TRATO, COLHO E ME ALIMENTO
I
O pão que a gente desfruta
Vem do suor do meu rosto
Muitas vezes o sol já posto
Ainda estou lá na gruta
Derribando a mata bruta
E fazendo o planejamento
Pra ver se meu rendimento
De alguma forma eu garanto
TRATO, COLHO E ME ALIMENTO.
II
Derribo a mata em setembro
Encoivaro em outubro
Com as galhas finas cubro
Pra botar fogo em novembro
Depois que passa dezembro
Fico esperando o momento
Vem a mudança do vento
Leva as nuvens a outro canto
BROCO, QUEIMO, ARO E PLANTO
TRATO, COLHO E ME ALIMENTO.
III
Me criei sempre lutando
O trabalho é terapia
Para mim é alegria
Ver meu suor derramando
O sol ardente queimando
Que dá pra ficar cinzento
De qualquer forma eu aguento
Com nada disso eu me espanto
BROCO, QUEIMO, ARO E PLANTO
TRATO, COLHO E ME ALIMENTO.
IV
O caboclo nordestino
Que vive assim como eu vivo
Dá pra achar o motivo
De culpar o seu destino
Eu nunca me desatino
Nem sinto arrependimento
Para ganhar meu sustento
Tenho trabalhado tanto
BROCO, QUEIMO, ARO E PLANTO
TRATO, COLHO E ME ALIMENTO.
V
Acho até que sou feliz
Por alimentar meus planos
Durante anos e anos
Sempre alguma coisa eu fiz
Se a Bíblia Sagrada diz
Que a fé é alimento
O Pai, lá do firmamento,
Diz: Trabalhe que eu garanto
BROCO, QUEIMO, ARO E PLANTO
TRATO, COLHO E ME ALIMENTO.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo, DAXINHA.
11/08/2003
JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)
Eita, poeta Daxinha...
ResponderExcluirSaudades eternas; lições, idem...
Obrigada pelo espaço, Gilberto!!