terça-feira, 1 de maio de 2012

A Ciência, a fé e a inexistência da receita de bolo - João Estevam


 
Há alguns anos, quando ainda estudava no Instituto Cônego Monte, quando o Monte Carmelo ainda era assim denominado e Santa Cruz ainda era do Inharé, freqüentemente, nos finais de semana, subíamos o cruzeiro para observar a paisagem, jogar xadrez ou só pra gastar o tempo mesmo. Discutíamos sobre todo tipo de assunto e em uma dessas vezes alguém indagou se a ciência poderia provar que Jesus existiu. “Está na Bíblia” – disse outro, eu permaneci calado...

Passados alguns anos um ateu me fez pergunta semelhante e agora posso com ele argumentar ou pelo menos tentar, já que a argumentação que ele pleiteia inexiste. É um grande equívoco acreditar que a ciência pode provar alguma coisa, que o método científico infalível existe, mas todos aprendemos que é assim e, infelizmente, aprendemos errado... Arrisco-me a dizer que a ciência é mais feita com fé do que com método científico. Curso a licenciatura em física presencialmente no IFRN e licenciatura em física à distância pela UFRN, em ambas as instituições já tive oportunidade de participar de disciplinas práticas em laboratório e a visão que tenho hoje é que aquela receita de bolo que nos dão e que chamam de Método Científico inexiste, a ciência é feita de tentativas e erros, não há um método capaz de determinar um resultado permanente, sem que inúmeros requisitos/parâmetros sejam levados em conta, sendo desta forma a generalização, quase sempre, apenas um caso particular. Numa determinada aula de laboratório, nós realizamos um experimento simples para calcular a gravidade – um dispositivo mecânico soltava uma esfera de uma altura determinada e marcava o tempo até um determinado ponto, teoricamente pra achar a gravidade bastavam simples divisões, mas pasmem os resultados nunca eram os mesmos, o que teoricamente deveria ser 9,8 m/s2 variava entre 9,4 e 9,7 m/s2, os experimentos estavam errados? Não – a ciência aceita uma margem de erro.

A ciência é feita de observações, deduções, erros, acertos e fé. O cientista precisa acreditar em suas deduções, nem sempre há condições de teste em laboratório, teorias como as de Stephen Hawking sobre buracos negros e a formação do universo são basicamente teóricas. Quando Einsten disse em seu trabalho sobre a relatividade restrita que corpos de massa provocam deformações no espaço, isso só pode ser observado muito tempo depois, não sendo possível crer que assim seja em todos os cantos do imenso universo. Ainda sobre ciência, não se pode falar sobre “Lei Universal” ou “dogma irrefutável”, tudo pode mudar, nada é fixo, a história possui inúmeros exemplos de teorias antes irrefutáveis que foram derrubadas. Newton ao desenvolver seu trabalho sobre a dinâmica, que hoje conhecemos com as leis de Newton, acreditava que aqueles preceitos funcionariam para todos os referenciais inerciais e quaisquer velocidades, porém depois se mostrou que para velocidades próximas da velocidade da luz, suas “Leis” não serviam, chegando-se a conclusão muito depois que era apenas um caso particular da relatividade restrita de Einsten.... Sem contar as inúmeras histórias fantasiosas que são amplamente divulgadas como verdadeiras e que investigações de historiadores da ciência constantemente refutam, como a maçã de Newton e o experimento da torre de pisa atribuído a Galileu Galilei.

Infelizmente, a história do período e local onde Jesus viveu é pouco documentada, temos a Bíblia, os textos apócrifos e a carta atribuída a Pvblivs Lentvlvs, suposto centurião romano que havia visitado os domínios romanos na época de Jesus e fez um breve relato sobre o mesmo. Mas convém ao ateu dizer que para acreditar nos citados textos é preciso fé e que supostamente ele não a possui, sendo que para acreditar na ciência também de fé se precisa e como esse não a possui como pode nela acreditar? A própria ciência na atualidade já se abriu para as idéias antes impensadas, como fé e oração, ou místicas da cultura oriental, tais como mantras, acupuntura, energia ki, do-in, shiatsu e outras, na tentativa de compreendê-las, transformando-as em objeto de estudo. Já que a ciência não pode provar a existência de Jesus, tampouco negá-la, prefiro acreditar que sim, Jesus existiu! E você, em que prefere ter fé?

9 comentários:

  1. falar de religião é complicado demais...mas,o escritor acima escreve mt bem. parabénssssssss!

