João Pessoa, 20 de junho de 2011
Caro amigo Nailson Costa,
Peço a sua licença não apenas para comentar o seu valioso artigo sobre o Professor Ribeiro, mas também para quebrar o silêncio relacionado ao fato de que nunca fiz qualquer pronunciamento público, inclusive em livros ou estudos a respeito do mesmo.
Imaginando dada a permissão, em primeiro lugar, lhe parabenizo por esse texto-homenagem que você produziu. Adjetivações excessivas ou hipérboles à parte, compreendi que sua intenção foi a de recuperar na memória daqueles que conheceram o Profº Ribeiro as boas lembranças do seu convívio e de seus ensinamentos linguísticos do português, do francês e até mesmo do latim.
Percebi também que você tentou, embora que para alguns de forma exagerada, propiciar a todos os leitores do Blog da APOESC uma visão condensada da figura humana “Ribeiro” dando destaques, inclusive, a sua vida social de esportista e de religiosidade. Contudo, ao qualificá-lo quanto à intelectualidade que lhe era atribuída você realmente extrapolou, meu caro. Extrapolou em dizer que Ribeiro tinha uma palavra.
Nailson, você extrapolou os limites da compreensão de muitos dessa nova geração que vive ricamente conectada à chamada “rede mundial de computadores”. Geração século XXI que no clique, num toque do atalho da “área de trabalho” (para sequer digitar o tal do www), ou numa “busca por qualquer palavras” no “Google” - que a tudo engoliu - tem a sua resposta. Com resposta para todo gosto, conhecimento ou absurdo, em fração de segundos. São os megas, os gigas, teras, computação em nuvens, ou o que se cria a cada instante, que trarão a “palavra” que se procura.
Como ficou fácil escrever, fazer poesias, trabalhos escolares e até monografias. Nailson, pergunta a alguém desses tempos modernos o que é uma “Enciclopédia Barsa”, sonho de consumo que muitos de nós não tivemos acesso? Quem lembra dos trabalhos pesquisados em livros na Biblioteca Municipal? E quando não achávamos, pela escassez de bibliografia, a quem íamos recorrer? Ao professor, é a resposta. A PALAVRA de um professor era a palavra “final”.
Não tínhamos recursos de autocorreção do “word”, tradutor de idiomas, dicionários “on line”, “et caetera” (a propósito, esta última palavra para ser pesquisada). Debruçávamos apenas nas máquinas de datilografia da Professora Maria Andrade (em memória). Então, o jeito era procurar um professor. Professor, que nos trazia uma PALAVRA: da resposta, de sua amizade e sendo incentivadores dos sonhos que trazíamos em nossos corações de estudantes.
Extrapolou, dileto amigo. Os quase que infinitos recursos da navegação em rede nos têm feito esquecer o valor das pessoas, têm produzido seres e relações virtuais. Que fique bem claro que, por princípios cristãos espirituais, como também por convicções próprias, sou contra a qualquer tipo de idolatria ou veneração às pessoas. Não se trata de defender a mitificação de Ribeiro, ser humano que foi cheio de virtudes e defeitos. Apenas resgatar, assim como você, o valor de um bom professor.
Com saudades e reconhecimento ao Professor Paulo Gomes de Andrade, “Paulo de Nô”, homem de honra, sábio, culto e meu primeiro grande professor de Português. Mestre que deixou marcas, que não se pode deletar, em muitas gerações da cidade de São Tomé/RN (5ª e 6ª série, 1978-1979). Ele também tinha a PALAVRA e com o mesmo realmente aprendíamos português e redação.
Com saudades e reconhecimento à Professora Maria Celestina da Silveira, a “Dona Maroquinha”, grande mestra de todos os níveis educacionais e poetisa, que deu muita “aula de graça” no Campus Universitário de Santa Cruz (UFRN) e não teve um reconhecimento à altura, inclusive pela justiça trabalhista.
Com saudades e reconhecimento ao Professor Ivonaldo Feitosa Lopes, Ivonaldo de “Zé Baixinho”, que na sua passagem meteórica pela educação deixou as marcas reluzentes do saber e da perseverança dos que lutam até o “fim”.
Com saudades e reconhecimento da geração “Cônego Monte” ao Professor Raimundo Gomes Barbosa, o sempre “Padre Raimundo”, pelas lições de vida e que insistentemente nos ensinava que para vencer era necessária muita disciplina.
