segunda-feira, 16 de maio de 2011

POEMA EM PRECE



Poema em Prece (Ao meu avô com carinho)



Recostada sobre o sofá da sala,

Consumida pela letargia do instante;

Vi meu anjo avô despedindo-se da vida.

Tinha nos olhos estrelas agitando-se em adeuses,

Seus pés cansados, aposentando calçados;

Sua voz possuía a vastidão do infinito,

Sempre em tom maior debulhava ternurinhas.

Sou toda silêncio ao recordar de abraços dados,

De histórias contadas com tamanha alegoria,

dos hinos cantarolados,

Das flautinhas de bambú que fazia apitar quebrando o orgulho dos dias.

É quase madrugada e minha alma pranteia ferindo os ouvidos da noite...

A dor é a minha paisagem atemporal cristalizada...

Não sinto gosto de nada, despovoa-me os sentidos,

Todo meu eu faz desordem, tecendo lágrimas para um colar que morre.

As coisas me espiam como a amparar-me,

O frio da noite pigarreia elegias,

Nada mais,o resto é só prece!

DÉBORA RAQUIEL

5 comentários:

  1. Esses seus versos Débora, com toda certeza, faz cada leitor viajar através da lembrança, até um alguém que também já tenha feito a sua partida. Parabéns pelos comoventes versos!

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  2. Cara amiga Débora, quanto tempo esperamos ansiosos os seus versos, parabéns poesia grandiosa.

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  3. Débora, não é o primeiro poema seu que leio, e desde as primeiras impressões que tive, a certeza de uma poetisa que tem o domínio da palavra, com forte poder descritivo e evocativo. Tudo na justa medida. Seu poema também me fez lembrar o dia em que a minha vozinha materna faleceu. Parabéns!

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  4. "É quase madrugada e minha alma pranteia ferindo os ouvidos da noite". Esse verso é de lascar, lindo demais! Fiquei todo arrepiado. Essa moça tem futuro!!!! Olha, adoro versos com esse tipo de construções metafóricas. As figuras de linguagem constroem as belas imagens que nos fazem viajar. Um poema com rimas bem ritimadas e é bom, mas um poema com a riqueza das figuras de linguagem É BOM DEMAIS! Parabéns, garota!

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