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  2. João Estevam,

    Suas reflexões me fizeram lembrar de minha época na universidade. Quando era estudante de Sociologia na UFRN, ouvia os “colegas” das exatas e engenharias criticarem os cursos de humanas, alegando que estes são pouco precisos, com objetos “fluidos” ou intangíveis, enquanto as exatas (consideradas verdadeiramente científicas) lidam com objetos concretos e 100% tangíveis/calculáveis.
    Seu texto ajuda a desmistificar essa pretensa superioridade científica de cursos como Física, Química, Biologia..., uma vez que o improvável, o inesperado e, até mesmo, a fé entram nessa “composição”.

    Parabéns, João! Grande escritor!!!

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  3. o cara aí é bom,Gil!

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  4. Francisca Joseni dos Santos4 de maio de 2012 às 10:22

    Ótimo texto! EU sou católica, tenho muita fé e acredito em Deus. Sigo a máxima de São Tomás de Aquino: rezo como se tudo dependesse de Deus e faço o meu trabalho como se tudo dependesse do meu esforço. Segue um recorte especial da minha vida que está relacionado com a minha fé. Aos 40 anos de idade - hoje estou com 46 - consultei o meu ginecologista Dr. Jordan de Gusmão sobre a possibilidade de engravidar e ele disse-me que com o avanço da tecnologia e da medicina todo mulher em idade fértil poderia engravidar, então decidimos, eu e meu esposo em ter um filho, Dr. Jordan solicitou uma bateria de exames nossa e foi constatado que eu não poderia engravidar porque eu tinha uma trompa de falópio atrofiada e a outra não existia, as demais condições estavam ótimas para uma fecundação normal, o médico assinalou com a possibilidade de ser feita uma cirurgia para uma possível revitalização desta bendita trompa atrofiada. Decidi fazer a intervenção cirúrgica. Neste ínterim veio o mês de maio - mês da festa social e religiosa de Santa Rita de Cássia - como na época eu fazia parte da Equipe Litúrgica da Paróquia fui escalada para fazer os comentários da Missa dos Peregrinos e Peregrinas de Santa Rita, a missa que antecede a procissão, inclusive foi a última missa celebrada dentro da Matriz, pois devido ao grande número de fiéis esta missa está sendo celebrado no Largo da Matriz. A imagem de Santa Rita pronta para sair em procissão estava em cima do andor paralela ao ambão e eu estava numa posição privilegiada, pois observava de "camarote" os fiéis se dirigirem à Imagem de Santa Rita para fazer suas orações e pedidos, aproveitei e fiz minhas preces, na verdade tive um monólogo bastante longo que traduzindo resumia-se a: Santa Rita interceda pela minha causa se o meu filho vier para bem servir ao mundo, ser uma pessoa do bem, entre outras coisas, que minha cirurgia seja exitosa e que Eu realmente engravide do contrário seja feita a vontade de Deus. Passou-me 03 meses, fui realizando os demais exames solicitados pelo médico e para surpresa nossa - minha, de Cesar e do médico - em 07 de setembro do mesmo ano estava grávida sem a necessidade da intervenção cirúrgica. Hoje meu filho Thomaz está com 05 anos e espero que ele realmente tenha vindo para ser um bom homem e bem servir a humanidade. Credito minha gravidez à intervenção de Santa Rita de Cássia.
    Francisca Joseni dos Santos - Professora

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  5. Francisca Joseni dos Santos4 de maio de 2012 às 15:51

    ERRATA. Desculpas pelos erros cometidos no comentário feito ao texto de João Estevam, portanto, leia-se:....está sendo celebrada em lugar de "celebrado"; ...passou-se em lugar de "passou-me".
    Francisca Joseni dos Santos - Professora

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  6. O texto de João é ótimo! Gostaria de fazer apenas uma intervenção: Jesus realmente existiu, e a própria ciência já atestou esse fato,não há nenhuma controvérsia a esse respeito. Os próprios mulçumanos têm variados relatos sobre a passagem de Jesus,(li alguns) em que Ele (Jesus) é tido como sendo um profeta de menor importância (Maomé é o grande profeta). Os Judeus referem-se a Jesus como sendo um intruso, um impostor, pessoa de pouca saúde mental. Li muito sobre a vida de Jesus em fontes bibliográficas totalmente ateias, e que afirmam a sua existência. A grande pergunta é: Ele era, realmente, o filho de Deus? Prefiro acreditar que sim. Com relação à grande professora e filósofa Joseni, é dizer que ela tem todos os motivos do mundo para ter fé em Deus e em Santa Rita, pois Ele, ao atender uma solicitação da Santa querida, operou um verdadeiro milagre na vida de Joseni. Um abraço.

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  7. Agradeço todos os comentários. É muito importante esse retorno.Um Forte Abraço.

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