quarta-feira, 12 de outubro de 2022

VAMOS DE LEITURA - Heraldo Lins

 


VAMOS DE LEITURA


Já são dez inícios de conversa que tento, e nada. O problema não é a falta, mas o excesso de assuntos. Só há um jeito de atender à ansiedade de registrar tudo: é misturando-os. 

Nesse mundo aqui das palavras, há um poder criador que vem aos borbotões, e às vezes falta, hoje veio muito, excessivamente, em excesso. 

Logo cedo, pensei em registrar o meu caminhar na praia, entretanto lembrei-me que já fiz isso um dia desses. Poderia ligar para o órgão municipal responsável pela beleza das praias e denunciar que na via costeira há alguns barracos montados, todavia ninguém os vê da pista. Só quem caminha lá embaixo pode perceber, e, se ninguém tomar as providências, daqui a pouco vai se transformar num “favelão” que, em vez de via costeira, será batizada de via-crúcis. Não quero falar sobre isso para não deixar ninguém triste, nem as pessoas com negócio ligados aos hotéis cinco estrelas, nem os pescadores que fizeram para se abrigarem do sol. 

As mesas e cadeiras ocupando o passeio?! nem pensar! Todo dia passo por lá e se disser que é proibido impedir os caminhantes de ir e vir, sem precisar desviarem-se, serei apedrejado. 

A única coisa que me resta é falar do barulho da máquina de lavar fazendo-me acreditar que daqui a pouco irá se quebrar com tanta roupa que colocaram lá tentando economizar sabão. Agora me lembrei que se disser isso serei malvisto por tornar público um assunto privado que só diz respeito ao cotidiano de uma área de serviço. Muito banal para tomar o tempo de intelectuais que precisam se ocupar com ideias profundas. 

Num momento qualquer, pensei em recontar a história dos três porquinhos satirizando os irmãos numerados, só não faço isso por temer os milicianos. Deixo em paz os pouquinhos para não denegrir a imagem dos coitados. 

O assunto do momento, que nem quero me meter, é o enrocamento da praia de Ponta Negra aqui em Natal. Ouvi falar que vão "engordar" a praia tornando-a bem mais larga tipo o que fizeram no balneário de Camboriú em Santa Catarina. Mesmo a maré estando cheia, ficará praia com, aproximadamente, trinta metros de largura. Na maré baixa, cem metros para o “cara” correr, jogar bola ou, simplesmente, olhar. Segundo especialistas, mais gente irá escolhê-la para passar seu final de semana. A tendência é essa mesma ao nível mundial, basta ver em Dubai que até condomínios, hotel sete estrelas, foram construídos onde antes era mar. 

No Kuwait, eles estão cavando para deixar entrar água salgada no deserto e assim muita gente morar perto do oceano. Eu até já pensei em investir na construção de pontes onde no meio é a estrada e ao lado uma estrutura para se fazer casas. 

Vou parar por aqui que chegou um homem para comprar um mictório usado. Antes eu tinha anunciado no Marketplace do Facebook, agora está na OLX. Comecei oferecendo por duzentos e cinquenta e fechei negócio por cento e quarenta. A ideia do mictório é que não se urina no chão evitando assim briga de casal. Quem tem ela torta é pior ainda, pois se faz necessário dar o desconto senão a tampa do sanitário fica toda lavada. O recomendado é usá-la, num dia de um lado, no outro do lado oposto, mas o problema é que há grande fiscalização por parte das maliciosas dizendo que quem guarda virada para o lado direito é bicha, e para o lado esquerdo, é macho. 

Deixo bem claro que esse final de texto não tem nada a ver com os partidos políticos.


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 12.10.2022 — 12:26




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