segunda-feira, 15 de outubro de 2012

CRÔNICA NO MEU DIA - Gilberto Cardoso dos Santos



Hoje, dia dos professores, fui comprar 3 litros de leite. A vendedora (uma mocinha), conversava com a colega:
- Mulher, a gente tem que fazer esse trabalho hoje. Vale pela nota da prova.
- É mesmo, né? Oh! droga!
- E a professora disse que quer todo manuscrito.
- Eita, píula! Tudo à mão, é? Seria tão bom se a gente pudesse só imprimir... Então a gente tem que fazer hoje à tarde, né?
- É. É muito ruim fazer trabalho à mão. Ela faz isso só pra dar trabalho a nós!
Pensei em expor-lhes as possíveis razões da exigência, dizer-lhes que desse modo a professora pretendia "obrigá-las" a ler o que retirariam da net, mas fiquei calado, questionando-me até que ponto o objetivo pretendido, que é a aprendizagem, haveria de ser alcançado, depois de uma leitura/cópia forçada.
Interrompi o diálogo perguntando quanto era o litro de leite.
- 1,50, respondeu a vendedora.

Dei-lhe 10 reais. Ela entrou, demorou um pouco - aparentemente fazendo o cálculo - e retornou com seis reais.
- Acho que você errou na conta, disse-lhe. – Era pra você me voltar cinco e cinquenta.
- Ah, é mesmo – exclamou ela. Eu não sou boa  pra fazer conta de cabeça.
- Você tira notas ruins em matemática? – perguntei-lhe.
- Não. Tirei nove na última prova. 
- O professor é legal - acrescentou a outra.
- Brigado – disse-me, agradecendo pela devolução dos 50, e sorriu.

Saí de lá; deixei-as resmungando por causa do trabalho que fariam à tarde; aproveitei para dar uma passadinha na oficina, pra dar um arzinho no pneu traseiro, meio baixo. Um jovem falastrão estava na seguinte frase quando cheguei:

- Eu não gosto muito de professora porque elas ficam querendo ensinar à pessoa. Eu digo um bocado de palavra errada e elas gostam de corrigir a gente.

Não deu para perceber o contexto exato da frase, mas supus que ele falava da inconveniência de “ficar” ou  paquerar com professoras por julgá-las geralmente chatas. Usariam a língua, durante o namoro, para fins não desejados. O preconceito linguístico estaria atrapalhando a relação.

Meditei na ideia de certo e de errado que se tem em relação à língua, no medo que alguns têm de falar na presença de professores.

Talvez nós, professores, cheios de boas intenções, estejamos contribuindo para disseminar essa ideia, de que o certo é apenas o que está na gramática. Penso que deveríamos nos esforçar para deixar as pessoas mais relaxadas, mais à vontade, principalmente durante o namoro.

Ao chegar em casa, abri o Facebook e deparei-me com algumas  mensagens de alunos e ex-alunos  parabenizando-me pelo meu dia. São, em geral, brevíssimos no que dizem, ou se limitam a copiar algo pronto, supostamente correto, encontrado no Google. Aproveito para olhar o retorno que alguns colegas deram;  vejo-os econômicos em suas palavras de agradecimento.  Penso que temem falar demais e ferir as regras gramaticais.

Hoje à tarde, aproveitando  meu dia, pretendo ruminar o documentário A Educação Proibida.

Oxalá, depois disso, eu retorne às classes um pouco melhorado!

FELIZ DIA DOS PROFESSORES para todos os meus colegas!

4 comentários:

  1. Grande mestre Gil! Se o mundo prestasse, o professor seria a maior e mais respeitada autoridade da cidade. Parabéns pelo texto e pelo seu dia! Parabéns a todos os mestres do Brasil!

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  2. GIlberto,

    Parabéns pelo texto e pelo seu dia. Você, Gilberto, que é um professor de verdade; que diariamente enfrenta, com compromisso e competência, o DIFICÍLIMO ambiente da sala de aula.

    Abraços em todos os amigos docentes!

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