MUTAÇÕES NA PANDEMIA
Infelizmente,
aproxima-se o triste aniversário de dois anos da Covid-19 em terras
brasileiras. No início, lá longe na China, o vírus saía do berço. Aqui ainda
havia um ilusório sentimento de que estávamos protegidos na América do Sul, do
outro lado do mundo.
Claramente, já
sabemos que o vírus é um ator global, capaz de representar qualquer papel nos
mais diversos e adversos cenários. Escalado para o ataque, o vírus desafia as
defesas no campo das ciências médicas.
Diariamente,
continuamos a ouvir a gritaria nervosa e exaltada e histérica das
arquibancadas, onde se agrupam o preconceito, a superstição e o negacionismo
numa torcida macabra e funesta.
Politicamente, o
vírus entrou em campo aberto, enfrentando um time sem comando técnico e tático.
Desacertos e lambanças exigiram mudanças de regras no meio do jogo.
Improvisações equívocas voluntárias fizeram baixas no vestiário político e no
obituário nacional.
Economicamente, juiz
e treinador e jogadores não acertam o passe. A bola sempre escapando pela
lateral. O concerto desafinado faz subir as críticas e os preços. Acordaram o
dragão da inflação. Luz, comida, combustíveis. Tudo pouco e caro. Sobram: medo
e fome e insônia.
Comercialmente,
acompanhando o ritmo mutacional do vírus da pandemia, os empresários do setor
de alimentos diminuíram a embalagem e a quantidade de muitos produtos
populares, mas não se envergonharam de aumentar os preços “promocionais”.
Religiosamente, com
os templos fechados, foram convocados incitantes apregoadores de patamares e
altares, como gandulas responsáveis para repor a bola nas quatro linhas das
redes sociais e arrebanhar a torcida verde-amarela dizimista dos bancos
penitenciais.
Culturalmente,
cinemas e teatros e circos com as luzes apagadas. Autores e artistas
censurados, ofendidos, abandonados e vistos como inimigos da “nova era”.
Instituições extintas e recursos deslocados para projetos alinhados ao louvor
do “Brasil acima de todos”.
Cientificamente, as
vacinas chegaram como reforços contratados para combater a propagação do vírus
e reduzir o placar alarmante de mortes. Mas contra-ataques baixos e ilegais
tentam tirar de campo pesquisadores, médicos e técnicos que apoiam o jogo
limpo.
Ideologicamente,
agentes anônimos disfarçados de arautos públicos incendeiam com fake News
a sensível animosidade de seguidores que formam a legião armada e desalmada,
inquieta por montar suas trincheiras na praça dos poderes.
Juridicamente, a lei
sustenta a ordem e as instituições defendem o progresso. Magistrados e
militares, de senso e de consenso, estão no mesmo gramado verde-amarelo como
protagonistas da paz e da liberdade.
Pessoalmente, no ano
de Copa e Eleições, ainda em meio às mutações da pandemia, desejo que as
bandeiras das disputas do politibol sejam desfraldadas sob o hino da alegria, do
respeito, do compromisso e da transparência.
José da
Luz Costa Natal, janeiro/2022.
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Caro José Luz, sua crônica expõe com precisão o que temos vivido durante essa pandemia. Seus anseios, felizmente, parecem representar o da maioria do povo brasileiro. Isso nos permite ver luzes crescentes no fim do túnel. Parabéns pela maestria com as palavras.
ResponderExcluirObrigado, caro Gilberto, pelo espaço acolhedor e pela motivação constante.
ExcluirCaríssimo Zé da Luz, sua crônica resume bem demais os momentos difíceis pelos quais temos vividos. Nunca imaginei passar por esse momento de pura barbárie. Se não fossem nossas instituições democráticas, acho eu , estaríamos passando por momentos ainda piores.
ResponderExcluirParabéns por usar com maestria e responsabilidade o uso das palavras.
Grande abraço.
João Maris de Medeiros
Valeu, prezado João. Não há como conter nossa indignação diante de tantas coisas ruins...
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