Foto: Junior Dalberto pelas lentes de José de Castro,
no Espaço Moara.
CARTA A UM AMIGO QUE PARTIU
Querido amigo Junior Dalberto:
Sei que me escutas de onde estás. E sabes o quanto supliquei para que ficasses entre nós. Mas o Pai Criador de todas as coisas, decerto, tinha outros planos para você. Ele, creio, precisava de que você se sentasse ao lado Dele, entre as estrelas, para ficarem,
trocando histórias sobre a origem do Universo. De como Pipa Voada foi povoada por seres que vieram de outros Planetas. Como você mesmo, que já não era deste mundo. Você, autor de um “teatro mágico” precisava mesmo ir contracenar entre as estrelas mais belas. Espalhar essa arte maravilhosa que era tua, que fluía incessante da tua imaginação sempre alegre a pilheriar da vida, a perceber o lado tragicômico de tudo. Então, amigo, a grande serpente te levou. Aquela que morava ali no precipício de Pipa Voada Sobre Brancas Dunas. A serpente cruel, transmutada em vírus peçonhento. Foste, amigo, mas deixaste algo imperecível, que é a tua arte escrita. Teus infinitos e leves poemas, a tua “borderline”, sempre na fronteira entre o que é real e o que é imaginário, o que é sanidade e o que é loucura. O carcará sanguinolento também te queria levar. E voaste nas asas de todas as bestas-feras, domando-as com o teu dom de encantar plateias. Aqui, quando o cai pano, nós somos o público contrito, consternado, que entre lágrimas te aplaudimos. Vai, amigo. Tu és grande demais para caber neste estreito e mesquinho mundo de tantas vaidades cegas. Teu mundo é o vasto universo, onde habitam todos os que já vieram e também deixaram um rastro de glória, um rastro de luz que nós aqui, ainda mortais, seguimos, a pista das palavras que você e tantos outros nos legaram.
Somos herdeiros desse mesmo bichinho palavra que sempre te roeu por dentro. Também vivemos e nos encantamos através da força das palavras. Tu sabias que eras destinado a este fado de inventar a cada dia, sempre com encanto, com magia. O teu realismo fantástico que reinventou as Dunas Brancas, é o mesmo realismo mágico que criou Macondo, que inventou um incidente em Antares. Enfim, tudo foste para a tua Pasárgada, onde habitam todos os “bandeiras” da poesia. Saiba, amigo, que todos nós, leitores, escritores, poetas e amantes da dramaturgia, hoje, sentimo-nos um pouco órfãos da tua beleza, da tua fala bonita, dos teus gestos largos, da tua escrita mágica. Deixas uma enorme lacuna nas letras e em nossos corações. Farás falta em nossos saraus do Parque das Dunas, nos saraus do Espaço Moara, ao lado de toda essa grande família “essepeveana” potiguar. Fiz muitas fotos bonitas de voce, amigo. Já havia até separado para te encaminhar. E lembraremos de ti sempre com aquele carinho de irmão, que parecia ser o mais velho a nos contar sempre uma história divertida, com tua fala que nos hipnotizava. Como fizeste um dia, lá na casa de Ana Cláudia Trigueiro, numa reunião do nosso Candeeiro. E também Segue, amigo e irmão. Aqui ficarás em nossa lembrança e em nosso coração enquanto vida ainda tivermos, enquanto pulsar o nosso coração e enquanto tivermos a capacidade de seguir “escrevivendo” esta vida tão curta, tão efêmera, e, ao mesmo tempo, infinita em cada momento em que criamos algo. Vá em Paz, irmão. Velaremos por tua escrita e ela prosseguirá vida e mundo afora. Longe vai a Pipa firmemente atada ao fio da tua imaginação, a planar sem limite de voo. O infinito
é um lugar bonito de se habitar. E aí estás, pousado no trono de onde nos espias. E sei que sorris de tudo o que é pequeno. Pois grande sempre tu foste. E maior ainda agora tu és. Receba o meu abraço doído e longo já de saudade. Sabe, amigo, todos nós, um dia, iremos nos juntar a você para a gente contar umas lorotas, jogar conversa fora e improvisar um sarau entre as estrelas. Por favor, dê um abraço no meu patrono Leminiski. Troque umas alegrias e tristezas com a Cecília. Lembranças a Bandeira, Vinicius, Drummond, Pessoa, Quintana, Manoel de Barros, Bartolomeu Campos Queirós, Elias José… Ah, sim, entregue por todos nós uma violeta à Florbela. Um sorriso para Auta de Souza, para Myriam Coeli e diga à Zila que os poemas dela seguem arando o solo potiguar, e as açucenas estão a florescer devagar por entre o pascer dos bois. Ah, por favor, entregue o nosso abraço ao poeta Berilo Wanderley, ao Sanderson Negreiros, ao Newton Navarro, ao Dorian Gray, ao poeta Luís Carlos Guimarães, a todos os poetas e cronistas desta cidade, os que partiram. Enfim, estás em boa companhia. Saiba que tu também foste um cronista desta cidade, nas páginas do teu inesquecível romance. Estás aí e aqui junto a todos nós que te amamos. Segue em Paz. A nossa dor precisa se transformar em doce lembrança. No ventre da ostra és a nossa mais brilhante pérola. E folheio o teu Blattodea, releio a cena em que Isabel lê um versículo da Bíblia para o Gustavo:
