sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

ISTO É SÉRIO! - Heraldo Lins



ISTO É SÉRIO!

 

Coisa chata é sair em noite totalmente escura para fazer o número dois no mato. Se estiver chovendo nem se fala.  Mesmo com temporal, as galinhas acham o banheiro. Uma palhoça quadrada sem o tampo de trás. Basta terminar que elas se encarregam da limpeza. Eu sei que é nojento em se tratando de sítio de pobre. Mas ao se tratar da NASA a coisa muda de figura. Todos devem ler a notícia que um astronauta produz oitenta quilos de fezes em um ano de missão. É quase o peso de dois sacos de cimento. Esse assunto está sendo bastante debatido, ultimamente, pelos maiores cientistas do mundo. Fezes de astronauta, ou melhor, cagada no espaço é assunto corriqueiro nas mais famosas Universidade do mundo. Não se fala em outra coisa. O interesse consiste na economia que se fará reciclando o material orgânico. Tudo que sobe desce. Agora tudo que sai vai entrar novamente em forma de alimento.

 

As galinhas estavam certas. A NASA, imitando as penosas, já conseguiu produzir cinquenta e dois por cento de proteína e trinta e seis por cento de gordura. Daqui a uns dias vamos usar a mesma técnica, e uma cesta básica alimentará durante um ano uma família de dez pessoas. O segredo é reciclar. Você está preso! Posso pagar minha fiança com fezes? Claro. Há uma fila de gente esperando sua doação. Doe para a creche. Ela precisa da sua contribuição. Os mendigos vão andar com um saco. Dá para o senhor me ajudar com o seu material? Os assaltantes estarão à espreita. Mãos ao alto! Por favor, moço... Eu estou me cagando de medo. Não me mate! Então, continue cagando que escapa.

 

O bom de tudo isso é o nome científico que eles dão ao processo de bosta virar comida: “tirar os nutrientes dessa corrente e intencionalmente colocá-los em um reator microbiano para produzir alimentos". Só pelo nome já estou com água na boca. Deve ser muito gostoso. É motivo de orgulho para qualquer consumidor, como eu, comer algo produzido pela NASA. Eu não vejo a hora de saborear essa delícia. Minha querida namorada, vou levá-la para o melhor restaurante da cidade. Qual o prato que você quer? O feito em reator microbiano da NASA, responde a donzela, e complementa. Minhas amigas já provaram. Disseram que a pessoa  fica leve. Não engorda. Dá vontade de sair voando. Dá uma disposição, que só vendo, ou melhor, só comendo...

 

Os primeiros a degustarem a comida terão mais chances de povoarem Marte. Esse é o projeto. Afinal, levar comida para a estrela vermelha aumenta o gasto com combustível, inviabilizando a viagem. Vai ser bom demais! Não só para quem vai fixar residência em Marte, mas principalmente se forem passar o carnaval na praia. Não precisa levar a feira. Necessário se faz comer antes de viajarem. Não será permitido usar o sanitário dos postos de gasolina. Se o esfíncter estiver bem trabalhado e conseguir segurar até chegar ao reator microbiano, o café da manhã estará garantido. O ruim é que tem sempre alguém querendo, de última hora, um tira-gosto, e nem todo mundo está disposto a oferecer alimento a qualquer momento. Esse vai ser um bota-gosto. Ô mulher bonita! Dá para você ceder um pouco do seu bota-gosto?  Nós estamos com prisão de ventre, e acho que só vamos conseguir material para o almoço de amanhã. Pois não! Agora, não fale para meu namorado que ele é muito ciumento. Pode deixar! 




 

    

Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Natal/RN, 29/12/2020 – 16:06

showdemamulengos@gmail.com

84-99973-4114

 

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