O SER HUMANO E O ELEFANTE
A cada dia que passa, fico mais desencantado com o ser humano. Vi na TV uma cena que muito me chocou: o adestramento de elefantes na Tailândia. Cordas, ferrões, chibatas, correntes, martelos, paus etc. Eram as ferramentas usadas por seres humanos para “ensinar” aqueles gigantes animais irracionais a fazer os gostos dos racionais. Aqueles olhos elefantídeos, assustados, tristes e resignados fizeram-me baixar a cabeça e envergonhar-me da minha condição de ser humano.
Ser humano é amar o seu semelhante. O elefante não é ser humano, apenas ama seu semelhante. Ainda não tomei conhecimento de que os irracionais paquidermes jogassem seus rebentos em lagos ou lixões. Não os conheço fofoqueiros, cafajestes nem corruptos. O elefante não ri da desgraça dos seus. Aliás, o único animal que ri é o ser humano, pois é racional e superior. O homem enxerga e entende as nuanças mais abstratas do ridículo do seu próximo. E eis sua gargalhada mais gostosa.
O elefante não é hipócrita, não dá beijinhos em cada face de seu predador. Vi seus olhos denunciarem às câmeras sua condição de ser não humano e senti-me diminuído. Não percebi ódio em seus movimentos e inveja em suas passadas. Nada fiz. Apenas senti um baque pesado e estúpido no solo mais rígido do meu silêncio.
Serei eu um bobo? Não deveria ficar assim tão emotivo. Por que sofrer por elefantes!? As manadas de elefantes não são da minha espécie. Elas não pensam como seres humanos. Não são espertas como nós. Não têm diplomas. Não seguem uma religião. Não fazem comércio com a palavra de Deus. Não exploram as riquezas da natureza e nem ameaçam a vida no planeta. Não incomodam o sossego noturno de seus vizinhos com o seu lixo musical ou com a fumaça de seu cigarro. Eles nem fumam. São bobos e irracionais. Não quero ser um deles. Tenho que ser racional. Preciso ser humano.
Não posso ficar tão desencantado com o ser humano. Afinal, ele inventou o feudalismo, o capitalismo e a bomba atômica. Descobriremos em breve se a verdade é cristã, judia, muçulmana ou se Deus é, simplesmente e sob a ótica religiosa, ateu.
Os elefantes não irão mais me incomodar. Abaixo a sabedoria dos irracionais. Abaixo seus arroubos idílicos de preservação. Chega de elefantes. Voltarei à academia de musculação para me desenvolver intelectualmente. Porque sou um ser humano..
( Nailson Costa)
PARABÉNS ,GRANDE NAILSON!
ResponderExcluirCompreendi perfeitamente seu excelente texto e concordo com você. Muitas vezes precisamos ser irônicos e tecermos críticas a quem delas precisam. Dentro desse contexto, há realmente pessoas semelhantes aos elefantes e merecem ser adestradas por pessoas sábias como você.
Lindonete Câmara
Nailson,
ResponderExcluirEm quantas e quantas ocasiões sinto vergonha de ser humano (por tudo o que você apresenta no texto e por muito mais)! Chego, muitas vezes, a invejar a condição irracional dos animais.
Texto tocante!
Errata: Em meu comentário,quis dizer "não semelhantes" e segundo erro, rsrs ao invés de e,"porém" merecem ser adestradas...
ResponderExcluirEscrever rápido não dá certo!
Lindonete Câmara
Caros comentaristas, culpemos os teclados. Esses danados nos confundem mesmo! Nos tempos das canetas, quase não cometíamos esses deslizes, pois essas regalias da informática de voltarmos a frase ou palavra sem a borradura da folha não era possível. Lindonete e Teixeirinha, o Grande, obrigado pelas palavras.
ResponderExcluirExcelente texto, Nailson. A postura de dominação do homem sobre os outros animais é de fato profundamente lamentável.
ResponderExcluirNailsom,vc mandou ver!
ResponderExcluirArrazou querido!
Rita de Cássia.
Caro poeta Nailson, até pra comentar seus textos eu fico meio sem graça, é muita riqueza literária.
ResponderExcluirE ainda nos chamam de seres racionais.
ResponderExcluirDesencantada. Também vou ativar os meus neurônios, mas antes digo que estou encantada com este texto. Parabéns.
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