“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte não temerei mal algum, porque tu estás comigo, a tua vara e o teu cajado me consolam.” Guardarei comigo tua escrita, a dedicatória que me fizeste no dia 01/12/2017: “Ao amigo poeta e escritorJosé de Castro, companheiro de tantas jornadas literárias...” Sim, amigo, prosseguiremos nas jornadas, sempre recordando os bons momentos que juntos desfrutamos. Alegria no coração pelo privilégio de termos sido contemporâneos. O pouco que juntos caminhamos para mim representou muito. Como escreveste na epígrafe desse mesmo Blattodea:
“O Universo é um poema em andamento.” Muitos poemas ainda serão escritos. E a jornada prossegue. Seguimos em frente, nós aqui na matéria pesada que ainda nos confrange. Tu, livre, leve, solto feito a Pipa Voada a bailar e a tanger os infinitos.
José de Castro.
Faleceu o meu querido amigo Alberto Barros da Rocha Júnior vítima dessa terrivel doença covid-19.
Potiguar.
Policial federal aposentado.
Escritor.
Dramaturgo.
Poeta.
Teve vários livros publicados: Pipa Voada Sobre Brancas Dunas; Cangaço e o Carcará Sanguinolento; Nefertiti - a Gata Egípcia; Bordeline; A Barca de Caronte; O Velório da Marquesa di Fátimo, dentre outros.
Foi Diretor do Sindicato dos Policiais Federais no Rio Grande do Norte.
Um dos realizadores do exitoso "Projeto Federais Solidários" que levava palestras sobre o combate à corrupção, drogas, crimes cibernéticos, o amor à leitura com distribuição gratuita de livros aos alunos da rede estadual de ensino por diversas cidades do Rio Grande do Norte.
Barros um ser humano útil à sociedade.
Faz muita falta.
Um dia triste.
Descanse em paz, dileto amigo.
Natal, 27.10.2020.
Sérgio Pinheiro.
Ainda não estou acreditando que a Covid também te levou, amigo Junior Dalberto. Como viveremos sem sua alegria e carinho? Sem suas maravilhosas aventuras contadas em encontros literários inesquecíveis? O chão sumiu. Eu tinha toda a esperança do mundo de que você sairia do hospital. O RN perde um dos seus maiores escritores! Eu perdi um amigo cuja solidariedade e atenção farão muita falta. Você foi um dos que pegou na minha mão enquanto eu ainda vacilava na insegurança de me afirmar escritora. Muito obrigada! Quanto vazio sua presença iluminada vai deixar.
É com muito pesar que a SPVA/RN faz esse comunicado:
O nosso amado poeta Júnior Junior Dalberto nos deixou. Foi com sua Infinita Leveza flutuar como sua Pipa Voada...
ENCANTOU-SE !!!
Seu riso, seus poemas, suas contribuições serão guardadas conosco e continuarão viajando pelas escolas, cidade e mundo a fora, bem como seus personagens e sua poética marcante. A literatura potiguar sofre uma grande perda.
Vai amigo, vai contar outras histórias, enquanto descansas no seio de Abraão. 😭
Nossos sentimentos de conforto a todos os familiares, seu companheiro Robson, amigos e a nós mesmos, seus companheiros de travessia poética.
Direção da SPVA/RN
Comecei o dia hoje com a notícia da partida do amigo Junior Dalberto escritor, poeta, dramaturgo, militante cultural, policial federal aposentado e, acima de tudo, um ser humano dos melhores. Tantos bons momentos e tantas imagens registradas que foi até difícil escolher só quatro fotos para ilustrar esse texto-desabafo-despedida. E lembrar que poucos dias antes de ser internado falamos sobre um projeto cultural - e ele me remeteu o material para este projeto, que sairá em dezembro - e combinamos um vinho e bate papo "quando tudo isso passar". A obra e os bons momentos esses não passarão. E hoje na PNTV homenageamos o amigo veiculando uma das últimas entrevistas que tive o prazer de fazer com ele, em agosto de 2019 (veja aqui https://www.youtube.com/watch?v=XaWaSo9F2q0&feature=youtu.be ), onde como sempre destilou seu bom humor e sua alegria de viver. Vá em paz, amigo. Fará muita falta aqui.
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