sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

MUDANÇA PRECIPITADA - Poeta Daxinha

 



MUDANÇA PRECIPITADA


I

Nasci numa região

Da caatinga ressecada

Que já é denominada

De fenômeno da sequidão

Fica entre o Brejo e o sertão

Terra do mandacaru

Desmatada, quase nu

Mas de um clima saudável

Temperatura agradável

Chamada Curimatau.

II

Fica quase na divisa

Do Rio Grande do Norte

Terra do caboclo forte

Que tem fé e profetiza

O tempo contabiliza

As sucessivas estiagens

Só mesmo essas desvantagens

Mudam nossa trajetória

E vem a fase transitória

Das prolongadas viagens.

III

É aí que o sertanejo

Vende tudo quanto tem

Vai para um lugar além

Às vezes, contra o desejo

É isso que sempre vejo

Primeiro, vem a saudade

Depois, a dificuldade

De quem nasceu lá na roça

Vem a tristeza e se apossa

Sem ter dó nem piedade.

IV

Não escuta a seriema

Às seis horas da manhã

Não houve mais a cauã

Lá na copa da jurema

Aí vem o problema

Nervosismo, depressão

Já chega a desilusão

Se apodera da pessoa

Começa a vagar à toa

Sem rumo, sem direção.

V

Este é o meu Nordeste

Semiárido nordestino

Vivo aqui desde menino

Acho que passei no teste

Quis trocar pelo Sudeste

Mas depois me arrependi

Regressei ao Cariri

Pro meu torrão ressecado

Digo ao Pai: muito obrigado

Por ter voltado pra aqui!

VI

O estado da Paraíba

Conquistou meu coração

Se esta é a minha paixão

Peço que ninguém proíba

Pegue a bandeira e exiba

E cante comigo seu hino

Paraíba masculino?

Mulher-macho sim, senhor,

Tu representas o amor

Desse povo nordestino.


Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo, DAXINHA.


07/09/2005

JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Texto de Jaci Azevedo)


Um comentário:

  1. Uma linda e sincera homenagem ao Curimataú paraibano!!
    Gratidão por mais essa, Gilberto!! ❤️👏👏👏

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