MUDANÇA PRECIPITADA
I
Nasci numa região
Da caatinga ressecada
Que já é denominada
De fenômeno da sequidão
Fica entre o Brejo e o sertão
Terra do mandacaru
Desmatada, quase nu
Mas de um clima saudável
Temperatura agradável
Chamada Curimatau.
II
Fica quase na divisa
Do Rio Grande do Norte
Terra do caboclo forte
Que tem fé e profetiza
O tempo contabiliza
As sucessivas estiagens
Só mesmo essas desvantagens
Mudam nossa trajetória
E vem a fase transitória
Das prolongadas viagens.
III
É aí que o sertanejo
Vende tudo quanto tem
Vai para um lugar além
Às vezes, contra o desejo
É isso que sempre vejo
Primeiro, vem a saudade
Depois, a dificuldade
De quem nasceu lá na roça
Vem a tristeza e se apossa
Sem ter dó nem piedade.
IV
Não escuta a seriema
Às seis horas da manhã
Não houve mais a cauã
Lá na copa da jurema
Aí vem o problema
Nervosismo, depressão
Já chega a desilusão
Se apodera da pessoa
Começa a vagar à toa
Sem rumo, sem direção.
V
Este é o meu Nordeste
Semiárido nordestino
Vivo aqui desde menino
Acho que passei no teste
Quis trocar pelo Sudeste
Mas depois me arrependi
Regressei ao Cariri
Pro meu torrão ressecado
Digo ao Pai: muito obrigado
Por ter voltado pra aqui!
VI
O estado da Paraíba
Conquistou meu coração
Se esta é a minha paixão
Peço que ninguém proíba
Pegue a bandeira e exiba
E cante comigo seu hino
Paraíba masculino?
Mulher-macho sim, senhor,
Tu representas o amor
Desse povo nordestino.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo, DAXINHA.
07/09/2005
JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais
conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José
Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité,
mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio
Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde
trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se
fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da
região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de
agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda
menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda
mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia.
Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos
focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o
era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um
Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação
póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso
dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016,
em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Texto de Jaci
Azevedo)
Uma linda e sincera homenagem ao Curimataú paraibano!!
ResponderExcluirGratidão por mais essa, Gilberto!! ❤️👏👏👏