segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Símbolos da Minha Rua - Prof Maciel

A minha rua já se parece com três pessoas: minha vó Maria, meu sogro Manoel Gomes e meu vizinho, seu Arlindo.
Minha vó Maria, Maria de Pedro Horácio, dele, sempre. Eu, já de manhã, é da varanda de minha casa que lanço o meu primeiro pedido de bênção, ao vê-la sentada em sua calçada, imagem já cristalizada junto a todos que passam, e em resposta ouço cruzar a rua sinceros Deus te abençoe ou Deus te faça feliz. E assim é durante todo o dia, nessa pisadinha, já que toda vez que a vejo tento fazer este gesto, que se torna assim repetitivo e ela sabiamente vai adornando meu dia com imperativos desejos... que se cumprem.
Meu sogro, eu nunca o trato de seu Manoel, mas o farei aqui, se necessário, embora isso não diminui meu respeito por ele, pois é que cresci assim e a gente não sabe na vida quem pode vir a ser os nossos sogros. O beco que cruza nossa rua recebeu o nome de meu avô, mas está na cabeça das pessoas que parte do beco é dele: o beco de Mané Gome. O quarto da esquina onde ele mora já é meu e embora tenha lugar decente onde morar, Deus me livre e guarde de vê-lo sair dali, ainda mais por Adriana, em seus olhinhos felizes por desde cedo do dia poder vê-lo transitando por nosso quintal. Mas é ele quem se emociona com tudo e agora os olhos são dele, que vez por outra os vejo chorosos adentrando a minha casa, nos dando pistas para noticiar em primeira mão sobre gente que às vezes nem conhecemos, mas que findamos também nos comovendo com o fato, ainda que e ao menos por ele.
Seu Arlindo é japiense de coração... é nosso. Construiu aqui uma família e posso falar de sua residência como símbolo de todas as casas de nossa cidade, já que cultuamos o dito de que quem bebe de nossa água, aqui sente desejo de voltar. Assim é sua casa, tão receptiva, tão frequentada, que basta que eu diga que tanto quanto era a do saudoso bajau e simbolizada com um banco à frente, o mesmo pode se dizer da casa de seu Arlindo: dois bancos existem lá. Difícil é passar ali e não encontrar gente lhe visitando , conversando , sorrindo, palestrando e por quem não estar podendo ir ele pergunta sempre, pelo menos é assim que tem sido com relação ao meu pai. Sem contar aqui com seus filhos e netos, sempre por lá, para quem ele não tem coração de pai, nem de avô, mas de mãe.
É assim que retrato símbolos da minha rua e é para eles e nós outros que desejo vida longa e saúde. Particularmente não quero me imaginar sem pessoas como eles, pois ainda que ocupemos apenas um pequeno pedaço de chão, precisamos dessas referências, desses pilares, que parecem nos dá sustentação e que para mim tem um significado que não consigo descrever aqui , ainda mais porque é à medida que o tempo passa, deixando-os cada vez mais frágeis fisicamente, que eles mais evoluem , tornam-se imponentes e moralmente mais se agigantam diante de nós.
Prof. Maciel. Japi/RN.

2 comentários:

  1. Plá, plá plá ... aplausos para um cronista que sabe, com maestria, contar e registrar para séculos sem fim amém a história daqueles que fizeram e continuam fazendo a história da bela Japi.

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  2. Obrigado , Nailson , por seus comentários. Você não imagina o quanto nos incentiva e nos faz bem.

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