sábado, 29 de janeiro de 2022

ASSUNTO INESGOTÁVEL - Heraldo Lins



 ASSUNTO INESGOTÁVEL


Um dia desses, milhares de mensagens chegaram pedindo-me para falar sobre Paixão.  Minha advogada espantou-se com esse formigueiro de pedidos e até se deu ao trabalho de saber o motivo que gerou tudo isso. Nada se descobriu a respeito, mas, por tratar-se de um sentimento inerente a quem ama, senti-me estimulado a escrever. 

Eu, incondicionalmente, estou sempre à procura desse sentimento para me manter vivo, por isso olho nos olhos das modelos, misses, e outras santas que vejo nos camarins. Disso eu entendo. Atrizes de cinema, televisão, até uma que fazia um comercial de creme dental, eu me apaixonei. Mas não estou sozinho. Conheci um amigo que era doido para se casar com a miss Brasil. O coitado colecionava fotos dela para imaginar-se marido daquela beldade. Resultado: morreu solteiro.

Com essas mensagens, relembrei do meu encontro com uma apaixonante numa ilha que conheci recentemente. Estava sozinha, com um shortinho combinando com a curta parte de cima. Cinza, “puxado para ver”, era a cor do seu traje feito de seda. Sorridente, atenciosa, nunca mais esqueci aquela jovem. 

O meu encontro se deu na passagem para os mergulhos. Todos os dias que estive por lá, passava em frente para vê-la. Perda de tempo. A dona da pousada me desenganou confessando que viera um iate buscá-la no outro dia.

Encontros acontecem dentro de uma gama de desencontros. Nesse vai e vem é que vem à tona a paixão adormecida. Conversei com a de minivestido vermelho que estava patinando. Perguntei-lhe quando foi a última vez que se apaixonou, ela me respondeu que não existe a última vez. Está sempre apaixonada, agora mesmo, por mim, ao conversar com alguém, logo se apaixona. 

Alegra-me ter escutado isso, mas a paixão, o que é? Consultando a Wikipédia descobri que é um termo que designa um sentimento muito forte de atração por uma pessoa, objeto ou tema, como também pode ser um grande interesse ou admiração por um ideal, causa ou atividade. 

Desconfio que a patinadora está confundindo-me com um objeto, mas seja lá o que for, estou dentro. O importante é ser objeto de paixão para poder se apaixonar. Não existe esse sentimento se o olho se mostrar indiferente. Tem que haver o encantamento, por isso, nas histórias de fadas, sempre há alguém encantado para o outro poder se apaixonar. Ultimamente só ouvi falar no pós-trauma da paixão: “sofrência”, mas não quer dizer que tudo acaba em sofrimento. 

Recebi hoje a notícia de que minha antiga paixão se casou. Disse-lhe por várias vezes que estava apaixonado, e, depois, que a amava verdadeiramente. Queria tê-la no meu harém, porém, como ela decidiu sair fora do palácio, nem sei se lhe desejo felicidades. Fica a pergunta: a paixão só está presente quando atende aos nossos caprichos? Essa eu não sei responder, só sei que é melhor do que não a ter.    


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 27.01.2022 ─ 22:52




2 comentários:

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