabalho a nós!
Pensei em expor-lhes as possíveis razões da exigência, dizer-lhes que desse modo a professora pretendia "obrigá-las" a ler o que retirariam da net, mas fiquei calado, questionando-me até que ponto o objetivo pretendido, que é a aprendizagem, haveria de ser alcançado, depois de uma leitura/cópia forçada.
Interrompi o diálogo perguntando
quanto era o litro de leite.
- 1,50, respondeu a vendedora.
Dei-lhe 10 reais. Ela entrou,
demorou um pouco - aparentemente fazendo o cálculo - e retornou com seis reais.
- Acho que você errou na conta,
disse-lhe. – Era pra você me voltar cinco e cinquenta.
- Ah, é mesmo – exclamou ela. Eu
não sou boa pra fazer conta de cabeça.
- Você tira notas ruins em
matemática? – perguntei-lhe.
- Não. Tirei nove na última
prova.
- O professor é legal - acrescentou a outra.
- Brigado – disse-me, agradecendo
pela devolução dos 50, e sorriu.
Saí de lá; deixei-as resmungando
por causa do trabalho que fariam à tarde; aproveitei para dar uma passadinha na
oficina, pra dar um arzinho no pneu traseiro, meio baixo. Um jovem falastrão
estava na seguinte frase quando cheguei:
- Eu não gosto muito de
professora porque elas ficam querendo ensinar à pessoa. Eu digo um bocado de palavra
errada e elas gostam de corrigir a gente.
Não deu para perceber o contexto
exato da frase, mas supus que ele falava da inconveniência de “ficar” ou paquerar com professoras por julgá-las geralmente
chatas. Usariam a língua, durante o namoro, para fins não desejados. O
preconceito linguístico estaria atrapalhando a relação.
Meditei na ideia de certo e de
errado que se tem em relação à língua, no medo que alguns têm de falar na
presença de professores.
Talvez nós, professores, cheios
de boas intenções, estejamos contribuindo para disseminar essa ideia, de que o
certo é apenas o que está na gramática. Penso que deveríamos nos esforçar para deixar as pessoas mais relaxadas, mais à vontade, principalmente durante o namoro.
Ao chegar em casa, abri o
Facebook e deparei-me com algumas mensagens de alunos e ex-alunos parabenizando-me pelo meu dia. São, em geral,
brevíssimos no que dizem, ou se limitam a copiar algo pronto, supostamente correto, encontrado no Google. Aproveito para olhar o retorno que alguns colegas deram; vejo-os econômicos em suas palavras de
agradecimento. Penso que temem falar demais e ferir as regras gramaticais.
Hoje à tarde, aproveitando meu dia, pretendo ruminar o documentário A Educação Proibida.
Oxalá, depois disso, eu retorne
às classes um pouco melhorado!
FELIZ DIA DOS PROFESSORES para
todos os meus colegas!
Grande mestre Gil! Se o mundo prestasse, o professor seria a maior e mais respeitada autoridade da cidade. Parabéns pelo texto e pelo seu dia! Parabéns a todos os mestres do Brasil!
ResponderExcluirGIlberto,
ResponderExcluirParabéns pelo texto e pelo seu dia. Você, Gilberto, que é um professor de verdade; que diariamente enfrenta, com compromisso e competência, o DIFICÍLIMO ambiente da sala de aula.
Abraços em todos os amigos docentes!
Obrigado, Naílson e Teixeirinha!
ResponderExcluirBelíssima crônica!!!
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