domingo, 20 de novembro de 2011

ESQUECIDOS NA VELHA CANASTRA DAS INJUSTIÇAS - Nailson Costa


Tenho dito que Santa Cruz costuma esquecer-se de ilustres filhos seus que muito fizeram por  sua terra. Lembro neste texto o nome de Josefa Neuza da Costa, educadora, pedagoga  e de  refinado trato educacional.


Neneu, como era carinhosamente conhecida entre seus mais próximos, fora alfabetizadora nos tempos mais pretéritos e exerceu, no crepúsculo de sua carreira profissional, talvez sua mais importante e árdua missão, a de gerir um órgão educacional, cuja jurisdição contava mais de  16 municípios do Trairi e Potengi.
Lembro-me da surpresa que sentira Dona Neuza ao receber, em 1976, o convite do então deputado estadual Marcílio Furtado para assumir a direção do, naquela época, 5º NURE.
O deputado pedira ao seu tio, o Sr. Edgar Furtado, homem de valioso caráter e de admirada  elegância de nossa cidade, que apontasse um nome capaz de dirigir esse importante departamento de educação.
Dona Neuza, depois relutar em aceitar tal convite, curvou-se àquela quase intimação de Seu Edgar Furtado e de seu tão ilustre sobrinho. Assumiu tal cargo, honrou o convite e, por nove anos, enfrentou todos os dias as renhidas batalhas de suas obrigações administrativas.
Esforçou-se, entregou-se àquela  órgão responsável pelo bom andamento de escolas estaduais das várias cidades jurisdicionadas.
Encontrou muitas barreiras, muitos obstáculos; administrou alheias vaidades e incompreensões individuais; sofreu com as constantes políticas de parcos incentivos educacionais e profissionais. Soube, porém, com muita elegância, discrição e sabedoria contornar cada barreira, escalar todos os obstáculos e conquistar o cume, o ponto mais alto do respeito e da admiração daqueles que conseguem enxergar num ser humano bondade, solidariedade, mansidão, honestidade e competência.
Neuza viveu intensamente cada minuto dos nove anos em que esteve à frente do 5º NURE. Soube dar um SIM no mais adverso e cruel dos momentos. Saboreou cada sorriso verdadeiro de alegria e de alívio de seus diretores de escolas. Vibrou com cada degrau conquistado pelos docentes e discentes de sua jurisdição.
Não era raro ver Dona Neuza socorrer algumas escolas com botijões de gás, material de limpeza e de expediente tirando de seu próprio bolso.
A professora Neuza, na ausência de concursos públicos, característica daquela época, enviou durante a sua gestão, e em decisão unicamente sua, a documentação para contratos de aproximadamente 100 pessoas, das mais competentes às mais humildes, sem pretensões outras que não a melhoria na educação e a felicidade do próximo.
Neneu, insistentemente, lembrava ao deputado da necessidade de uma extensão universitária, de cursos de licenciaturas em Santa Cruz, para atender o Trairi e o Potengi. Tantos foram os lembretes, nas cansativas reuniões com o secretário de educação e com deputado, que o parlamentar acenou com a possibilidade da realização desse sonho superior. E o NEST tornou-se uma realidade, sendo inaugurado em março de 1981, com festa na Caiçarinha, em grande estilo, com a presença de muitos políticos e autoridade, mas nenhum convite ou menção a essa ilustre educadora. Depois da exaustiva ralação, não fora lembrada para comer do bolo da conquista.
Neuza, entretanto, não reclamou, não se maldisse, até gostou de não ter ido àquele, que para ela seria mais um encontro. Ela era assim mesmo, sentia-se feliz com a felicidade alheia. E isso era tudo. Era completamente desprovida das ambições mundanas. Não semeou ganância, nunca cultivou inveja e jamais cobiçou ou reivindicou cargos, posição social e bens materiais.  O dia a dia aumentava-lhe  a certeza de que era a educação a razão maior de sua existência.
Também fora esquecida no dia 7 de Setembro deste ano de 2011 por uma escola local que homenageou, em uma de suas alas, os mais importantes nomes da educação municipal.
Com exceção de uma pequena homenagem feita em 17.12.2009, pela então gestora da 7ª DIRED, Josirene Olegário, que, aliás, homenageou a todos que dirigiram esse órgão com uma galeria fotográfica, e a Josefa Neuza com o auditório, seu nome ainda não teve o devido reconhecimento por todos que fazem a educação e a história de Santa Cruz.
Neneu, no dia 8 de novembro de 2008, mudou-se de endereço e  encontra-se hoje nos salões celestiais, sentada à direita do Pai, na mais confortável das poltronas divinas e saboreando os mais deliciosos manjares sagrados, cardápio oferecido somente aos adeptos do amor ao próximo.
Muitas biografias de ilustres  santacruzenses que por nossa terra fizeram, fazem e farão, esquecidas foram, são e serão na velha canastra das memoráveis  injustiças de Santa Cruz. Ainda bem que Josefa Neuza da Costa nasceu, viveu e nasceu  em berços de educação.

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