Saudades do Professor Ribeiro, pelo legado que deixou. Que sua memória não fique apenas restrita ao fato de ser o denominativo de uma escola e do “Arraiá do Chico Ribeiro” (com todo respeito e valorização devidos à cultura popular).
Muitos dos alunos desses sábios professores, historicamente desvalorizados pelos governantes, hoje estão graduados e pós-graduados (assim como eu). Foram-se os bons professores de nossas vidas. Ficaram os anéis em nossos dedos.
Do seu amigo,
Roberto Flávio Dias Câmara
Post-scriptum: Suspeito sou ao falar sobre o Professor Ribeiro porque os seus pais eram irmãos dos meus avós (maternos).
Nota: Esta carta teve a revisão do Professor e literato Gilberto Cardoso dos Santos, a quem agradeço e devemos reconhecimento por tudo que tem feito pela educação e pela cultura.
Grande amigo e ex-professor/incentivador Roberto Flávio,
ResponderExcluirSeu texto faz destaques extremamente pertinentes, como as facilidades e alienações geradas pela era computacional vigente (aonde chegaremos, hein, Roberto?!); e como as lembranças de tantos baluartes de nossa educação, alguns dos quais fui aluno e amigo.
Confesso que sou fascinado por este nosso mundo cada vez mais digital (já falei sobre isso em um texto anterior), mas admito os isolamentos, as tapeações, as besteiradas e os atrasos culturais que ela também permite/facilita.
Assim como sua esposa e seu cunhado, continue a nos brindar com seus textos. Afinal você sempre foi um dos maiores pensantes (falta-me uma palavra melhor - rsrsrs) de nossa cidade.
Grande abraço!
Obrigado, Roberto.
ResponderExcluirBela carta.
Caro Roberto Flávio, Você pertence a uma família da qual sempre admirei pela sapiência. Relembrar Ribeiro em um texto em que ressalto suas virtudes e brinco com a língua portuguesa, além de honroso pra mim, foi mais do que uma obrigação. Aos intelectuais, assim como aos artistas, devemos as nossas mais hiperbólicas reverências. Obrigado pelo belo texto. Nem sei se merecia tanto. Você é titular absoluto no sagrado time de amigos do meu coração. UM GRANDE ABRAÇO E DEUS LHE ABENÇOE!
ResponderExcluirDileto amigo Nailson,
ResponderExcluirPara expressarmos o sentimos as palavras escritas ou faladas às vezes são poucas, e, noutras vezes parecem se alongar em prolixidade. Desculpe a longa carta, mas foi tão somente porque o seu texto-homenagem foi muito mais além do que você imaginava. Grato pelos elogios e por estarmos em teu coração. Sabes que a recíproca também é verdadeira. As bênçaos de DEUS volvam também para ti e família.
Amigo Teixeira, lhe agradeço identicamente pelas palavras, mas cuidado, não se guie pelos “exageros” de Nailson (risos). Você sempre foi um destaque, tanto é que alçou voos mais altos. Gosto também bastante dos seus textos e suas percepções sociais. Abraços!
Obrigado, Gilberto e APOESC por nos propiciar esse espaço interativo cultural.
Aliás, parabéns a todos, sem exceção, que tem trazido suas contribuições à cultura através desse sarau pela internete. É a modernidade digital, Teixeira!
Roberto Flávio
A Roberto Flávio!
ResponderExcluirQuanta saudade!
Da nossa amizade!
Das nossas conversas!
Dos nossos estudos!
Enfim, saudades de tudo aquilo que passamos juntos no companheirismo da jornada de trabalho no "Estadual" e de momentos outros que vivenciamos e compartilhamos juntos com outros tantos amigos na casa do meus pais, no sindicato dos trabalhadores em educação, na casa dos seus pais...
A vida e as nossas escolhas nos fazem percorrer caminhos diferentes, no entanto, não fazem esquecer no nosso coração e na nossa mente àquelas pessoas que se fizeram presente na nossa vida por determinado momento. A você - eterno menino prodígio (rsrsrsrsr) - e a sua família muitas bênçãos e benções!
Fiquei muito feliz ao lhe encontrar através da prosa e da poesia da APOESC e, tenho a ousadia de dizer como ex-aluna do Professor Ribeiro (Francês no Ginásio e literatura e Português no "colégio técnico) que existe algumas lacunas nos escritos seu e de Nailson:
1) Na época em que Ribeiro ensinava não se falava em construtivismo, em trabalhar a contextualidade do aluno, entre outros pressupostos apresentados pelos paradigmas da pedagogia, no entanto, ELE trabalhava em sala de aula jornais e revistas da semana, levava até nós noticiários que nem sempre tínhamos acesso e outras tantas informações que ele colhia através do rádio e da televisão, para os estudantes de hoje pode não parecer algo importante, mas naquela época não tínhamos acesso a esse manancial de tecnologia que hoje temos como você Roberto ressalta muito bem em seu texto.
