terça-feira, 11 de outubro de 2022

ESTRATÉGIA DA FAMÍLIA ADDAMS - Heraldo Lins

 


ESTRATÉGIA DA FAMÍLIA ADDAMS


Volta e meia minhas meias desaparecem. Já falei com a lavandeira e ela disse que nunca perdeu uma sequer, então, cheguei à conclusão: só deve ser os fantasmas que rondam a minha casa. Já tentei pegá-los na ratoeira, e nada. Contratei um caça-fantasmas, na verdade, uma caça-fantasmas, e ela disse que fantasmas não se pega com ratoeira. É necessário uma “fantasmeira” para poder aprisioná-los. Encomendei algumas ao menino que gritou “o rei está nu”, para quem não sabe, ele hoje fabrica essas coisas estrambóticas. Armei as “fantasmeiras”, mas as meias continuaram a sumir. Preferi andar sem elas até dar chulé do que quebrar a cabeça com essas armadilhas complicadas, porém fiquei curioso em conhecer a oficina do menino da túnica invisível, como ficou ele conhecido. 

Fui com a caçadora, onde o vento faz a curva, visitá-lo e lá encontrei algumas varinhas de condão, trenó de Papai Noel e até vassoura de bruxa ele fabrica. Tentei comprar algumas dessas geringonças, todavia ele me disse que a moeda de troca é o Santo Graal. Procurei encontrar esse objeto, mas fui orientado pelo "Código da Vinci" que o Santo Graal é, na verdade, a própria Maria Madalena. Fiquei sem o poder das bruxas por falta do endereço de Maria que de prostituta não tinha nada, pelo contrário, foi uma ideia apoiada por Constantino para se manter no poder, disse-me alguém lá no código. 

Tudo voltou à estaca zero, eu sem minhas meias e também sem a esperança de ser bruxo. Como irei viver sem que nem esperança posso ter? Ao saber disso, Alice veio me socorrer e trouxe todo o país das maravilhas para me auxiliar. Trouxe um anão gigante, dois palhaços angustiados e uma bailarina perneta. O bicho do sorriso não pode vir porque estava com dor de dente, assim mesmo saímos em busca de aventura, afinal de contas é isso que conta no final das contas. 

Mais à frente, estava Harry Potter chorando porque havia quebrado seus óculos. Disse-lhe que fizesse uma mágica para corrigir sua miopia, já que era bruxo e não seria fácil convencer alguém dos seus poderes se nem conseguia enxergar direito. Ele disse que o poder dos bruxos não poder ser feito em benefício próprio, se assim fosse não existia bruxas feias. 

Continuamos nossa viagem pela floresta e encontramos um ser andando sobre as águas. Estava sozinho, meditando, parado em cima daquela lagoa como se fosse sua poltrona predileta. Alice conseguiu dar voz à Aranha-d‘água e ela disse que desde o início dos tempos já andava na superfície de “agá dois ó vinte e quatro” (água fresca), entretanto nunca ninguém fez uma só citação sobre essa sua capacidade. Isso é revoltante, disse ela alegando que deve ser por pertencer ao sexo feminino que ficou largada por aí afora. 

Em seguida, encontramos Pedro Malazarte vendendo gato por lebre no seu restaurante de comidas exóticas. Pago aos meninos de rua para matar gato e passo à frente como se coelho fosse. Tempero e até juiz engole minhas especiarias, inclusive a galinha caipira daqui são urubus caçados pelos mesmos meninos que já me trazem depenados. Ele disse que a vida é assim. Como assim? perguntei-lhe. Assim, assim, ora essa! O mundo é dos mais espertos! Aproveitando sua desenvoltura para enganar as pessoas, perguntei-lhe como faço para me dar bem na vida, o que recebi como resposta: vá vender carne podre a preços baixos que você consegue matar sem ser incriminado e ainda ter milhões de seguidores. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 10.10.2022 — 09:14



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