NA MESMA ORAÇÃO
Como o ser humano é miserável.
Não digo isso com decepção. Não!
Penso nisso com certa fascinação.
Mas não se engane, somos miseráveis.
A mesma criatura pode ser fiel e cafajeste
na mesma oração, sem prejuízo à sintaxe,
nem à semântica, no máximo à religião.
Adoro os gestos de ciúme e inveja, são tão
primários, são como as pedras brutas
no Jardim do Éden.
Após uma vida inteira de dor e solidão, a mulher
segura um terço e a mão do marido no leito de morte e lhe diz:
fui seu porto, seu cais, mas você foi mar adentro, mesmo
sem saber nadar; descanse em paz.
Frieza e bondade na mesma oração.
Sem comprometer a oração.
Nelson Almeida. Natal, 22/11/20. 23:10.
DELÍRIOS ATEUS
Eu quero sentir o seu corpo
junto ao meu.
Adormecer.
Beijar seu colo e morder
os lábios seus.
Amanhecer.
O calor arrepia a pele nua.
Sem pudor, sem pecado
os corpos suam.
Dedos se entrelaçam, ouço
seu gemido.
Sua boca quente sopra em meus
ouvidos delírios ateus.
A nós.
A Deus.
Nelson Almeida. Natal, 23/11/20. 09:27.
NÃO SOU PERFEITO
Quero que você me traga.
Tudo aquilo que rejeito.
Tudo quanto eu detesto.
Finque faca no meu peito.
Diga que não fui honesto.
Descumpri os mandamentos.
Esqueci os juramentos.
Porque eu não sou perfeito.
Eu sou filho do pecado.
Fruto da maçã mordida.
Fui expulso sem poder
Ter direito a guarida.
Mas um dia há de haver
Lugar na Terra Prometida.
Para então de vez perecer.
Minha ação mais desmedida.
Nelson Almeida. Natal, 23/11/20. 11:11
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