sábado, 29 de janeiro de 2022

LEMBREI DE VOCÊ, PAPAI - Cleudia Bezerra Pacheco



 Lembrei de você, PAPAI


As memórias são como faíscas em noites estreladas. Que, por mais ditosas que sejam, acabam passando despercebidas ante o brilho incólume das estrelas. Assim as memórias, meus amigos, diante de tanta informação, um universo de informação, passam despercebidas para muitos. O meu pai, Severino Bezerra, era um homem à frente do seu tempo. Contumaz, papai ficava horas com ouvido no rádio. Tão vidrado e interessado que era, de lá arranjou o meu nome e o de meu irmão, Adderraman. Papai, além de astucioso no trabalho, era um homem determinado. Lembro do seu trabalho, comandando mais de 31 homens, para ajudar o monsenhor Emerson, amigo de nossa família, na construção da matriz. Lembro do seu empenho para trazer Santa Rita de Cássia, na primeira e única profissão rural da imagem, para Boa Hora. Lembro da construção do açude.

O ânimo de meu pai pelos tempos de fatura que as chuvas trazem, era como a água do mar, que por vasta imensidão, a gente acha que nunca tem fim. Lembro como se fosse hoje as experiências para saber se o ano seria bom de inverno. Os anos de seca podia até deixar papai abalado, mas desanimado com o futuro. Isso seu Severino nunca foi. O anel de formatura do meu irmão, foi comprado com a venda de duas cabeças de gado. Porque a vida é assim, meus amigos, depois de um período cabisbaixo, sempre haverá algo para reerguer nossa cabeça. Para o meu pai a educação dos filhos sempre foi este ânimo.

Fazem 54 anos que papai se foi. Não escrevo estas linhas porque lembrei dele hoje. Essa lembrança, como uma cobrança latente, bate em meu coração todos os dias. Sempre olho ao horizonte e, confesso a vocês, pergunto o que ele pensaria das decisões que tomei e do rumo que dei à história de nossa família. Quero acreditar que esteja onde ele estiver, ao lado de minha mãe Auta, sorri pelo que consegui fazer.

CLEUDIA BEZERRA PACHECO



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