2) Ribeiro era um referencial da verdade através da sua difusora localizada nos fundos da antiga Prefeitura Municipal de Santa Cruz onde hoje funciona a Câmara dos Vereadores, quanto de nós (tenho hoje 45 anos de idade) não ficávamos atentos ao noticiário da "Difusora de Ribeiro" especialmente quando saía resultado de vestibular.
Num dos comentários feitos no post que Nailson colocou um internauta se assombra com as "hiperbólicas reverências" e pergunta se este homem era humano, atrevo-me a responder: Era humano demais e foi uma pessoa além do seu tempo, construiu sua história e através de sua profissão serviu de exemplo para que outros pudessem seguir seu exemplo e pudessem voar alto como as águias.
Francisca Joseni dos Santos - Professora
Cara,Prof Ribeiro não conheci,mas Paulo de Nô foi um excelente prof.e também merece ser lembrado dessa forma,publicamente.
ResponderExcluirSantos de São Tome/RN
Esse texto está coerente,pois, não só Ribeiro foi citado ,mas outras pessoas que com igual ou superior valor também merecia um Título.
ResponderExcluirParabéns Roberto Flávio
Parabéns Roberto Flávio!
ResponderExcluirConheço vc como prof e sei o quanto é excelente!
Seu texto é uma relíquia...e tem uma esposa maravilhosa e inteligente que tb escreve super bem,ambos se amam e se merecem muito,continuem nos brindando com essas escritas edifificantes.
Quero parabenizar aos dois pela participação aqui no BLOG e por serem um casal excelente.Tenho acompanhado Lindonete com muita admiração e agora vc!
Rita de Cássia.
Eita casal abençoado por Deus!
ResponderExcluirPrefiro não me identificar,não gosto muito de publicidade rsrs mas os tenho no orkut e sou amiga do casal.Quero parabenizar Roberto por ter sido um bom prof e por escrever tão bem e por ter essa esposa a altura,além de ser tão querida.
Digo a vc lá,quem sou eu!!! rsrs
Lembro-me do ilustre professor Roberto Flávio de um evento realizado há muito tempo na escola José Bezerra Cavalcanti. Onde eu participei ativamente.
ResponderExcluirValeu, Joseni! Seu comentário me comoveu muito! Na verdade, este deveria estar na página principal, dada a categoria com que nos é transmitida uma informação carregada de sentimentos. Um abraço de seu amigo Nailson.
ResponderExcluirJoseni,
ResponderExcluirA dinamicidade da vida é algo traduzido no vivido, no viver e no rever. Este último conceito, acredito, traz por conseqüência não apenas o ver de novo (visual ou à memória), mas principalmente a revisão dos inúmeros paradigmas conceituais (ideológicos, filosóficos ou espirituais), nos quais também se incluem os sentimentos e emoções que permeiam nossas vidas. Deus abençoe a você, seu esposo, filho e família (tenho boas lembranças dos seus pais, sempre de sorrisos abertos).
Eu, minha esposa e nossas filhas, somos muito felizes e gratos a Deus por todo o presente que vivemos.. Sejam também muitos felizes.
“O PRESENTE É TÃO GRANDE, NÃO NOS AFASTEMOS”. (Carlos Drumond de Andrade)
Obrigado também a Rita de Cássia, Lucicláudio e “os anônimos” pelas observações, e em especial a todos que tem acompanhado o blog da APOESC. Mesmo não fazendo comentários, que não é o que esperamos nas matérias, vocês são especiais porque partilham dos nossos sentimentos e demonstram também ter TODO AMOR À CULTURA.
Roberto Flávio
Nailson, obrigada pela generosidade de suas palavras! Roberto, seu comentário não foge à grandeza da sua inteligência. Para todos felicidade plena.
ResponderExcluirFeliz sou eu, que tive o privilégio de conviver com Nailson, Roberto e Ribeiro.
ResponderExcluirValeu,Hélio,por sua irreverência...você realmente nos traz muita alegria e privilégio mesmo é tê-lo conosco.
ResponderExcluirRoberto Flávio