O solo brasileiro, por ser muito fértil, comprovadamente não é dos melhores para a cultura de leis. Há as que são plantadas e não nascem. Há leis autoritárias e leis ambíguas. Há leis infantis e atrofiadas. Há leis burramente respeitadas e leis respeitadamente burras.
Em qual delas se enquadra a lei dos 15 minutos na fila duma agência bancária? Existem muitos exemplos de leis que não pegam no Brasil. Por ser o solo brasileiro demasiadamente fértil, muitas leis não dão bons frutos.
Senti muita falta dos showmícios nas campanhas políticas passadas. Plantaram uma lei que proíbe os showmícios, a distribuição de camisetas, bonés e etc nas batalhas político-partidárias e o que vi foram campanhas insossas, sem os mega-shows das bandas famosas e caríssimas. Foram uma chatice.
A finalidade da nova lei é coibir a utilização da máquina estatal pelos candidatos-governantes. A intenção é muito boa, mas a fertilidade do solo brasileiro costuma atrofiar as leis, principalmente se são infantis.
Essa proibição me cassou o direito de apreciar os discursos político-apologicamente-hipócritas dos candidatos governamentais nos showmícios
A salvação foram as inaugurações de obras públicas em tempos eleitorais. Elas jorraram, ejacularam-se em todo o estado e trouxeram em seu bojo os mesmos discursos. Pena que eles se mostraram implicitamente explícitos e subestimaram a minha inteligência.
As leis deveriam saber que o proibido é excitante e que sempre haverá um jeito de driblá-las. Deveria ser proibido proibir.
Essa lei me sacaneou. Proibiu-me da mixórdia teatral dos showmícios. Nestes não havia insinuações e as hipocrisias eram abertamente sinceras.
Adoro a sinceridade das hipocrisias! Elas não estiveram presentes nas eleições pretéritas. As camisetas e os bonés de candidatos não vestiram a pobreza das torcidas organizadas.
A lei da reeleição é a causadora de tudo isso. É uma lei respeitadamente burra. Foi ela gerada com o esperma da ambição tucana no útero de solo brasileiro pauperrimamente fértil. E concebeu outra lei atrofiada e visivelmente desrespeitada.
Continuo preferindo a embriaguez das doces mentiras dos showmícios aos fingimentos nada poéticos das inaugurações de obras públicas. Estas não me proporcionam êxtase nem me permitem viajar no mimetismo psicodélico dos interesseiros, dos ébrios, dos lacaios e dos alienadamente apaixonados.
Nas inaugurações, as bandas são obrigadas a louvar os chefes políticos locais. Esses subterfúgios são horríveis! Gosto mesmo é da beleza descarada dos showmícios, sem papas-na-língua, direto, com muita mentira, muitas promessas absurdamente ridículas, bastantes girândolas assustando velhinhos, crianças e animais, muita cachaça, muita arrogância, muita bajulação, muitos aplausos, sem falsos fingimentos e falsidades divertidamente sinceras. Adoro o ser explícito.
Aquelas eleições deixaram a estúpida sensação de que as leis e as inaugurações inauguraram uma nova modalidade de frutos que só a riqueza transgênica do nosso solo brasileiro é capaz de produzir. Ainda não me acostumei com a podridão acre-doce de seu sabor.
EITA NAILSON SÁBIO,NÃO SE METE NO FOGO CRUZADO DA RELIGIÃO. PARABÉNS PELO SEU TEXTO! HOMEM SÁBIO!
ResponderExcluirPAULO
PREFIRO A POLÍTICA TB. VC DEU UM SHOW NESSE TEXTO.
ResponderExcluirPAULO
VALEU NAILSON. META O PAU NESSES SAFADOS.
ResponderExcluirValeu, amigo véi. Acompanhei tudim de perto, bem caladim. Não quis fazer comentários a respeito de religião porque já sou muito envolvido com futebol e política. De futebol entendo um pouquinho. De política sinto a necessidade de entendê-la. E com relação a religião, simplesmente não gosto. Apenas acredito em Deus, porque é a Ele a quem primeiro agradeço as minhas poucas e significativas conquistas, e, sobretudo, é a Ele que sempre recorro nos meus momentos de angústia e de aperreio. Um abraço.
ResponderExcluirmuito bemmmmmmmmmmmmm. estou com vc! tb acredito em DEUS. sem ELE,não sei oq ue seria de mim que sou tão pequenina!
ResponderExcluirJoana
Nailson,
ResponderExcluirTexto tão excepcional, que não sei bem como comentar. Mas me arrisco um pouco: inovador, iconoclasta, irônico, profundo, engraçado e, acima de tudo, faz-nos pensar sobre a ação das leis em nossas vidas!
Parabéns!
Nailson,
ResponderExcluirTexto excelente,verdadeiro,bastante elaborado e criativo!
"Viva as leis brasileiras" viva,mas viva com ironia!
kkkkkkkk é verdade, Lindonete. "Viva com ironia", excelente. Agradeço ao meu filósofo preferido, Teixeirinha, o Grande, pelas palavras, e a Srª Joana, pelo comentário.
ResponderExcluireita Nailson porreta de bom! bota mesmo para quebrar nesses caras da política. parabéns pelo texto.
ResponderExcluirJosé Almeida
Lembrei do Nailson dos velhos tempos de professor, com quem tive o prazer de aprender muito (quase tudo) do pouco que sei. Parabéns pelo excepcional texto, mestre Nailson.
ResponderExcluirA propósito, vale a pena ler:
ResponderExcluir"Os génios do ambíguo
http://jmiguelnunesrocha.blogspot.pt/2012_08_01_archive.html
(...)Voltando e limitando-me às coisas terrenas há também por cá, um génio do ambíguo que é contratado pelas seguradoras na sua redacção das apólices, fazendo os segurados crer que andam a pagar a sua saúde, até perceberem que de facto andaram, no dia em que adoecerem; ou segurar a casa contra a gatunagem ou o fogo posto... Eu próprio já fui vítima dele; tem olhos de lupa na cara de Satanás onde assoma um resquício de malícia. Impingiu-me um seguro para navegação no veleiro com cláusulas múltiplas contra piratas, sendo-me posteriormente explicado pela seguradora num litígio, que no conceito deles, o último pirata fora um inglês enforcado há cerca de dois séculos.(...)"